Nascemos e vivemos de pretensões: ser, estar, poder, realizar, ter, acumular e manter. Cada um em seus caminhos mas todos sob princípios similares. E a vida é esse mistério definido por escolhas, onde temos certezas quando vivenciamos mas pairam dúvidas do que poderia ter sido se tivéssemos seguido outro trilho ou andado sob trilho nenhum. Podemos especular mas certezas se mantêm incertas.

Em meio à lutas e repousos da existência, somos agraciados por conquistas, frustrados por falhas, inibidos por hesitações, traídos por incertezas e derrotados pelo medo. Quando conquistamos abrimos as pétalas da felicidade, geralmente na sua versão “passageira”. Uma versão vencida pelo tempo, como prova de que nossa satisfação é temporária e nem tudo o que obtemos é o que necessitamos.

Quantas vezes não demos graças a Deus por não termos conseguido algo que tanto desejávamos. Imagine se Deus não criasse o descompasso entre o desejo e a realização? Se não existisse a irritante demora entre o querer e o ter? Provavelmente conseguíssemos tudo o que sonhamos mas isso certamente incluiria o inapropriado. E quantas vezes foi uma sorte danada termos perdido algo que acreditávamos que fosse vital, entretanto o relógio provou-nos que não?

Apesar das respostas divinas propositadamente demoradas, acumulamos coisas em nós que deveriam ter sido largadas, coisas que não nos pertencem, que não nos fazem bem, que são uma carga excessiva, difíceis de gerir e que tornam nossa vida menos leve. É importante criar desapego à certas coisas e simplesmente deixá-las ir. Essa pode ser a saída para criarmos espaço para que coisas melhores e que realmente necessitamos entrem em nossa vida.

resilienciamag.com - AS VEZES A SOLUÇÃO É DEIXAR IR

Sabe, aquela pessoa que te fez muito mal e que gostavas de dar o troco a medida certa: deixa ir. Não se ligue a ela por esses sentimentos ruins. O ódio, o rancor e a vingança são um tipo de carência de amor que produzem tanto veneno, mas tanto veneno, que acaba transbordando e sendo engolido maioritariamente por ti próprio, destruindo-te por dentro e por fora.

Sabe, aquele par de sapatos que amas muito mas que já está tão velho, que não dá mais para calçar: deixa ir. Abra espaço para apreciares as vitrines da vida e amar outro par lindo de sapatos. Assim viverás de amor e não de saudade.

Sabe aquele moço lindo, que te cria frio na barriga, que alimenta teus sonhos mas que nunca se deixa ser real em tua vida: deixa ir. Acredite que o teu anjo está por vir. Algumas vezes Deus não nos dá o que tanto queremos porque ele sabe o que é melhor para nós. Mil vezes alimentar a esperança de um dia encontrar o príncipe encantado do que a expectativa de ter aquele príncipe que não te tem como a encantadora.

Sabe, aquele carro que pára ao meio da estrada, que não sai do mecânico, que rouba inesperadamente os teus centavos: deixa ir. Abra espaço na garagem, para que o preenchas com um carro melhor. Aceita viver uma etapa a caminhar com os teus próprios pés.

Sabe, aquele imóvel que não consegues manter, que te tira o sono, que lutas noite e dia para conseguir mas parece não haver solução: deixa ir. Vá para uma casinha a tua medida e faça dela o teu castelo. É muito difícil mas às vezes o luxo está dentro de nós e não no tamanho das paredes, no número de quartos desocupados, nos móveis empoeirados por falta de uso, na garagem abandonada, no vício da ostentação. Às vezes a felicidade está na simplicidade.

Deixar ir não é perder a coragem de lutar pelo que queremos, tão pouco é parar de sonhar. Deixar ir é simplesmente largar o que não se encaixa em nós. Deixar ir é abrir caminho para que algo novo alcance nossa vida. Deixar ir é ter consciência de que nem tudo o que se quer é o que realmente se precisa.