“Crie corvos e eles lhe arrancarão os olhos”, diz o ditado popular que quer dizer que muitas vezes agimos de forma bem intencionada e somos pagos com ingratidão. Este mesmo ditado pode ser aplicado para a educação das crianças sem limites. Há muitas perguntas e dúvidas que aparecem quando precisamos educar os filhos, diferentes emoções surgem durante esse processo, especialmente quando precisamos definir os limites. É comum que muitos pais tenham dúvidas e podem até se sentir “maus pais” quando tomam decisões para estabelecer normas e diretrizes para as crianças.
Durante a difícil tarefa de educar uma pessoa, aparecem muitas dúvidas. Será que estou agindo corretamente? Será que esta é a melhor opção? Por que, apesar de estar convencido de que esta decisão é correta, eu me sinto como se não fosse?
Para responder a tantas perguntas que surgem contamos com muitos artigos, livros e informações sobre a educação dos filhos. Basta ir a uma livraria ou pesquisar na internet e você encontrará muitas dicas que nem sempre são coerentes e acertadas.
O que é e o que não é “um limite”
Muitas pessoas associam a palavra limite a algo negativo e acreditam que definir limites envolve não levar em conta as opiniões da criança. No entanto, este conceito está longe de outros como gritar, irritar ou ignorar, e se aproxima mais do conceito de estruturar, regular e ensinar. Definir um limite não implica levantar a voz, ficar com raiva ou desrespeitar o outro.
Educar supõe dizer “não” aos pedidos que não podem ou não devem ser realizados e ensinar a criança que, às vezes, precisamos esperar para conseguir o que desejamos. Também envolve a colocação de consequências para comportamentos que devem ser corrigidos e ser coerente com as decisões tomadas.
Não é necessário que os pais levantem a voz, fiquem com raiva ou ameacem constantemente os seus filhos. A mensagem pode ser transmitida com calma, de forma clara e sem muitas repetições. Nunca faça ameaças que não vai cumprir.
“Papai, me compra o bolo da Peppa Pig?”
Imagine que está em um supermercado e a sua filha quer comprar o bolo da Peppa Pig. Não é o momento ou a ocasião para comprar o bolo e você diz não. Diante da sua resposta, sua filha insiste, começa a chorar e espernear no chão. Neste ponto você começa a sentir vergonha, porque as pessoas começam a olhar para você. Isto causa muita irritação e para acabar de vez com a birra e para que o show não continue você compra o bolo para a sua filha. Ela fica feliz com seu bolo, se cala, você deixa de sentir vergonha e a compra pode continuar tranquilamente.
Neste exemplo, podemos perceber que quando os pais cedem ficam aliviados porque a filha parou de chorar, já não sentem vergonha e a raiva acabou. No entanto, ela aprendeu que utilizando as birras pode obter o que deseja.
Embora pareça que naquele momento o problema esteja sob controle, se isto se tornar habitual, as birras podem aumentar e se tornar um comportamento padrão para a criança alcançar o que deseja.
Patterson e a sua armadilha do reforço negativo
A teoria de coerção de Patterson e sua armadilha do reforço negativo explicam muito bem o exemplo anterior e como é menos dispendioso e mais fácil para os pais ceder diante dos pedidos inapropriados das crianças. No entanto, a longo prazo, o custo será muito maior porque os comportamentos inadequados serão reproduzidos em um ritmo exponencial.
Diante de uma conduta imprópria, como um acesso de raiva, agressões ou ameaças, os pais cedem e os dois lados “se sentem bem”: os pais conseguem fazer a criança parar de chorar e deixar de incomodar enquanto ela consegue o que quer.
A armadilha do reforço negativo de Patterson explica como os pais, ao cederem diante de uma birra, obtêm alívio porque ela cessa, enquanto a criança consegue o que deseja. Dessa forma, aumenta a probabilidade de que com o passar do tempo as birras sejam mais frequentes.
A curto prazo, parece que ambos os lados acabam ganhando, mas as consequências a longo prazo podem não ser tão agradáveis. A criança aprenderá a manipular o adulto através destes comportamentos e os usará com mais regularidade. Por outro lado, os pais não conseguirão controlar o comportamento da criança a não ser que lhe deem o que ela pede.
As consequências de educar crianças sem limites
As pessoas que não aprenderam a ter limites normalmente têm uma baixa tolerância à frustração, dificuldade de controlar as suas emoções e não conseguem cumprir as normas e as obrigações. São manipuladoras e fazem com que o outro se sinta mal para atingir os seus objetivos.
A impertinência, a exigência de privilégios, a falta de perseverança e esforço, a impaciência, pouca colaboração, problemas de comportamento, agressividade ou mesmo a destruição de objetos são alguns dos problemas que a falta de limites pode ocasionar.
Nos transtornos comportamentais que são caracterizados por um desafio constante e pela quebra das regras, é comum encontrar uma educação sem limites onde é a criança quem ordena, comanda e decide.
Se você não educar, quem educará?
A psicóloga Teresa Rosillo disse recentemente em uma entrevista: “nos esquecemos de dizer às crianças que são os pais quem mandam”. Há muitas famílias onde quem tem a última palavra é a criança e os adultos precisam ajustar os seus planos e a sua rotina às exigências e caprichos do filho.
Uma das principais tarefas dos pais é educar para que a criança possa se autorregular. No entanto, para que a criança possa regular a si mesma, é preciso que tenha sido regulada antes pelos pais ou responsáveis.
São os pais, e não outras entidades ou pessoas, que têm o dever e a obrigação de educar os seus filhos. É preciso ouvir, ensinar-lhes o que é certo e errado, dizer “agora não”, “já falamos sobre isso” ou “terá que esperar”. Muitas vezes é preciso frustrá-los e ensiná-los a superar esse sentimento. A educação não é uma tarefa fácil, mas se os pais não assumirem esse papel, quem o fará?
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