“Hemingway tem um momento clássico em ‘O Sol também se Levanta’. Quando perguntam para Mike Campbell como ele faliu, tudo que ele consegue dizer é: ‘gradualmente, depois rapidamente’. É assim que a depressão atinge. Você acorda numa manhã com medo de viver”. Citação feita por Elizabeth no filme Geração Prozac.
Em uma sociedade em que somos “obrigados” a ser felizes e, aparentemente, nas redes sociais todo mundo está sempre em festas e tirando “selfies” sorrindo, seria de se esperar que os dados oficiais indicassem o quanto estamos irremediavelmente explodindo de alegria. No entanto, tenho uma notícia “surpreendente”: a depressão, uma das principais causas de suicídios, atinge uma grande quantidade de pessoas, o Brasil encontra-se entre os dez países que registram os maiores números absolutos de suicídios, com 9.852 mortes em 2011. No mundo, segundo os registros da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é responsável anualmente por um milhão de óbitos (o que corresponde a 1,4% do total de mortes). Essas cifras não incluem as tentativas de suicídio, 10 a 20 vezes mais frequentes que o suicídio em si (OMS, 2014).
A cada 45 segundos ocorre um suicídio em algum lugar do planeta. Há um contingente de 1.920 pessoas que põem fim à vida todos os dias. Hoje, esse número supera, ao final de um ano, a soma de todas as mortes causadas por homicídios, acidentes de trânsito, guerras e conflitos.
Esses dados indicam que precisamos falar sobre a depressão. Há um grande problema em esconder a tristeza, em fingir que está tudo bem. Existe uma pressão social muito grande em cima do indivíduo para que ele seja bem sucedido, se case, tenha filhos e sorria. Mas a tristeza crônica, incapacitante, que traz desinteresse e deixa o mundo a volta sem matizes de alegria,em “preto e branco”, tem que ser exposta, conceituada e diagnosticada como depressão. Só pondo luz a dor se pode ajudar e tratar o problema. É justamente este tema que o filme independente Geração Prozac aborda.
A adaptação do livro de Elizabeth Wurtzel, Geração Prozac, é o primeiro longa-metragem em idioma inglês do diretor norueguês Erik Skjoldbjærg. A escolha por retratar o best-seller mundial de1994 foi inteligente e a produção cinematográfica nada menos que um relato vívido, dramático e enternecedor sobre a depressão.
A atriz Christina Ricci estrela como Lizzie, uma estudante que acaba de ser aceita em Harvard, onde pretende estudar jornalismo e lançar uma carreira como escritora. No entanto, a situação familiar fragilizada de Elizabeth que inclui um pai errante (Nicholas Campbell) e uma mãe extremamente amarga e exigente (Jessica Lange) leva a jovem a uma luta aflitiva contra a doença.
Os dias de Lizzie na Universidade são marcados por instabilidade emocional, episódios de comportamento suicida, insônia, auto-mutilação e abuso de álcool e drogas. A situação penosa da universitária faz com que sua colega de quarto e melhor amiga, Ruby (Michelle Williams), bem como os seus dois primeiros namorados (Jonathan Rhys-Meyers e Jason Biggs) a levem uma psiquiatra para aconselhamento médico, Dra. Diana Sterling (Anne Heche), que prescreve a droga dita como resolutiva, Prozac. A partir daí Lizzie começa a fazer escolhas difíceis sobre seu futuro.
“Se minha vida pudesse ser como nos filmes… Queria que um anjo descesse até mim como faz com Jimmy Stewart em ‘It’s a Wonderful Life’ e convencesse-me a não cometer suicídio. Sempre esperei por esse momento de verdade para me libertar e mudar minha vida para sempre, mas ele não virá. Não é assim que acontece. Todos os remédios, toda a terapia, brigas, raiva, culpa, Rafe, pensamentos suicidas, tudo isso era parte de um processo de recuperação lento. Da mesma forma como desmoronei, eu voltei a me levantar, gradualmente, e depois rapidamente”. Cita Lizzie após iniciar o seu tratamento.
Se você se identifica com o texto ou tem um amigo constantemente triste, peça para ele procurar ajuda profissional. Não temos que fingir felicidade. A depressão é uma doença grave que afeta os neurotransmissores, mas que quando tratada pode trazer de volta a alegria, o sorriso verdadeiro e espontâneo.
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