As pessoas mais bonitas são aquelas que se aceitam.
Eu cresci longe do tipo padrão, no tocante à aparência física e a comportamentos que se esperam de um menino. Quando você não joga bola, já perde vários momentos da infância dita comum.
No clube, na escola, em festas, onde fosse, meus colegas arranjavam um campinho e uma bola para brincarem, enquanto eu ficava lá fora olhando. Eu penso demais, desde aquela época, tanto que estou refletindo sobre uma criança não jogar bola.
A verdade é que, por não gostar de futebol, eu tive que preencher esse vazio de alguma forma. Além de ler muito, eu criava narrativas com meus bonecos, ou com cabos de vassoura que viravam atores de meus enredos infantis. Eu também desenhava (mal) quadrinhos que se perderam em cadernos de escola. E eu achava que era pouco aceito por conta disso.
Digo achava, porque não é uma certeza, é o que eu achava. E então eu passo a acolher e a aceitar aquele menino gordinho e estranho que amava o Muppet Show e seu pinscher querido.
Eu fico bastante tempo lá no passado, porque isso me ajuda muito no meu processo de amadurecimento.
A gente precisa dialogar com nosso eu de ontem, sempre, para poder entendê-lo e perdoá-lo.
Sem essa conversa comigo mesmo, eu não poderia avançar com mais leveza. A gente precisa se livrar de pesos inúteis, porque a gente merece novas chances de recomeçar e de ser feliz. E não tem como receber o novo, sem a gente se libertar do que já passou, já foi, já era.
Hoje, eu já consigo perdoar quem eu era, quem eu fui e não sou mais. Hoje, eu já consigo entender os porquês de meus comportamentos, de minhas decisões.
Eu consolo aquelas lágrimas que derramei, eu conforto aquele meu coração que eu machuquei, eu me abraço em tudo o que eu fiz.
Hoje, eu já consigo me aceitar por inteiro, porque eu gosto do que vejo em mim. Ainda existem arestas, sempre haverá, mas eu tento melhorar cada vez mais.
O melhor conselho que eu posso dar a uma pessoa é que ela se aceite. As pessoas mais bonitas são aquelas que se aceitam.
Elas brilham, porque disparam sorrisos verdadeiros. É aquela beleza natural, aquela alegria que contagia. É aquela companhia que conforta. Quem se sente bem consigo mesmo não azucrina a vida de ninguém. Melhores pessoas.
*DA REDAÇÃO RH. Foto de Taisiia Stupak na Unsplash.
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