Não me lembro como começaram, não foram influenciadas por fontes exteriores e nem nunca as questionei. Elas simplesmente faziam parte do meu mundo interior e sentia Jesus como o amiguinho invisível que tantas crianças relatam pois como não tinha tido a catequese normal não fazia ideia da história da vida do Mestre contada pela religião nem sequer tinha noção da sua “popularidade”.
Aliás sempre que eventos especiais me levavam até uma igreja arrepiava-me sempre com a imagem daquele ser na cruz, em sofrimento a escorrer sangue pela cabeça pois não era de todo assim que eu o imaginava dentro de mim…
O “meu” Jesus era e é doce, sorridente, com sentido de humor e era com ele que eu em pequena já conversava, tratava por tu, chorava, assim como era a ele que eu pedia o que mais queria e agradecia o que me chegava.
Um dia mais tarde, já no ambiente da escola católica por volta dos 12 anos, fazem-me uma pergunta bem desconfortável que mais tarde e mais atenta comecei a perceber que é afinal mais comum do que imaginava;
“És temente a Deus?”
Aquela pergunta não fazia sentido nenhum!
Temente vinha de temer, temer vinha de medo e logo não fazia sentido colocar essas duas palavras na mesma frase.
Será que me estavam a perguntar se eu tinha medo de Deus?
E porque é que eu haveria de ter medo do “meu Deus” de quem eu parecia ter apenas memórias internas de amor e bem estar personificadas na imagem do amoroso Jesus.
Mas facto é que conforme o tempo foi passando, as aparentes injustiças que sempre atraímos começavam a deixar dúvidas se realmente Deus era apenas o bem e o amor…
O que pedia nem sempre aparecia e nem sempre havia muito para agradecer principalmente quando as coisas não eram fáceis ou corriam bem pois eu não tinha uma filosofia / teoria / crença ou sequer explicação que explicasse e fundamentasse aqueles acontecimentos aparentemente injustos e caóticos.
Consequentemente as emoções de frustração, revolta, medo geradas por esses eventos não eram aceites ou integradas e como tal eram reprimidas e abafadas criando a respectiva densidade.
Ninguém me apresentara ainda a teoria das vidas passadas…
Fui percebendo e sentindo que embora numa escola católica, ali não se falava com Deus como amigo, não se celebrava Deus como fonte de amor, não nos ensinavam a confiar naquele “Ser” como justo, correcto e amoroso.
Antes pelo contrário, as religiosas viviam vidas de sacrifício, renuncia, contenção e em muitas sentia muita frustração. Toda uma postura que não conseguia imaginar Deus nenhum a exigir isso de ninguém.
O ambiente geral era austero, cheio de regras e exigência de comportamentos perfeitos. As idas à capela nos dias da confissão eram feitas em gélido silêncio e sentidas como a apresentação a um tribunal da idade média (ai as memórias!). Tudo porque algures, naquela escola, dentro daquela escura capela, parecia viver um Deus irado capaz de ameaçar e amedrontar qualquer um de nós, alunos e professores caso não mantivéssemos aquela postura fria, austera e “temente” a esse implacável Deus.
Aos poucos conforme fui crescendo, a certeza que tinha do meu Deus de amor ficou infectada de dúvidas, memórias daquele tempo escolar, confusão de onde afinal está a linha que divide o Deus castigador do Deus do Amor Incondicional.
Era um facto que por vezes eu era alvo de bênçãos maravilhosas, outras o que eu tanto pedia e considerava essencial para a minha felicidade teimava em não chegar…
Será que eu estava errada quanto ao meu Deus??
Será que aquelas religiosas sabiam mais do que eu para o temer tanto??
No meio do meu dilema religioso-existencial, mantinha as minhas conversas com o meu amiguinho invisível, Jesus. Como se aquela personagem se mantivesse fora do meu drama e me fosse dando pistas de como e onde eu iria desembrulhar aquele nó interno.
Foi só bastante mais tarde, fruto da minha inconformidade com conceitos de Deuses castigadores e incapaz de me considerar “temente” a Deus, fiel à busca por uma resposta que me tranquilizasse, que a vida me abre finalmente a porta para a Espiritualidade.
Finalmente uma ideia, conceito ou filosofia que incluía tudo o que eu procurava e sempre acreditara dentro de mim sobre Deus e que respondia às mais básicas questões que se mantinham em aberto:
– Deus é amor incondicional. O medo é a prova de fé a superar.
– Deus não está “lá em cima” como as religiosas afirmavam e muito menos na representação de um Papa. Cada um de nós é uma extensão de Deus, somos mini-Deuses eternos vivendo vidas umas atrás das outras experimentando a evolução na matéria em busca da Unidade na dualidade.
– Deus não se personifica. Deus é o equilíbrio do positivo e negativo, das energias Yin e Yang como nos dizem os antigos Mestres Taoístas. (eu como escorpião tinha bem noção das minhas sombras e enquanto que a espiritualidade as aceita e integra, na escola elas tinham que ser escondidas)
– Deus manifesta-se não por regras mas por Leis Sagradas. Lei do equilíbrio como vimos acima, na Lei da atracção. Tudo o que saiu, sai e sairá de nós a nós voltará. E em muitas outras.
– Nós somos responsáveis por todas essas energias que emanamos. Quando não as aceitamos de volta, mantemos o Karma negativo, quando as aceitamos e transmutamos, libertamo-nos delas e acedemos ao Dharma.
– Deus não castiga pois castigo não existe. Antes pelo contrário, todo o movimento cósmico é sempre a favor do nosso equilíbrio e da nossa abundância. O que impede esse equilíbrio e abundância de se manifestarem são os nossos apegos, resistência, medos e ignorância quanto a ao processo evolutivo.
– Deus não exige aterrorizadas confissões dos pecados. Pede sim que tomemos consciência de onde, com quem e como perdemos o equilíbrio e que façamos algo para o restabelecer. A Lei do Karma trará as condições perfeitas para que o façamos.
– Deus não pede que nos portemos bem, pede que encontremos o equilíbrio nas energias Yin e Yang.
– Deus não pede para sermos discretos, humildes e submissos temendo seja quem for. Deus pede que sejamos autênticos, originais e positivos capazes de levar alegria ao mundo.
– Deus nunca nos pediu votos de pobreza ou castidade. Precisa sim que nos valorizemos, que sejamos felizes pois só assim poderemos servir de referência e farol para quem ainda está preso na escuridão.
Tenho bem noção do salto quântico que o meu espírito deu na vida presente na libertação de padrões doentios e castradores do passado e por isso estou grata à vida por esta porta aberta. Mas bem consciente de que a escadaria não acaba e que provavelmente vista de longe estarei algures no meio da mesma com muitos degraus para subir.
Mas importante mesmo não é o degrau mas sim a consciência do mesmo.
E para termos consciência do degrau onde estamos teremos que, tal como eu fiz, analisar os degraus do passado e ver de onde viemos, onde estamos e onde gostaríamos de estar. Como afinal estavam a trazer-nos lições valiosas, fechos de umas portas e aberturas de outras.
O meu GRANDE degrau seguinte visualizo-o como a Fé total e respectiva ausência de dúvida, medo ou insegurança. A capacidade ‘permanente’ de sorrir para os desafios com a total consciência de que são testes, harmonizando assim o meu eu inferior com o meu eu superior. Nada fácil se considerarmos a verdade nua e crua do estado real das nossas energias e das nossas emoções…mas lá chegaremos.
Por mais que todos gostemos hoje de afirmar que já “confiamos” neste Deus espiritual de amor incondicional, o que tenho observado tanto na minha experiência como na observação de outros é que a nossa mente já tem hoje informação suficiente para escolher confiar e ajustar-se a uma nova filosofia mais aberta e mais espiritual. No entanto, o nosso campo emocional ainda está impregnado das energias dos últimos 2 mil anos e por ser emocional é mais lento a ajustar-se.. basta formar-se um cenário mais tenso e provocador que logo logo nos apanharemos a reagir..
E tu? Já tens noção do teu percurso religioso-espiritual?
Como era a ligação ao Divino da mãe e do pai?
Como vias Deus em criança? Como vez hoje e o que aconteceu para mudares?
Estás confortável hoje com a maneira como lidas com o “teu” Deus?
O meu anseio é que não nos conformemos com versões baixas, condicionadas, negativas e limitadoras de Deus. Continuemos sempre em busca, que afinal é eterna, pela mais elevada versão de Deus que a nossa consciência consegue conceber e iremos perceber como umas portas vão sempre abrir outras novas até que um dia possamos experienciar aqui na terra o verdadeiro amor incondicional e caminhar como verdadeiros Deuses que somos.
A religião ensina que Deus é amor.
A Espiritualidade ensina que Deus é amor em tudo e em todos.
Se já percebeste a diferença, ótimo!
Se não, sai em busca dela…
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