Pontos finais também são atos de amor. Partir antes do fim também é uma forma de eternizar o que foi vivido.

Às vezes, é preciso finalizar antes da última palavra. Existem os fins perfeitos e os fins necessários; algumas vezes, o ponto final acontece antes do fim. Onde caberia uma vírgula, ponto de interrogação ou reticências, antecipa-se o ponto final.

A folha continua, há muitas linhas em branco até chegar ao rodapé da página, mas preenchê-la seria diminuir a intensidade do que foi escrito no início. Não é preciso preencher um caderno inteiro para provar que foi bonito. Às vezes, escrever uma só linha basta.

Algumas histórias nascem para serem curtas, mas isso não diminui a sua beleza nem a sua importância.

Insistir em vírgulas quando o ponto final é a única ferramenta possível para fazer a história resistir como uma lembrança inesquecível é tornar maçante aquilo que poderia ser marcante, que se prolonga além do necessário.

Algumas histórias nascem para serem curtas, como quando você faz uma viagem para um lugar diferente, lindo e distante. Você se encanta com o frio dilacerante, aplaude o pôr do Sol e não se importa de escalar uma montanha para chegar ao seu topo. A viagem terá curta duração, você sabe, por isso cada instante é vivido com intensidade e emoção. Se, ao contrário, a viagem se torna realidade cotidiana, o prazer se dissipa e aquilo que seria inesquecível por ter tido um ponto final se torna apenas mais uma entre as muitas vírgulas rotineiras da sua narrativa.

Pontos finais também são atos de amor; partir antes do fim também é uma forma de eternizar o que foi vivido.

É doloroso, mas insistir em parágrafos somente pela necessidade de chegar à última página transforma o amor bonito em ruínas. Às vezes, é preciso finalizar antes da última palavra.

Adoro a frase de Rupi Kaur que diz: “Eu não fui embora porque eu deixei de te amar. Eu fui embora porque quanto mais eu ficava, menos eu me amava.” Partir antes do fim é preservar a porção de dignidade que ainda nos resta, é poupar o amor de ser lembrado como um fardo, é restaurar o amor-próprio e dar uma chance para que o tempo transforme a dor numa cicatriz-poema capaz de nos lembrar que viver sem nos machucar é o mesmo que viver sem amar.








Nasceu no sul de Minas, onde cresceu e aprendeu a se conhecer através da escrita. Formada em Odontologia, atualmente vive em Campinas com o marido e o filho. Dentista, mãe e também blogueira, divide seu tempo entre trabalhar num Centro de Saúde, andar de skate com Bernardo, tomar vinho com Luiz, bater papo com sua mãe e, entre um café e outro, escrever no blog. Em 2015 publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos os Afetos" e se prepara para novos desafios. O que vem por aí? Descubra favoritando o blog e seguindo nas outras redes sociais.