Comum em redes sociais, esta frase nos faz refletir sobre a verdade que ela expressa. A rede nos expõe constantemente à possíveis críticas sobre quem somos e o que pensamos.
Com o passar da vida e das experiências vivenciadas, nos vemos em um nível de maturidade nunca antes alcançado. Se torna fácil “olhar para trás” e se ver em diversas pessoas que conhecemos: em suas atitudes e em suas opiniões. A maturidade nos permite além do se colocar no lugar do outro, o se ver no outro, agora, o que se foi um dia no passado.
Já fui muito crítica, por exemplo, na época em que morava na Alemanha. Não me adaptei à cultura do país, como eu mesma acreditava que conseguiria. Sofrendo por dentro e muito mais de forma inconsciente do que consciente, criticar era uma forma de aliviar a minha dor. Na época, era o que sabia fazer, com a maturidade e força que eu tinha. Cada idade e maturidade nos permite um determinado comportamento e reações.
É preciso muito tempo para se olhar com transparência e se ver de verdade. Na maioria das vezes isto não acontece no tempo presente. É com o passar dos anos que se olha para o que se foi ou o que se fez, e então finalmente se vê o que fomos e o que fizemos com clareza.
Assim se pode pensar sobre a veracidade da frase que intitula este texto. A felicidade quando chega, vem com plenitude, calma, serenidade. Felicidade trás amor próprio e amor ao próximo, independente de quem este seja. A felicidade nos permite ver algo errado e ainda assim reagir de forma generosa e gentil. Isto dificilmente acontece quando estamos feridos por dentro e ainda somos imaturos.
Ainda que eu esteja num dia ruim ou numa fase ruim, se possuo a felicidade alcançada de ser quem eu sou e do depertar de consciência, não acredito na possibilidade de ser indelicado com alguém para resolver o meu dia ou fase difícil. Se vejo alguém atravessando a rua num sinal aberto ou um carro parando na faixa de pedestre, serei capaz de chamar a sua atenção sem ser agressiva. Ou simplesmente conseguirei ignorar o fato, com a consciência de que aquela pessoa apenas está em um nível de maturidade diferente do meu.
O que quero dizer de fato é que felicidade e maturidade nos permite viver sem o incômodo com as pequenas coisas e com as diferenças. Se me sinto bem, aceito que meu vizinho tenha um gosto musical diferente. Se estou feliz, não vou me perturbar com a fila demorada do banco, de forma a perder a minha calma. Se a paz está no meu interior, uma opinião diferente da minha é apenas isto: uma opinião diferente da minha, e aceito o expressar de um pensar que diverge do meu.
Felizmente hoje cheguei a um nível de percepção que me permite aceitar o outro, mesmo quando o mesmo não me agrada e difere do que eu sou. Este nível de consciência trás paz de espírito e felicidade de ser o que se é. Em outras palavras, tolerância somada à resiliência. Um dos maiores segredos da vida.
Vivemos uma era em que a expressão da raiva e intolerância tem sido fácil e comum através da internet, pois a mesma proporciona o anonimato e a falta do “olhos nos olhos”. De certa forma, se dá coragem aos que necessitam extravasar sua raiva e frustrações, mesmo que de forma inconsciente. E até para tal comportamento, o que está feliz se compadece: “Esta pessoa ainda não se encontrou de verdade”. Ou: Esta pessoa está em um nível diferente de evolução”. Ou ainda: “Ela ainda não amadureceu o bastante a ponto de não se sentir incomodada”.
Gente feliz de verdade critica sim, mas de forma amorosa, gentil e eficaz, que soa e chega como um conselho ou sugestão. Existe uma grande diferença em não se ter a mesma opinião ou não concordar com algo. Mas a gentileza em expressar ou ignorar o fato difere totalmente do se tornar um agressor devido àquilo que incomoda.
No fim, a tal felicidade está muito mais conectada à maturidade e experiência de vida, do que as milhares de opiniões que se carrega.
E gente feliz de verdade, antes de não encher o saco de ninguém, não se permite nunca se sentir assim.