Quantas vezes tentei persistir em provar a alguém que essa pessoa tinha bons motivos pra ficar. Argumentei, esclareci, elucidei, desenhei, fiz do possível e do impossível pra tentar fazer com que o outro enxergasse o que pra mim era óbvio. “Nós temos modos tão parecidos de ver o mundo”, “nós temos uma relação de valor e parceria que é surreal”, “nossa profundidade e sincronia são raras demais”, dentre outras mil evidências de que tínhamos, eu e meu interlocutor, motivos de sobra e razões mais do que especiais pra tentar, pra adubar e deixar vingar aquela relação.

O que aprendi disso tudo?

Primeiro, que nós temos que aprender a ficar em lugares em que o óbvio não precisa ser dito, esmiuçado, esquematizado, gritado e explanado. Se algo para nós é essencial e salta aos olhos, mas para o outro é uma coisa que precisa ser colocada num outdoor e mesmo assim não é compreendido, é um sinal ao menos amarelo para seu instinto.

E mais: aprenda que temos que permanecer onde nosso valor e o da relação em que estamos são vistos, notados sem esforço, sem necessidade de convencimento quase advocatício.

Nada é mais desgastante do que tentar fazer com que alguém enxergue aquilo que pra nós é evidente. É tentar explicar por quê 1+1=2. E mais do que desgastante, é inútil, vai por mim. Se o outro lado não está percebendo o mesmo que você, algumas hipóteses plausíveis devem ser consideradas:

1. Vocês não partilham da mesma noção de importância nos mesmos quesitos/valores. Pra você, o que torna alguém ou uma relação valorosa, importante e preciosa é diferente do que o outro considera primordial.
2. Vocês até partilham da mesma opinião, mas por motivos outros alheios à sua vontade, o seu interlocutor não está enxergando esses valores relevantes pulando na sua frente, ou os colocou transitoriamente de escanteio nas prioridades da vida.

Em qualquer uma das hipóteses, simplesmente desista de querer resgatar toda a sua oratória e capacidade de convencimento pra iluminar ao outro seu ponto.

Nós devemos buscar aquelas pessoas para as quais não seja necessário fazer gráficos e apresentações em slides pra entenderem o que pra nós é essencial e evidente. Temos que buscar pessoas para quem não precisemos bolar uma campanha maciça de marketing de nós mesmos pra convencê-las do nosso valor. Temos que encontrar e deixar ficar quem faz parecer fácil entender o que é importante pra nós (e não que estamos falando latim arcaico) e que nos façam sentir fáceis de sermos amados.

Na realidade, tenho aprendido em geral que, na vida, temos que seguir o que é fluido, orgânico. Longe de ser uma ode à desistência perante dificuldades, mas saber que algumas coisas simplesmente não se forçam: tudo o que é para ser segue um fluxo natural, como a correnteza de um rio.

Escolha quem te olha e te enxerga de verdade, vê seu valor com a facilidade de quem reconhece o que lhe é familiar. Escolha quem visualiza as razões pra relação ser algo precioso a ser cuidado, e não quem precisa ser constantemente lembrado disso, como algo que lhe é artificialmente imposto.








Formada em Direito, escritora por necessidade de alma, cantora e compositora por paixão visceral. Só sabe viver se for refletindo sobre tudo, sentindo o mundo à flor da pele. Quer transmitir tudo que apreende (e aprende) por todas as formas criativas possíveis.