O amor suporta cada uma! O tempo, a mágoa, a miséria, a distância, a doença. Até à morte ele resiste. Aguenta firme qualquer tranco. Pode com quase tudo. Poucas coisas o derrubam e sufocam. Gente chata é a primeira delas.
Incrível, mas nada é mais tóxico e daninho ao sentimento amoroso que uma pessoa enfadonha, tediosa, dona da verdade. Por mais saudável e exuberante que seja, todo amor cai doente e desenganado sob o olhar mesquinho de um amante grudento, enciumado e mandão.
Traição e deslealdade ferem o amor de morte. Mas o perdão é um milagroso remédio. Aplicado na dose exata por mãos generosas, faz efeito certo. Agora, contra gente estreita e tediosa, nem o perdão dá jeito. O amor definha e sucumbe sem mais.
Mandões e mandonas que perambulam por aí, berrando que “amor de verdade não acaba”, ordenando sua vontade egoísta feito matracas engasgadas, sequer fazem ideia do número de romances que eles mesmos já mandaram às cucuias. Deles e dos outros, porque a chatice é contagiosa e letal. Temerosos de responder-lhes “e daí se o amor não durar para sempre, ô criatura chata?”, simplesmente vamos embora e deixamos o monstro crescer livre, chateando mundo afora.
Gente chata no amor tem de todo jeito. Os que grudam e os que prendem, os que chantageiam e dramatizam, os engraçadinhos demais e os desprovidos de humor, os que sabem tudo, os sociopatas afeitos em isolar o ser amado do convívio de antigos amigos, os que adoram um papel de vítima, os que falam demais, os que falam de menos, os que imitam voz de bebê e os piores: os infantiloides incapazes de aceitar que o mundo não gira em torno de seus umbigos.
Esses, quando obrigados a encarar a realidade, são capazes de tudo. Inclusive de matar e de morrer. Nesse caso, o que morre não é só o amor. Cada vez mais, morre também quem ousa desobedecer à convicção de um ser insistente, autoritário e convencido de que a única verdade é a sua. Acredite. Gente chata é um perigo maior do que qualquer um imagina.