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Às vezes, dá uma tristeza dentro do peito, e não é tão fácil superar

Às vezes, dá uma tristeza dentro do peito, e não é tão fácil superar.

Nunca tive problemas por ser sensível, nunca me senti fraco. A sensibilidade requer uma força absurda.

Tem dias em que eu acordo com medo. Algo parece em descompasso lá fora e dentro de mim. Então eu oro. Eu me lembro de tudo de bom que já tenho por perto. Então eu agradeço. Porque eu sei que Deus estará comigo, nos dias de sol e nas tempestades que virão. Fé.

Mas não é fácil. Eu leio, reflito, compreendo os momentos da vida, mas, de repente, do nada, sinto angústia, tristeza, desesperança.

Talvez muito venha desse tanto que leio e penso o tempo todo.

Observo bastante a vida, as pessoas, e nem sempre acabo me deparando com cenas boas.

Tem muita gente puxando tapete, jogando afeto no lixo, destilando ódio gratuito, machucando os outros sem titubear.

Meu pai sempre me dizia que eu era muito sensível e é isso. Desde criança, eu abraço a sensibilidade.

Minhas lágrimas são fáceis. Deslizam por gente, por bicho, pelo sofrimento que é meu e pelo que não é.

Nunca tive problemas com isso, nunca me senti fraco.

A sensibilidade requer uma força absurda. Requer sair de si mesmo, entender a dor que não é sua, perceber os próprios erros. E isso não é para qualquer um.

Sempre tive bichos. A primeira morte que me doeu e avassalou foi a de meu pinscher Pimpolho. Eu tinha dez anos e me lembro de mergulhar na dor de uma maneira nada infantil.

Eu ouvia música e me lembrava dele. Eu subia no quintal e me lembrava dele. E chorava. Daí meu pai trazia outro cachorrinho, sempre que um morria, de tanto que eu sofria.

Desde criança, nunca fugi do sofrimento.

Isso não quer dizer que devemos buscar a tristeza, mas aceitar que ela será nossa companheira inevitável, em muitos momentos de nossa vida.

O que importa é a forma como lidaremos com isso.

Eu sempre deixei o sofrimento entrar, mas com tempo de estada marcado. Ele sempre teve que sair, nem que na marra.

Eu não luto contra a dor, mas também não permito que ela encoste por muito tempo. E acho que isso tem me ajudado a não ser tomado pela tristeza de forma contínua.

Sempre tem alguma coisa que poderá nos ajudar a enxergar essa luz que brilha aqui dentro.

Sempre tem o que e quem nos salva. Eu toco piano, leio, escrevo. Terapias. Eu tenho minha família. Amor. Eu sei o quanto eu lutei para chegar onde estou, quase inteiro. História.

Tudo isso vai me reerguendo, quando vem a vida e me derruba, quando vem a angústia e me escureço.

A gente precisa saber com certeza quais e quem são nossas pílulas de força e de perseverança.

Quais são os motivos para que a gente continue. Isso salva.

A vida é assim, um sobe e desce contínuo, uma saraivada de golpes de dureza e de ternura. E eu sempre faço questão de sorver as lembranças ternas, as memórias afetivas, as canções, os livros, os filmes, as festas, os retornos, os abraços, as curas, a esperança, para que fiquem em mim, prontas para me ajudar a combater a dor e a tristeza, quando elas teimarem em me acompanhar.

Preencher-me de amor, o máximo que puder.

É assim que eu continuo.

*Foto de Katie Drazdauskaite no Unsplash

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Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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