Eu gosto de gente simples, que não se acha, não se gaba, não se sente superior. A simplicidade é um ato de resistência!

Num mundo baseado nas aparências e ostentações materialistas, a simplicidade é um ato de resistência. Na contramão do luxo, as coisas simples ainda são capazes de trazer conforto e, melhor, carregadas de afetividade.

As novas gerações vêm crescendo em meio a uma superficialidade virtual que a minha geração desconhecia. Nós, a turma dos “enta” (40, 50, 60), ainda temos aqui dentro lembranças ternas de uma vida mais simples e acolhedora.

Quando eu era criança, mesmo os filhos abastados se juntavam a nós ali nas ruas, nas peladas, nas corridas de bicicleta, na confecção de pipas etc. Estudávamos quase todos em escolas públicas, ou no SESI, e, mesmo que não estivéssemos na mesma classe, a gente se conhecia e se juntava no recreio, nas festas juninas, nos campeonatos de futebol, nas fileiras que ficavam lado a lado no pátio, enquanto esperávamos os professores.

Tudo era muito caro, a gente tinha que esperar o aniversário para ganhar algum presente, as roupas passavam de irmão para irmão, bem como brinquedos, bicicletas, livros didáticos, uniformes escolares. E nem ligávamos, a gente até se orgulhava daquele livro que foi do irmão mais velho. A merenda escolar, então, era um evento aguardado com ansiedade. Que delícia o pão com patê de sardinha.

Só tínhamos uma televisão na casa e, por conta isso, as famílias ficavam mais tempo juntas num mesmo cômodo. Chegava uma hora em que nem mais olhávamos para a TV, porque começávamos a contar sobre os momentos de nossa infância, sobre os parentes que se foram.

O passado era precioso e valorizado, criávamos lembranças maravilhosas.

Eu carrego memórias afetivas até hoje e elas me ajudam demais no meu autorresgate dos cantos escuros que às vezes me alcançam.

E toda essa vida mais simples acabava formando seres humanos mais humildes, que conseguiam se divertir com o que estivesse disponível, sem frescuras ou exigências.

É por isso que eu gosto de gente simples, que não se acha, não se gaba, não se sente superior.

Que se senta na grama, no boteco, come o que tiver, conversa sobre o que estiver na roda. Pessoas humildes, melhores companhias.

*DA REDAÇÃO RH. Foto de Omar Lopez no Unsplash.

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Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.