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Às vezes o silêncio do outro também quer dizer algo.

Vocês se conhecem e sem pretensão alguma vocês começam a conversar. Ele te pergunta sobre as músicas que você mais gosta de ouvir, sobre os lugares que ama frequentar e os planos que você carrega consigo. Você fica surpresa ao perceber que os gostos são parecidos e isso te trás um leve sorriso de canto. Ele te diz que precisa te encontrar novamente e então vocês marcam uma saída para a próxima semana. Vocês se reencontram e não sabem como agir ao estar frente a frente um do outro. Ele te encara como se quisesse te pedir pra te tocar, você fica sem graça e não sabe o que dizer. Vocês se empolgam na conversa sobre os seus planos, sobre ser independente, sobre a rotina e a maneira que vocês encaram a vida, sobre as relações antigas e as situações parecidas que vocês tiveram que superar.

Vocês conversam sobre as pessoas escrotas que cruzaram o caminho e que fizeram vocês ter um certo receio de se envolver. Falam sobre sentimentos, concordam que não vale a pena ter medo de mergulhar em outras pessoas só porque alguém te machucou. As horas passam tão rápido que vocês se surpreendem ao saber que o relógio já marcava quase 23h. Vocês voltam pra casa com um pouco do outro em mente. Você volta tentando acreditar que apesar de tantas coisas em comum e do outro parecer alguém tão foda, você não quer se envolver nesse momento. Você repete pra si mesma que é só um lance, é só mais um alguém que você permitiu conhecer e que logo logo vai embora. Você não quer se acostumar com a presença e por isso prefere pensar que se o outro quiser ir amanhã, vai ficar tudo bem. É que já foram tantas pessoas que te fizeram mergulhar e te deixaram só, foram tantos que abriram a vida pra você entrar, te usaram como um brinquedo e depois te descartaram quando as tuas peças não funcionaram mais, que agora você prefere não pensar na permanência.

Até que inevitavelmente as expectativas vão surgindo aos poucos.

Você não queria se acostumar, mas acaba se acostumando com a maneira que ele te trata, parece ser diferente de todos os outros. Você dorme desejando que ele fique bem, acorda esperando uma mensagem, e lá está, uma notificação puxando mais um assunto e parecendo querer te conhecer cada vez mais. Até que chega um momento que você diz pra si mesma: então tá, vou ver no que vai dar. Vocês saem juntos, e a cada encontro parece acontecer algo único. Você volta pra casa se sentindo mais leve e com tantos detalhes em mente que te fazem mergulhar ainda mais no outro. Ele te conta sobre tudo o que você proporcionou, te agradece pela sensação de leveza que ele sentiu ao estar do teu lado e você passa horas conversando sobre a intensidade que ele te fez sentir, sobre o mar imenso que ele parece ser.

Essa imensidão sempre te deu um medo danado, mas agora parece tudo tão mais claro e mesmo que não tenha pretensão de continuar, sentir a profundidade dele te deixa mais tranquila. Afinal de contas, são poucas as pessoas profundas, encontrar uma por aí é sorte. Vocês marcam uma viagem juntos, tudo parece estar indo bem até que o outro, subitamente se afasta de você. E então te trata com indiferença, mas não te diz claramente que precisa ir embora. Os assuntos em comum vão aos poucos sumindo, mas o outro não consegue ter coragem de te dizer quando está pulando fora. E então você se culpa pela falta de clareza do outro, você começa a pensar que algo de errado tem em você, quando na verdade, às vezes não existe absolutamente nada de errado com você.

Você tenta buscar respostas que justificam a fuga, mas às vezes as respostas estão bem na nossa frente. O silêncio ou o afastamento do outro também quer dizer algo. Eles te dizem: ”você é um pouco demais pra mim”, ”eu não estou no momento agora”, ”você não merece alguém como eu”, ”o problema não é você, sou eu”, tudo isso pra justificar uma despedida que poderia muito bem não acontecer se eles tivessem ido embora antes de você se envolver, ou que poderia ser esclarecida se tivessem sido, de fato, sinceros e transparentes com você em vez de te tratar com indiferença e achar que você tem a obrigação de entender os sinais da desistência.

Iandê Albuquerque

Sou recifense, 24 anos, apaixonado por cafés, seriados e filmes, mas amo cervejas e novelas se houver um bom motivo pra isso. Além de escrever em meu blog pessoal e por aqui, escrevo também no blog da Isabela Freitas, sou colunista do Superela e lancei o meu primeiro livro em Novembro de 2014 pela Editora Penalux. .

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