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Carta aberta aos sentimentos

Queridos sentimentos,

Eu sei, as coisas não estão fáceis para ninguém. Nem para vocês. Aliás, acho bem difícil que as coisas tenham estados fáceis para vocês em algum momento da história. Mas acredito que hoje, particularmente, vocês estejam com problemas.

As pessoas não querem sentir vocês e isso é triste. Eu falo de tristeza, como um sentimento, porque eu não me encaixo no padrão de “não sentidores”. Felizmente. Ou infelizmente, não sei, parece que ando na contramão do padrão vigente.

Mas ainda assim prefiro ficar com vocês. Deve ser porque sou meio vintage e sei que, no final, é isso que nos sobra. Quando vamos embora do planeta não levaremos o carro, os diplomas, as crianças. Não levaremos o dinheiro que levantamos, nem o título no livro. Não levaremos nada de material. Mas levaremos a alegria de entrar no carro novo.

Levaremos a realização do diploma ou o sorriso das crianças. Levaremos a felicidade de usar o nosso dinheiro para o bem, para nos fazer felizes com nossos prazeres ou dos outros. Levaremos a satisfação de ter sido o escritor daquele livro.

Mas parece que ninguém anda entendendo isso muito bem. Todos têm medo de vocês e esse medo anda levantando muros e barreiras tão imensas quanto a grande muralha da China. Sim, eu sei que vocês são assustadores. Principalmente aqueles de vocês que são considerados ruins e que foram devidamente banidos da nossa sociedade. Os sentimentos de culpa, tristeza, frustração. Aqueles que juramos que jamais passaríamos novamente, lembram? Aqueles que mascaramos com medicamentos e programas de TV.

E eu quero dizer que eu sei, queridos amigos, que não tem nada de errado com vocês. Eu sei que vocês são legais, e servem para nos fazer entender que precisamos mudar algumas coisas, que precisamos aceitar outras. Se tem uma coisa que os sentimentos fazem é nos levar, sempre, para o nosso melhor. Vou fazer uma campanha em prol de vocês, queridos sentimentos. Vamos sentir, pessoal? Vamos sair da cabeça, do ego e sentir? Angústia, medo, dor? Vamos perder o medo de pedir ajudar, pedir um colo? Vamos perder o medo de conversar sobre eles, os sentimentos? Por que temos tanto tempo para tanta bobagem e tão pouco para o que sentimos? Por que falamos tanto sobre futebol, BBB, Encontro, fofoca das celebridades e não paramos para entender o que sentimos?

Contra o banimento dos sentimentos que trazem dores. Contra não sentirmos nada ou fingirmos muito bem isso. Contra ser um ser humano cheio de cabeça e zero de coração. Mesmo a dor de sentir é válida e foi colocada lá para algum propósito. Vamos aceitar, que doí
menos?

Andrea Pavlovitsch

Terapeuta porque adora ajudar as pessoas a se entenderem. Escritora pelo mesmo motivo. Apaixonada por moda, dança, canto, fotografia e toda forma de arte. Adora pão de queijo e café com leite e não pretende mudar o mundo, mas, quem sabe, uma pequena parte da visão que temos dele. Espaço Terapêutico Andrea Pavlovitsch Av Dr. Eduardo Cothing, 2448A Vila Formosa - São Paulo - SP +55 (11) 3530 4856 +55 (11) 9.9343 9985 (Whatsapp) contato@andreapavlovitsch.com

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