Encontre seu ponto de partida.
Líderes estão em seu ápice quando equilibrados, relaxados e felizes. Ser feliz é nossa natureza vital. Então, por que a felicidade é tão fugaz e ilusória?, você poderia perguntar, com um certo ar de ceticismo.
Vivemos numa cultura que identifica felicidade com conforto material e físico. E mesmo que intelectualmente saibamos vá além disso, a maioria de nós comprou esse paradigma. Na verdade, a felicidade não depende de fatores externos, nem pode ser obtida através de nossos cinco sentidos. Nossas necessidades básicas transcendem o mundo sensitivo – um reflexo da complexidade de nossa espécie.
Há pessoas que possuem infinito conforto material, e mesmo assim não estão satisfeitos. Como vemos também pessoas que vivem com muito menos que aquelas e, ainda assim, sentem-se fundamentalmente satisfeitos e alegres.
A característica latente da verdadeira felicidade é a paz interior. Cultivar a paz interior exige que mudemos nossa tendência a nos preocuparmos com algo maior que nós mesmos. Focar primeiramente no nosso bem-estar pessoal reforça a sensação de desconexão.
Como resultado, perdemos contato com o delicioso e interdependente campo interior, no qual verdadeiramente vivemos. O isolamento gera tristeza. Ao nos conectarmos, abrimos o coração, expandimos a mente e relaxamos o que está comprimido em nosso interior.
Somos todos familiarizados com pessoas que praticam o bem, servindo a outros, e mesmo assim não estão felizes ou em paz. Apesar de ser essencial e mesmo crítico encontrar um sentido maior para o propósito da vida, ainda assim não parece não ser o bastante.
Cultivar o contentamento vem junto com um convite: uma chamada para irmos ao nosso interior e lá trabalharmos com nossos estados negativos, que muitas vezes se tornam parte de nossa identidade e da imagem que fazemos de nós mesmos.
Para tanto é preciso observar como agimos quando o pensamento negativo ou emoções surgem. Pois é onde ancoramos nossa atenção que o alicerce para a transformação se firma. Para muitos, há uma tendência ao entorpecimento, de resistir ou ignorar a negatividade, enviando-a, assim, para nosso mundo subterrâneo, onde não pode ser decifrada. Outros se fecharão nesse estado de negatividade, o que enrijece ainda mais essa condição.
Mas se voltarmos nossa atenção para a negatividade emergente e, simultaneamente, nos abrirmos para um estado mais amplo e profundo – uma capacidade que cultivamos através da meditação – a negatividade começa a constelar, começa a ceder e, enfim, sai de nosso sistema. Essa evolução pede presença. Para fortalecer a presença é preciso exercitar o músculo da atenção. É assim que sustentamos a mudança no plano da identidade.
Depois de um longo período trabalhando em seu desenvolvimento pessoal, um líder da área dos negócios descreveu assim sua experiência:
“Estou começando a colher a recompensa de assumir a plena responsabilidade pela minha vida interior, não culpar mais os outros pelo que sinto. Sou menos reativo, mais presente, mais capaz de discernir quando preciso liderar, quando preciso seguir, quando preciso impulsionar, quando preciso deixar ir, quando preciso escutar e quando preciso agir. Estou menos ansioso, irritado, e bem mais relaxado. Estou aprendendo a ser duro, sem ser prejudicial. Muitas vezes estou feliz sem motivo aparente.”
Vivemos um período de turbulência sem precedentes na história, e cultivar um sentimento de paz interior é fundamental para aqueles que irão liderar a necessária mudança. Dalai Lama propõe que o princípio ético que liga toda a humanidade é o desejo de felicidade e a vontade de evitar o sofrimento. Ele nos convida a usar isso como ponto de partida para um código de ética universal.
Com o foco nesse ponto de partida, devemos tentar evitar, acima de tudo, prejudicar os outros. Esta atitude emana de estados internos negativos. Quando resolvemos nosso próprio descontentamento, começamos a descobrir nossa natureza inatamente feliz. Isso, por sua vez, ajuda a aliviar o sofrimento no mundo.