Crescemos ouvindo conselhos que nos guiavam sempre na direção da retidão em todos os aspectos da vida e tentamos sempre nos orientar pela voz da razão, na tentativa de que não sejamos enganados pelos apelos de nossos sentimentos. É preciso – todos nos reforçam – calar a voz do coração, pois ele engana, maltrata e fere. E assim nos policiamos o tempo todo, abafando, muitas vezes, o que nossos sentidos clamam, em favor da voz da razão que deve permear nossas tomadas de decisão vida afora.
Infelizmente, não somos somente feitos de racionalismos e de ponderações embasadas tão somente em análises lúcidas e exatas. Nada na vida é exato, no sentido de que o rumo dos acontecimentos segue um fluxo imprevisível e incontrolável. Ninguém domina por completo o que lhe acontece, ainda mais em se tratando de sentimentos, de afetividade, de calor humano. O que nos atrai e nos repulsa muitas vezes não se explica por meio de vias científicas, por mais que se encontrem pesquisas nesse sentido.
Embora tenhamos que nos manter focados na realidade que nos cerca, nos momentos em que estivermos gerindo nossa vida econômica ou exercendo nossa profissão, por exemplo, as relações humanas que enfrentaremos nos pedirão muito mais do que respostas exatas ou soluções equacionais. Somos humanos, dotados de cargas afetivas e emocionais intensas, acumuladas ao longo de nossas experiências de vida, e isso tudo se articula a seu modo quando temos de lidar com o mundo lá fora.
Nem sempre poderemos agir de acordo com o que parecer mais coerente, mais acertado, de acordo com o que oferecer menos riscos – felizmente! É preciso, muitas vezes, arriscar-se nesta vida, ousar, seguir os impulsos, lançar-se ao inesperado, entregar-se à pessoa errada, quebrar a cara, despedaçar-se, para, então, reerguer-se e retomar os passos com segurança fortalecida, em direção ao caminho que levará a uma busca menos dolorosa pela felicidade.
Não existe o emprego mais certo, mas sim a ocupação em que nossas ideias encontrem fluidez; não existe um modelo mais adequado ao nosso corpo, mas sim a roupa que se harmonize com a nossa liberdade; não há uma pessoa encantada nos esperando, mas tão somente alguém com quem compartilharemos nossos corpos e nossas verdades sem pudor e sem data para terminar. A felicidade não consiste em acertar em tudo, mas também em errar enquanto houver tempo de rever o que se fez e de recomeçar, seguindo sempre em frente, sempre, incansavelmente.