Ela carregava em seu coração a certeza de que havia o superado. Que aquele sorriso bobo que ele dava quando ficava sem jeito, aquela sua fala que exalava mansidão e calmaria, aquele seu abraço que parecia caber todo o universo dela, aquelas conversas que ela conseguia ter apenas com ele, e tantas outras coisas mais, haviam sido totalmente superadas. Ela acreditava que não tinha como se sentir desconcertada quando ficava á sós com ele, que não havia mais nenhum resquício daquele sentimento e que não conseguiria mais se imaginar ao lado dele o resto da vida. E foi justamente por isso que ela se manteve afastada por tanto tempo, pois ela estava segura de que quanto mais longe estivesse, mais fácil seria se acostumar a estar sem ele e que logo não faria diferença tê-lo em seus círculos sociais ou não.

Mas ela acabou de perceber que havia construído um castelo de areia e havia se escondido nele nos últimos meses, porém a onda veio e o derrubou. E como se não bastasse o desmoronamento, a onda ainda a arrastou para o meio do mar e ela se viu á deriva, perdida no meio de tanta água salgada que eram de suas próprias lágrimas, e novamente nadando na superfície do mesmo sentimento que alimentou meses antes. Ou pelo menos era um sentimento parecido, quase um irmão gêmeo daquilo que sentiu por ele. Pois na outra vez ela não conseguia refletir sobre o que estava sentindo, não conseguia ver o que estava fazendo, para onde estava indo e nem pensar com clareza se teriam futuro ou não. Ela apenas queria estar ali ao lado dele, o ouvindo, rindo, compartilhando segredos que nunca antes haviam contado a alguém. Queria estar naquele lugar onde apenas ela e ele importavam, e onde ela se sentia tão bem.

Entretanto, ela não percebeu a tempo como não dariam certo se realmente tentassem algo e isso foi o que mais a machucou, pois ela não se deu conta da realidade no meio de um quase amor que começou intenso. Mas depois que percebeu o que estava fazendo e que havia se precipitado em muitos pontos, se viu envergonhada e foi esse um dos maiores motivos que a fez se afastar de vez. Ela queria fugir da vergonha de ter se jogado de um precipício sem fazer ideia de quem estaria lá embaixo para segura-la. Logo ela que sempre foi tão dona de si acabou perdendo o controle de seu próprio coração e se deixando levar por algo que a arrebatou quase que instantaneamente. Ela achou que havia errado demais, que sendo uma moça tão responsável, metódica e sábia, agiu como menina imatura que não faz ideia do que a vida é feita.

E ela não se perdoou por muito tempo. Ficava se culpando, se afligindo com pensamentos ruins e acusatórios só porque deixou que seu coração sentisse algo intenso por alguém. Só por se permitir quase viver um relacionamento que ela havia sonhado em ter um dia. Por isso, ela lutou ferozmente para superar qualquer traço de paixão ou quase amor. Ela deu a si mesma a missão de esquecê-lo o mais rápido possível, de parar de se importar com ele, de não mais perguntar como ele estava e não mais puxar assuntos sobre coisas profundas. Ela só queria não se ver mais como a menina boba que entrega o coração para o primeiro que dá um pouco de atenção, respeito e carinho. Ela queria ter sido mais “difícil”, mais firme, dizendo mais “nãos”. Desse modo, ela fez tudo que estava ao seu alcance para deixa-lo em seu passado e seguir em frente como se nunca tivesse o conhecido.

Foi então que ele reapareceu em sua vida. A rotina dos dois se cruzou outra vez e ela passou a vê-lo novamente todos os dias. Porém, eles pareciam dois estranhos que queriam evitar um ao outro, que não queriam nunca ter se conhecido. E assim eles ficaram por um tempo, nessa de viver como se o outro não existisse e de que aquilo que tiveram nunca aconteceu. Pois ela se afastou bruscamente e ele estava ferido por esse afastamento. Todavia, logo ela percebeu que aquele sorriso que ele dava quase não existia mais, que ele parecia mais isolado em seu canto e que não interagia mais com as outras pessoas como fazia antes, e também aparentava carregar um peso grande demais para os ombros. Ela não aguentou. Era triste demais para ela vê-lo nesse estado. E por isso a menina que um dia o machucou queria ir até ele cura-lo. Mas como fazer isso?

Ela sabia que havia exagerado nos motivos de sua partida, que não deveria ter cortado tão profundamente o laço que os unia, e que gostaria de mudar o que fez, mas tinha medo da reação dele e não suportaria ser rejeitada. Mas quando ela sentiu Deus falando em seu coração que deveria falar com ele e perguntar como ele estava, pois visivelmente havia algo de errado. E na cara e na coragem ela foi. Logo abriu o coração pedindo perdão e ele logo a perdoou. O que ambos não esperavam era que a conexão fosse ser restabelecida tão rapidamente e que logo algo recomeçasse entre eles. Era como se uma corda que unia dois barcos havia sido rompida, e que duas correntezas em sentido inverso os puxassem para longe, e assim se separaram. Mas logo uma mesma corrente os trouxe de volta ao mesmo lugar e era como se nada havia sido rompido. Como se o passado não importasse mais e que qualquer machucado havia sido cicatrizado.

E isso a assustava, pois até pouco tempo estava segura de ter o superado, mas agora seu coração se enchia de dúvidas e tinha medo de voltar a sentir tudo de novo, pois ela sabia que eles não poderiam ficar juntos por mais que pudessem sentir novamente o quase amor de outrora. Pois a realidade dos dois tinha pontos tão opostos, tão extremos, que seria extremamente doloroso tentar conciliar dois mundos distintos ou seria mais doloroso ainda um deles ter que ceder a sua vida para se encaixar na outra, e isso para eles era impossível. Por isso, ela não queria ter que sentir mais nada quando estivesse ao lado dele, não queria planejar ou imaginar algo que ela sabia que não seria possível de realizar. Assim, ela tentaria se apegar a apenas a sua amizade, companheirismo e cumplicidade, sem nunca se permitir sentir nada mais que isso, pois aquelas feridas tinham que permanecer fechadas. E ela pedia a Deus para conseguir ser fiel ao que acreditava ser o certo por mais que seu coração vacilasse quando o via dar aquele sorriso bobo.








Tatielle Katluryn, florescida em 1996, com sangue Maranhense e coração pertencente ao céu. Sou cristã e estudante, apaixonada por livros do séc. XIX e Astronomia. E Deus me chamou para falar aquilo que Ele quer dizer as pessoas, para levar a paz a corações tão ansiosos quanto o meu. É tão linda a forma que Ele me cuida enquanto me usa para fazer sua vontade e só tenho a agradecer por tamanho amor que me consertou sem eu merecer.