Você não existe. Não pertence a este mundo. Não é daqui. Veio de outro canto distante, pisando mansa, linda, leve, e me encontrou encolhido no fundo de mim mesmo, ensimesmado, arredio, chateado e só. Então me estendeu a mão delicada, as unhas vermelhas como todo sentimento de amor, e me fez um bem tão grande que é bom demais para ser verdade.
Não, você não existe. Em sua substância, tudo é inverossímil como os milagres e os finais felizes. Você é uma visita esperada, um acontecimento ansiado, um presente do céu, uma sorte na vida. Um sonho lindo que eu tive outra noite e que ficou por aqui, regurgitando beleza.
Acontece que você não existe. Você não existe, não. É uma visão generosa, o sol da tardinha, uma força da natureza. Você é um gesto bonito da vida, habitando a terra encantada onde vivem as ninfas e as fadas, os anjos, as divas e toda a beleza do mundo. Não, você não existe.
Mas eu, sim. Eu existo. E escolho insistir no meu sonho bom, desses que a gente sonha sempre, contumaz, recorrente, amiúde, depois acorda com uma tristeza vaga, um desalento impreciso, um sei lá o quê de agonia quando acaba. E uma esperança simples de sonhar de novo amanhã. Uma espera calma. Uma alegria sem mais.
Boa noite, moça linda do meu sonho. Boa noite.