Sim, líquidas! Igual a água em temperatura ambiente, as pessoas líquidas são aquelas que têm a alma livre e o coração sereno. São aquelas que fluem como a correnteza de um rio rumo à imensidão do mar e que são suaves como a brisa das montanhas, que percorrem os vales fazendo a relva dançar. As pessoas líquidas não têm forma definida, encaixam-se num abraço doce, enroscam-se com facilidade e deixam o vento soprar.
Ahhh… as pessoas líquidas… que a vida sempre me presenteie com essa liquidez sem forma, sem embalagem e livre de pacotes. Que eu consiga mergulhar em todos aqueles que valem a pena, que possuem correntezas fortes e remansos tranquilos. Que os líquidos se encontrem, se misturem e deixem um no outro um pouco do seu sabor, do seu aroma e da sua cor.
Eu quero brindar a liquidez bela das gargalhadas de uma tarde de quinta-feira, quero desfrutar a presença dos líquidos que mudam de opinião, dos que não têm medo de assumir quem são, dos que se expõem mesmo com medo, mas que mesmo assim se expõem inteiros! Esses são os líquidos, os que são oceanos, corredeiras e correntezas.
Que me desculpem os duros de alma e secos do coração, mas liquidez é essencial. É ela que mesmo nas quedas permite que a vida se torne bela, por que água que cai vira cachoeira ganhando força e energia para seguir em frente. Só quem é líquido é leve e é a leveza que nos permite ir até a Lua, explorar suas crateras. É a leveza que faz o pão de ló crescer, as plumas flutuarem e os parapentes planarem.
Só os que são fluídos se balançam sem medo de se misturar, porque no fundo sabem que mistura entre líquidos é sempre boa, é sempre fluida. Experimente misturar água com pedregulhos… não adianta, não mistura, não flui. O que flui é a água sozinha que vai enquanto a pedra fica.
Que me desculpem os sólidos, mas liquidez é primordial! Só os que são líquidos são acompanhados de fluxo, só eles entram no flow da vida e no ritmo da dança. Só os leves de coração e líquidos de alma nos fazem dar gargalhadas antes de dormir, falar até a voz acabar, explorar o interior de cavernas profundas e respirar o frescor do mar que sopra no amanhecer quente de fevereiro.
Ah, Bauman, me desculpe a arrogância, a prepotência e a falta de humildade, mas a vida me ensinou que relacionamento bom é relacionamento líquido. Aquele sincero que se renova a cada dia, aquele que não é obrigado a nada, que não aprisiona. Relacionamento que eu quero pra mim é aquele leve, que pode acabar quando os dois não mais quiserem se misturar. Relacionamento líquido é aquele vivido entre seres líquidos que se misturam e que ao se separarem não são mais iguais porque cada um leva consigo uma parte do outro e ambos continuam inteiros, continuam completos.
Eu quero me relacionar com líquidos que não precisam de garrafas, que são despidos de embalagem e que têm a capacidade total e real de se desnudar por completo. Quero viver e conviver com os que são destituídos de rótulos, que são livres do peso das roupas, das máscaras, fantasias e alegorias. Por que na verdade só os que são líquidos sabem quem são de verdade. São esses que abandonam seu peso extra, suas mochilas pesadas repletas de expectativas alheias. Quero comigo aqueles que não pagam excesso de bagagem, quero os que viajam livres sem arrastar correntes, sem lamentar partidas. Quero os que olham pra frente.
E o que eu quero também na vida é nadar, chover, molhar. Quero me banhar nas falas bonitas dos líquidos que usam bem as palavras, me deixar ser levada pela melodia fluida das flautas, quero estar no orvalho na grama, na chuva que rega os canaviais, no rio que se transforma em cachoeira e na cachoeira que chega até o mar.
Ah, Bauman, é com esses que eu quero me relacionar. Quero conhecer os fluídos e suas temperaturas, quero navegar pelas corredeiras e descer todas as cachoeiras até encontrar minha enseada preferida até que um dia, talvez, caso assim queira a vida, seja a hora de mudar.
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