A preguiça sempre me acompanhou, sinto que é um mal do qual nunca me curarei. Eu sofro de preguiça aguda desde muito nova, mas percebi que foi se agravando a cada dia e agora não sai mais de mim.
Eu descobri que ficava com preguiça ao me forçar a lidar com coisas das quais sempre fugi. São vários os sintomas. Eu sinto tédio ao lidar, por exemplo, com gente muito cheia de si. Até tento disfarçar, mas não consigo não sentir preguiça de gente superficial e, quando dou por mim, eu me vejo bocejando com assuntos banais e me espreguiçando ao ouvir bobagens que sem nenhuma relevância para mim.
Se eu disfarço? Ah, sim! Mas nem sempre é eficaz, porque meus olhos dão espasmos escandalosos em protesto. Eles entregam toda tortura e sufoco maçante que sinto ao lidar com pessoas que me colocam em situações assim.
De quem é a culpa? Eu não tenho culpa, eu culpo meu cérebro, eu culpo minha alma, eu culpo meu coração, que não sabe ser fake.
Eu só sei que não sinto nada, além de preguiça, ao lidar com gente rasa, fútil, falsa, que não se preocupa com mais nada além de se vangloriar.
Eu até me arriscaria a nadar no fundo, mergulhar num papo fluido, mas essas pessoas se afogariam, pois só aprenderam a nadar no raso, e eu não sei ensinar o nado a quem não deseja nadar num nível mais profundo para aprender a se salvar.
Eu tenho sentido muita preguiça de levantar da minha cama, de ir para a ducha, de me perfumar para a dança em encontros que dançam só no concreto ou na grama, enquanto a cidade das estrelas me aguarda ansiosa para bailar a dança dos que sonham em dividir sonhos secretamente ensaiados na virada da esquina que está logo ali.
Eu não me visto casualmente. Não, eu me visto para uma festa, porque cada dia deveria ser celebrado, é praticamente um aniversário, mas eu logo desanimo, porque parece que ninguém mais comemora a vida em si. E isso me causa imensa preguiça.
Eu sinto preguiça de quem se mascara, porque eu só sei olhar, com os olhos bem abertos, para que quem se sentar à minha frente veja a imensidão de planos, desejos, pensamentos que carrego dentro de mim.
Eu sinto preguiça, pois eu demoro para me arrumar vestida do meu melhor sorriso, com a alegria própria de uma infante, cuja única pretensão é somente ganhar na volta para casa um sorriso igualmente sincero para si.
Eu tenho preguiça de gente passageira, que não sabe cultivar a amizade de quem um dia foi companhia no caminhar por aí, entre as ruas.
Essa gente que quase me arranca o ar de tantos bocejos que me fazem expirar, que me sufocam e depois desejam me tragar. Mas aí eu já desfaleci de preguiça.
A preguiça de esperar alguém que veio ao mundo disposto a ser verdade num mundo cada vez mais disposto a fingir.
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