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Ela ainda não sabe o que quer, mas tem certeza do que não quer mais

Ela é quieta, contida, talvez seu olhar transmita distância, solidão. Mas ela fervilha por dentro, tem planos, constrói castelos e viagens, prestando atenção a si mesma. Ela já se decepcionou demais com as pessoas e, por isso, hoje ela coloca sua vida no topo de suas metas. Não é egoísmo, é retomada, é volta, é reconstrução.

Ela pode até passar por nós despercebida, parecendo alguém comum, que segue a vida como uma outra pessoa qualquer. Ela é quieta, contida, talvez seu olhar transmita distância, solidão. Mas ela fervilha por dentro, tem planos, constrói castelos e viagens, prestando atenção a si mesma. Ela já se decepcionou demais com as pessoas e, por isso, hoje ela coloca sua vida no topo de suas metas. Não é egoísmo, é retomada, é volta, é reconstrução.

Ela já acreditou em pessoas que não devia; já amou homens que não a queriam; já se calou diante da tirania alheia; já se esgotou, doando-se a quem não repartia. Ela foi fundo, porque sempre foi inteira. Ela amou demais, porque sempre foi verdadeira. Ela se abriu integralmente, porque sempre foi intensa. E, por isso mesmo, já enfrentou dissabores, colheu ingratidão, chorou sozinha, conhecendo o pior lado de um ser humano, ainda que tenha sempre ofertado o seu melhor.

Ela contava com os outros, dependia de algumas pessoas, plantava esperanças em terrenos duvidosos, porque seus sentimentos nunca foram nada além de certezas e seu amor nunca fora menos do que tudo. Não conseguia entender quem não se entregava, quem não se comprometia, quem não vivia verdades. Não podia aceitar que pudessem querer o mal do outro, somente por maldade mesmo. Para ela, cada um recebia o que merecia – mas por que nela doía, sendo que nunca machucava ninguém?

Às duras penas, muitas coisas ela teve que aprender pela dor, sofrendo o retorno ingrato de quem não a valorizava, inclusive batendo de frente com o vazio de quem nunca era capaz de deixar de lado a si mesmo em favor de ninguém, além de si próprio. Muitas lágrimas e noites em claro acumulou, até que começou a jornada ao encontro de si mesma e de seu coração. Passou a escutar o que seus sentimentos diziam, passou a demorar-se nos próprios sonhos, passou a agir sem ter que esperar pela boa vontade alheia.

Hoje, ela ainda carrega muitas dúvidas e incertezas, porém, já tem claro dentro de si tudo aquilo que não quer mais, quem não receberá sua confiança, quem não merecerá o seu melhor, quem não ficará junto. Porque ela sabe o tanto que lutou para chegar até ali, bem como quem caminhou ao seu lado nesse percurso. Ela está tranquila, pois nenhuma dúvida poderá ser maior do que a convicção que ela possui quanto ao que não poderá mais fazer parte dela. E é assim que aqueles olhos imensos carregam uma imensidão de sonhos a ser preenchida com sentimentos sinceros e gente de verdade, mesmo que sem alarde, afinal, hoje ela não precisa mais provar nada para ninguém.

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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