“Gosto de palavras na cara. De frases que doem. De verdades ditas (benditas).” (Rachel de Queiroz)
Umberto Eco já alertara que nem todos os ouvidos estão prontos para todas as palavras, uma vez que não é fácil enfrentar a verdade. Isso requer coragem, muita coragem, porque bater de frente consigo mesmo dói e obriga o deslocamento de uma zona de conforto a que muitos se apegam como escapismo.
A gente pode até tentar fugir da verdade, mas a vida sempre encontrará meios de nos colocar cara a cara com as consequências de tudo o que fizemos, dissemos, construímos, destruímos e deixamos de fazer, de dizer. É assim que a gente aprende, dolorosamente, que não podemos agir como bem entendermos, à revelia do mundo lá fora. Sem se colocar no lugar do outro, um dia a pessoa se ferra.
Necessário, nesse sentido, não confundir sinceridade com agressividade cruel. Ninguém precisa ser grosseiro para ser autêntico e verdadeiro. A verdade deve ser dita, porém, a forma como ela será colocada influenciará positiva ou negativamente quem a ouvir. Costumamos nos tornar resistentes ao que chega com rispidez, ou seja, ao expressarmos o que sentimos, sem faltar com o respeito, teremos mais chances de sermos ouvidos.
E mais, é preciso selecionar os ouvintes, para não gastar saliva à toa. Tem gente que não está pronta para ouvir o que temos a dizer, tem gente que não ouve ninguém além de si mesmo. Ignorarmos aqueles que se fecham a qualquer tipo de troca com o outro será providencial, para que não nos desequilibremos à toa. Escolher as batalhas a serem enfrentadas nos poupará de gastar munição com o vazio, com o eco de nossa própria voz.
Mesmo que doa, portanto, prefira palavras na cara, que chegam e calam fundo as nossas ilusões, que nos chacoalham os sentidos e nos obrigam a analisar o que estamos fazendo de nossas vidas. É assim que a gente sai das amarras que cria, é assim que a gente consegue ser feliz, sem machucar ninguém nesse caminho. Sem nos machucarmos enfim.
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