Comportamento e Psicologia

Como fazer o amor durar mais: 3 segredos com base científica

Vamos aprender sobre três erros, e também três formas de corrigi-los, para que você possa ter um relacionamento feliz e afetuoso.

Muitas vezes, em nome de preservar um ideal romântico, as pessoas cometem violências terríveis, que se estendem por uma vida inteira.

O desejo de querer que a relação dure, como um sinal de sucesso, por exemplo, é uma dessas formas de violentar a si mesmo e ao outro. As pessoas são capazes de passar anos juntas só pela narrativa, para poder florear algo que só traz sofrimento.

Mas também existe um outro lado. É possível usar a relação e tudo o que surge dentro dela como plataforma de transformação. Você pode aproveitar que não há muito como se esconder, dada a intimidade e exposição, para lidar de frente com tudo o que surge: ciúmes, apego, inveja, raiva, carência. E também pode se tornar cada vez mais capaz de ouvir e agir em benefício do outro.

Quando visto dessa forma, pode ser que, sim, a relação seja positiva e valha a pena esforçar-se para manter um vínculo mais duradouro.

Recomendo a leitura abaixo dessa forma, com um olhar crítico sobre a própria ideia de prolongar a relação. Não como uma ferramenta para atender a um ideal romântico, mas como um meio de se tornar alguém melhor e beneficiar ao outro e a si mesmo naquela dinâmica.

Claro, vale lembrar. Eventualmente, não importa o que você faça, a relação pode, sim, chegar ao fim. E tudo bem.

Como fazer o amor durar mais, por Erik Barker

No começo de um relacionamento tudo é fantástico. Porém, muitas vezes ele mais adiante começa a murchar…

As coisas que você costumava adorar na pessoa começam a incomodar. Ela parece não ouvir você. Não parece interessada em saber suas necessidades. A coisa não parece mais ser recíproca.

E qual é o problema aqui? Todos querem saber como fazer o amor durar.

Aaron Beck é um dos pesos-pesados da psicologia, e ele tem uma perspectiva muito interessante sobre porque as coisas algumas vezes não dão certo nos relacionamentos.

Todo mundo fala em sentimentos, mas o que Beck diz ser crucial é também aprender os erros que as pessoas cometem em termos de seus pensamentos no que diz respeito ao amor. E não, não é só o pensamento de seu parceiro ou parceira – o seu também.

Vamos então aprender sobre esses erros, e também três formas de corrigi-los, para que você possa ter um relacionamento feliz e afetuoso.

Onde podemos começar? Bem, pode parecer muito pouco científico, mas a primeira coisa sobre que precisamos falar é leitura de mentes…

Você é um terrível leitor de mentes

Beck diz que um de seus problemas principais é que você é um terrível leitor da mente alheia – mas infelizmente isso não o impede de seguir tentando o tempo todo:

“Ela está tão quieta. Deve estar braba comigo.”

“Ele não tirou o lixo. Não deve me amar.”

Pode haver zilhões de razões pelas quais as pessoas fazem o que fazem. Mas acreditamos saber a resposta. E essa resposta é geralmente negativa. E geralmente estamos errados. E é assim que muitos problemas de relacionamento começam.

Quando as expectativas elevadas do cônjuge se veem ameaçadas, ele parte imediatamente para conclusões negativas sobre o estado mental do parceiro, e para o estado do casamento. Confiando no que não passa de leitura de mentes, o cônjuge desiludido segue para conclusões terríveis sobre a causa do problema: “ela está agindo desse jeito porque é uma mulher louca” ou “ele age desse jeito porque está cheio de ressentimento.” …Interpretar a motivação de um parceiro dessa forma é muito perigoso, o fato é que não podemos ler a mente dos outros.

Já se perguntou por que os bêbados se metem em tantas brigas? A ciência mostra que o álcool aumenta a crença de que os outros agiram intencionalmente. Alguém esbarrou em você? Não foi um erro inofensivo, foi desrespeito.

E muitas vezes agimos como bêbados em nossos relacionamentos. Presumimos que erros benignos sejam enormes sinais de que o outro não nos ama.

Nunca realmente sabemos o estado mental – as atitudes, pensamentos e sentimentos – dos outros. Dependemos de indicativos muitas vezes ambíguos para nos informar quanto às atitudes e desejos dos outros. Usamos nosso próprio código interno para decifrá-los, e ele pode ser um código defeituoso. Dependendo de nosso próprio estado mental numa dada situação, podemos estar cheios de vieses em nossos métodos de interpretar o comportamento dos outros. O grau de nossa crença em estarmos corretos ao adivinhar os motivos do outro não está relacionado à efetiva precisão de nossa crença.

Bem, alguns podem reclamar “Mas já estou com essa pessoa há muito tempo. Eu realmente já sei como ela é.”

Em alguns casos você provavelmente está certo, mas quanto mais íntimo um relacionamento, mais provavelmente haverá mal-entendidos.

Em relacionamentos longos ou mais próximos somos menos flexíveis com nosso sistema interno de decifrar o outro do que em situações mais impessoais. De fato quanto mais intenso um relacionamento, mais fácil haver mal-entendidos. E ainda mais do que em qualquer outro laço íntimo, o casamento apresenta oportunidades contínuas para lermos os sinais do outro de forma equivocada.

Então agora você já sabe que não é leitor de mentes, mas o que realmente está se passando de tão errado aqui? Que tipos de erros no seu pensamento levaram a isso? Aqui há três pequenos diabinhos que precisamos encarar …

1) O tipo errado de viés

Seu relacionamento pode ter depressão clínica. Sim, relacionamentos têm problemas psicológicos, do mesmo tipo que as pessoas têm.

Quando os indivíduos pensam negativamente e assumem o pior, isso é chamado depressão. E quando você faz isso num relacionamento, acaba tendo o mesmo tipo de consequências negativas.

Casais com problemas muitas vezes reagem um com o outro como se fossem eles que têm a desordem psicológica. Seu pensamento sobre o cônjuge revela vieses como os que vemos em pessoas com ansiedade e depressão. Para eles, suas crenças são reais, suas mentes são abertas e sem vieses. Na verdade, suas mentes estão fechadas e eles têm uma perspectiva determinada e equivocada no que diz respeito ao parceiro.

Logo que nos apaixonamos, o outro não poderia errar nem se quisesse. E isso é tão bom. E na verdade é uma perspectiva bastante saudável.

Mas muitas vezes esse viés positivo muda. A qualidade de “pessoa leve e solta” que você adorava tanto agora passou a ser descrita como “instabilidade”. O comportamento não mudou muito, mas sim sua interpretação.

O poder de ver as coisas de forma negativa foi demonstrado em muitos estudos. O que principalmente distingue casamentos com problemas de casamentos satisfatórios não é tanto a ausência ou presença de experiências agradáveis, mas a ausência ou presença desse tipo de interpretação. As melhorias que os casais encontram no aconselhamento estão mais acompanhadas por uma redução em eventos desagradáveis do que num aumento de eventos agradáveis. A felicidade parece ser mais fácil quando diminuem as experiências e interpretações negativas.

Quando nossa leitura mental assume o positivo, como nas primeiras fases de um romance, isso é bom. Mas quando mudamos de perspectiva e passamos a assumir o negativo, as coisas dão errado.

Então os óculos cor-de-rosa podem ajudar. E qual é o outro grande problema com a leitura da mente? Trata-se de uma coisa que você já fez, ou que já fizeram com você, e que realmente estraga tudo.

2) Regras tácitas

Tenho uma lista de regras. Mas não vou revelar quais são. Se você as violar, posso ficar bravo por causa disso. E também, mesmo que eu não revele a você quais são as regras, não conhecê-las é uma violação, e posso ficar bravo por causa disso também.

Não soa nem um pouco justo, certo? Mas o fazemos o tempo todo. Temos coisas que esperamos, mas que nunca deixamos claras.

E sei que alguns de vocês devem estar pensando: “Mas ____ realmente deveria ser óbvio. A pessoa tem que saber algo assim. E eu não deveria precisar dizer.”

“Deveria” é uma palavra bem problemática. Você está dizendo que o universo precisa se curvar a sua vontade. Tente usar a palavra “deveria” com o clima e depois me diga como funcionou.

O que é óbvio para você nem sempre é óbvio para os outros. Temos interpretações muito distintas das mesmas coisas. É muito melhor deixar as coisas bem claras do que presumir que suas necessidades são óbvias e que o outro é inerentemente mau.

A presunção de que nossas expectativas são universais leva a outro problema. Um dos dois vai acabar acreditando que o outro deve saber o que ele ou ela quer sem que seja perguntado(a). Essa expectativa de que o parceiro seja paranormal é muitas vezes encontrada em casamentos com problemas.

Você não é bom o bastante na leitura de mentes, e, da mesma forma, você não pode esperar que o outro seja também um bom leitor da sua mente. Então regras tácitas são uma ideia bem ruim.

O terceiro problema responde uma questão que esta nos incomodando há muito tempo: “Porque será que meu parceiro fica algumas vezes com raiva das coisas mais ridículas?” Há uma resposta …

3) Sentidos simbólicos

Você se atrasou e seu parceiro acabou explodindo de raiva. Ahn? Desde quando se atrasar merece pena de morte?

Mas é que para ele ou ela, atrasado significa: “Você não se importa comigo.”

E, da mesma forma, “Não fizemos amor ontem à noite” significa “você não quer que eu seja feliz”, e “você não tirou o lixo” significa “seu demônio malévolo em forma humana!”

Todos nós ligamos sentidos simbólicos a certas ações. Muitas vezes falhamos ao expressar a importância desses pequenos atos, e ainda assim esperamos que o outro saiba bem quanto são importantes para nós.

Devido a todos os sentidos simbólicos ligados a nossos fracassos comuns, tais como nos atrasar, um cônjuge pode dar muita importância e significado ao atraso do outro: “Algo pode ter acontecido com ela” ou “Se ele se importasse com meus sentimentos, ele seria pontual.”

Em qualquer momento em que você liga um forte sentido simbólico a algo muito inócuo sem revelar isso a seu parceiro, você está esperando que ele leia sua mente. E isso, como já sabemos, causa problemas.

Soluções

Certo, agora já vimos como ser um mau leitor de mentes e esperar que os outros leiam mentes pode levar a problemas.

Como corrigimos isso? Aqui apresento três passos …

1) Jogue “encontre os deveria”

Você precisa descobrir as regras tácitas, os sentidos simbólicos e todos esses “deverias” terríveis e não expressos que você tem com relação a seu parceiro.

Preste atenção em si mesmo quando ficar com raiva ou ansioso. Qual é o “deveria” que você está esperando do parceiro e que não está obtendo? Que regras tácitas você está presumindo como óbvias, e que não são nada óbvias?

E se você reconhecer que essas expectativas são irracionais, adivinha? Você precisa mudar essas coisas.

Os problemas que casais encontram geralmente não vêm tanto de comportamentos reais, mas principalmente da raiva com relação a essas “regras” não cumpridas.

A maior parte da raiva nos casamentos com problemas vem de tais regras não cumpridas, e não de ações objetivamente ruins da parte de um dos cônjuges.

Certo, então você pensou em todos os “deverias”, nas regras tácitas e nos sentidos simbólicos, e agora?

2) Expresse suas necessidades (e pergunte pelas do outro)

Converse com seu parceiro sobre as expectativas. Mas mais do que falar das suas expectativas, você quer saber quais são as expectativas que ele tem com relação a você.

Você precisa ver bem essa leitura mental. Você se surpreenderá com quão errado você tem estado quanto a algumas coisas.

Os cônjuges devem checar suas leituras mentais, seja perguntando diretamente, ou observando ainda mais as ações do parceiro. Muitas vezes vamos descobrir que nossas leituras mentais estão incorretas. Ao mostrar que nossas interpretações de leitura mental estão incorretas, há outro ganho, a saber, eles podem corrigir suas interpretações e entender melhor o cônjuge – como que “reprogramar o computador”. Essa técnica ajuda a entender com mais precisão o que o parceiro está mesmo pensando e sentindo, de forma que seu relacionamento seja mais harmonioso.

Como você sabe quando realmente consegue entender o parceiro? Se você é capaz de explicar para ele como ele se sente e o que precisa, e ele concorda, então vocês se entendem.

E não só isso indica que vocês se entendem, isso deixa claro que se entendem – o que é quase tão importante.

Para confirmar que você entende a natureza exata das preocupações de seu parceiro, dê feedback a ele, explicando o que parece ser a essência de suas reclamações. E depois de esclarecer, faça novamente um resumo das reclamações, para determinar se você as entendeu bem.

O especialista em relacionamentos John Gottman fala na importância de desenhar um “mapa do amor” – conhecer tão bem o parceiro que você é capaz de mapear suas necessidade e saber o que ele pensa. E isso é algo que ele viu vez após vez nos casais mais felizes.

Então, qual é a dica final? Está na hora de recolocar aqueles óculos cor-de-rosa…

3) Corrija seu viés

Não aja como um bêbado e assuma que qualquer coisa que acontece com você é baseada na intenção malévola de alguém. Assuma que seu parceiro quer o melhor para você, a não ser que o oposto esteja absolutamente claro. E, mesmo nesse caso, pergunte.

Na próxima vez que você assumir o pior, tente focar sua perspectiva em outro ângulo, explorando outras razões que ele poderia ter para fazer o que fez.

Em vez de assumir, “Ele gritou comigo porque não me ama” talvez seja hora de pensar “Ela fez aquilo porque está sofrendo. Como posso ajudá-la?”

Outra coisa boa a fazer é começar a perceber todas as coisas boas que a pessoa faz, em vez de se fixar nas ruins. Cada vez que seu parceiro fizer algo pelo qual você se sente grato, anote isso. Isso é semelhante a um dos métodos mais eficazes para se ficar mais feliz.

Certo, já cobrimos um bocado de material. Vamos resumir tudo para tornar mais fácil de lembrar como colocar tudo isso em prática…

Resumo

E aqui vão as dicas para fazer o amor durar:

Você é um terrível leitor de mentes: Pare de tentar presumir que sabe o motivo para o outro fazer o que fez. Você não sabe. Quer uma resposta? Pergunte.

Óculos cor-de-rosa são bons: Se você tentar ler mentes, assuma o melhor. Se não for o caso, porque enfim você está com essa pessoa?

Não tenha regras implícitas: O outro também não é capaz de ler mentes. Pare de pensar “é óbvio”. Se fosse óbvio, você não teria esse problema.

Sentidos simbólicos confundem as pessoas: Para você “se atrasar” significa “você não me ama”. Para o outro “se atrasar” significa “se atrasar”. Esclareça sua interpretação ou o outro pensará que você ficou louco.

Você não é uma má pessoa. E o outro também não. Muitas vezes é só um problema de comunicação. Portanto, lide com os problemas como se assim fossem.

O segredo daquele amor desmedido é muitas vezes apenas os tais óculos cor-de-rosa: acreditar que seu parceiro é o melhor e que quer o melhor para você. Como J.D. Salinger certa vez disse:

Sou meio que o inverso de um paranoico. Suspeito que as pessoas estão conspirando para me fazer feliz.

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