Muitos de nós somos confidentes e amigos de quem fala mal dos outros, como se algum poder divino lhes tivesse outorgado essa autoridade. Não o fazem de uma forma que poderíamos chamar de “casual”, mas para eles a hipocrisia é um recurso corriqueiro na comunicação, que serve de forma indireta para reforçar seus valores procurando a cumplicidade do outro naquilo que criticam.
Este estímulo funciona por oposição: se o outro concorda comigo na minha critica, também estará concordando com o que defendo, com o que considero que sou. Assim, este hábito é próprio de mentes inseguras, que com palavras sobre os outros procuram espantar fantasmas.
Além disso, as pessoas com este costume não falam de forma geral ou aludindo a detalhes irrelevantes. Contam intimidades, julgam e narram histórias que foram reveladas por acaso ou descuido, mas que não deixam de pertencer à intimidade de alguém e, portanto, a um lugar no qual ninguém deveria entrar sem o consentimento do outro.
Como detectar a hipocrisia no nosso entorno
Não é raro achar que no nosso próprio círculo de amigos não exista ninguém a nos criticar. Se pensássemos o contrário, não os teríamos como amigos. Com certas exceções, obviamente, porque há quem goste do masoquismo também nesse sentido. Adoram que falem deles, mesmo que seja mal e com más intenções.
Agora, o normal é que não nos sintamos muito felizes quando percebemos que alguém nos usa de saco de pancadas pelas costas. Ainda mais se for alguém em quem temos confiança e com quem compartilhamos uma certa intimidade. Isto acontece muito com os casais, nos quais um dos dois, para desabafar com seus amigos ou amigas, não raramente coloca o outro para “sangrar”.
“A coisa mais ofensiva que o seu pior inimigo pode jogar no seu rosto não se compara com o que seus amigos mais íntimos falam de você pelas costas.”
-Alfred de Musset-
Considerando isso, assumindo que todos somos humanos, é muito radical afirmar que todo aquele que fala mal dos outros em algum momento é um hipócrita.
Se não tivéssemos um amigo fiel, um apoio sincero para nos ajudar a suportar, esses momentos ruins seriam duplamente amargos. Portanto, cada um de nós pode comentar alguma coisa negativa das pessoas que nos rodeiam com alguém que consideramos digno da nossa confiança.
Contar para uma pessoa coisas que acontecem com outras não é hipocrisia, poderíamos dizer que cumpre uma função vital no ser humano. No entanto, obviamente existem certas linhas vermelhas que podem nos dar dicas de que começamos a viver em um ambiente de hipocrisia.
A hipocrisia delata a si mesma se você souber distinguir seus detalhes
Toda queixa sobre o comportamento dos outros precisa passar por uma série de fases. Não são regulamentares, mas são éticas. Se alguém faz alguma coisa que me irrita ou incomoda, em primeiro lugar é bom procurar solucionar esse assunto com a própria pessoa.
Se, em vez de tentar solucionar o problema de forma direta, começamos a relatar os erros da pessoa que nos causa esse mal-estar com outras pessoas do nosso entorno compartilhado, começamos a desenhar as linhas vermelhas do que chamamos de hipocrisia.
Contar para várias pessoas do seu entorno quão mal você se sente com certo alguém e na sequência agir como se nada tivesse acontecido em uma reunião social não resolve a situação. Muito pelo contrário, você contamina aos outros e a si mesmo.
Pode acontecer várias vezes, mas se isso se transforma na tônica geral, pense que você está adquirindo um mau hábito para reduzir a sua frustração. Se você perceber esse mau hábito em alguém do seu entorno, pode ser a hora de ficar alerta, o que não significa ficar na defensiva.
Quando quem ‘fala mal’ passa a fazer uma verdadeira maldade
Falamos que existem finas linhas vermelhas para detectar a hipocrisia, que às vezes é sutil e difícil de assumir. Contudo, em outras ocasiões começa a haver um traço tão evidente nos outros que já não é suficiente estar alerta. É hora de deixar de ser inocente, por mais difícil que seja, por mais que doa.
Por mais que custe a acreditar, falar mal dos outros vende. Dá liga, dá jogo. Existem pessoas que, em função dos seus déficits em verdadeiras habilidades sociais, usam conversas sobre a vida dos outros para atrair e conseguir a atenção do resto.
Mentiras totalmente elaboradas, rumores infundados, detalhes íntimos contados em uma mesa de bar sem o menor decoro. Já não existem linhas vermelhas, os limites já foram desenhados: descobrimos que não se trata apenas de hipocrisia. Essa pessoa, que consideramos um amigo, começa a falar de outras pessoas do nosso entorno de uma forma verdadeiramente ruim, sem mostrar o menor grau de arrependimento.
Essa pessoa começa a mostrar seu lado mais obscuro para com os outros, mas nos negamos a pensar que isso possa acontecer conosco. Até que percebemos que ela fala com verdadeira maldade, diante de um público atento, de uma pessoa que guarda a mesma relação de confiança que a que você compartilha com ela. Já passou a hora de ser vigilante: afaste-se dessa pessoa.
Rodear-se de pessoas autênticas é a recompensa por não praticar a hipocrisia
Ninguém vai premiá-lo por tentar se desfazer da hipocrisia do seu entorno. Ninguém vai condecorá-lo com uma medalha por não entrar no jogo sujo que alguém lhe apresenta em bandeja de prata. Muito pelo contrário, você ainda corre o risco de perder contato com certos conhecidos, você será presa da dúvida e muitos julgarão a sua atitude.
Colocar limite nos relacionamentos com pessoas totalmente tóxicas, que não apenas praticam a hipocrisia, mas que também ferem quando podem e querem, é difícil, ainda mais quando essa pessoa fez parte da sua intimidade. Não é coincidência que nos maus-tratos psicológicos aquele que se afasta nunca seja o vencedor.
O mais conveniente nesses casos, pela própria saúde emocional, é não entrar em um jogo ainda mais sujo: não tente desvendar aos outros a hipocrisia do outro, cada um precisa ser suficientemente responsável para tirar a “venda dos olhos” com autonomia e independência. Você já teve suficiente.
No fim das contas, viver sem estar rodeado de hipocrisia tem uma recompensa implícita em si mesma: você viverá mais rodeado do oposto. Haverá pessoas sadias com corações limpos ao seu redor e você terá muito mais espaço para elas. Com o tempo, a ira desaparecerá e até um sentimento de certa compaixão tomará conta de você. Você terá passado o luto da cólera para chegar à mais absoluta das indiferenças.
Você terá aprendido uma grande lição: é preciso tomar cuidado com quem fala mal e prejudica os outros pelas costas. Logo você poderia ter estado com esse mesmo punhal nas costas, sem saber quem fez você sangrar.
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