Comportamento e Psicologia

Consequências psicológicas do desemprego

O desemprego tem uma face ainda mais amarga do que parece: a invisibilidade e o estigma daqueles que sofrem com ele. Isso é agravado pelo silêncio cúmplice de muitos profissionais de saúde mental, que contemplam suas consequências claras. Cada vez mais as pessoas desempregadas precisam de atenção psicológica e psiquiátrica.

Mesmo que o caminho ainda seja árduo, são muitas as vozes que se lançam a denunciar essa situação, pois isso não pode ser completamente resolvido se não existir uma consciência real sobre a magnitude do que acontece. Não é pessimismo vitimista: o desemprego prolongado e as más condições de trabalho podem chegar a ser letais para a saúde.

Um estudo do BMC, um jornal britânico, demonstra que o desemprego a longo prazo causa transtornos mentais e o trabalho precário multiplica as doenças somáticas, em linha direta com o sofrimento de altos níveis de estresse (uma das principais causas de depressão). O médico francês Michael Debout publicou recentemente “Traumatisme du chomage” (O traumatismo do desemprego), um livro no qual explica como resistir aos efeitos indesejáveis da situação de inatividade trabalhista.

Diante da impossibilidade e da impotência das autoridades sanitárias para frear essa situação, caberia ter em conta algumas observações desde o plano psicológico. Todas elas podem ajudá-lo a entender que seus sentimentos de frustração são mais frequentes do que parecem e que procurar a ajuda de um profissional não é “coisa de louco”.

Conhecendo o que já aconteceu anteriormente, seremos mais conscientes e tolerantes com respeito aos nossos sentimentos e tomaremos, com mais perspectivas, as seguintes observações a respeito da nossa situação de desemprego atual.

O desemprego pode impactar sua realidade, mas não suas aspirações

Realizar um trabalho para o qual você está sobre-qualificado é uma realidade compartilhada por muitos jovens da geração atual. Assim, por exemplo, algumas filiais da engenharia ou de arquitetura veem suas oportunidades trabalhistas dinamitadas em certos lugares.

Essa situação faz com que as pessoas tenham que desempenhar um trabalho muito menos qualificado por mera sobrevivência, descuidando do aperfeiçoamento de sua profissão. Quando isso acontece, é bom observar uma perspectiva: permita-se realizar um trabalho que garanta sua sobrevivência, mas não aniquile seus sonhos.

Embora com maior esforço, o importante para a realização pessoal é não perder de vista seus valores e objetivos, apesar de combinar essas metas com trabalhos menos qualificados. Parece óbvio, mas perder a perspectiva fará com que você perca seus limites de vista e o impedirá de ser consciente e saber se você continuará navegando em direção a um porto ou se você vai continuar sem rumo.

Abandone a culpa sem fundamento

Jogar com a culpa é uma das estratégias mais potentes de controle por parte daqueles com pouca moral, que buscam impô-la aos demais brincando com seus sentimentos. Essa manipulação acontece desde o âmbito privado até o âmbito público.

Um dos motivos mais frequentes atualmente em terapia faz alusão a este fato. Pessoas honradas, trabalhadoras e responsáveis que arrastam um enorme sentimento de culpa por conta da difícil situação que atravessam. Elas se sentem vítimas, mas também culpadas, e a ambiguidade, às vezes, se torna insuportável.

Assumir uma responsabilidade com respeito a sua situação é útil, mas assumir toda a culpa quando ela não corresponde a você é demolidor.

Faça parte de um coletivo

Pode-se lutar individualmente, mas a verdade é que, diante da quantidade de pessoas na mesma situação, relacionar-se com um grupo é uma boa opção. O ideal é se apoiar em pessoas que compartilham tempo e interesses.

Existem metas trabalhistas elevadas, o que às vezes determina toda uma vida longe do conformismo. Evite pessoas que estreitem sua visão de campo de trabalho: elas acabam por reduzir, também, o restante das suas visões.

Relacionar-se com um grupo na mesma situação de desemprego, mas em formação contínua, pode aumentar não só as probabilidades de sucesso, mas também a autoestima e a motivação para a mudança. Também deve-se entender que o egoísmo, às vezes, é um ato de generosidade com os demais: não podemos perder tempo, e não podemos fazer com que os demais o percam.

Condicionado pela idade?

Nós mesmos somos nossos piores inimigos com respeito a preconceitos e rótulos limitantes. Se olharmos para trás e virmos o que aprendemos até agora, teremos impulso. Se pensarmos em tudo o que ainda falta para percorrer e no quão inalcançável nosso objetivo parece ser, ficaremos paralisados.

Às vezes o medo é tão grande que procuramos uma desculpa suficientemente boa para não nos comprometermos, por medo do “fracasso”, pela avaliação e pressão social sobre tudo o que realizamos. Se continuarmos tomando como perspectiva o futuro e a avaliação que os demais fazem de nós mesmos, ficaremos parados. Nós não avançaremos nem retrocederemos; dessa forma, é preciso decidir se queremos continuar em ponto morto até cairmos do precipício.

Uma regra de ouro: Não se preocupe, ocupe-se

Ocupe-se mais em mudar sua situação, de forma urgente, sem muito tempo de espera. Faça de tal forma com que os espaços de tempo para a reflexão diária estejam espaçados e sejam, ao mesmo tempo, os mais curtos possíveis. O desemprego costuma aumentar a instabilidade de pessoas neuróticas.

A preguiça é um dos maiores motivos para não encontrar emprego e, pelo menos isso, depende de você… Tudo é suscetível a um treinamento, um trabalho também.

Não dê muita margem de manobra ao tempo, ele costuma trair os períodos de espera e, em especial, de tensão emocional. Mesmo que você não possa trabalhar, treine para um determinado emprego de tal forma que os empregadores não apenas achem que você está qualificado, mas que está pronto e preparado para uma rotina diária e competitiva.

Resiliência Humana

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