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Mãe de menino

Ser mãe de menino é torcer por dias de vento, para que os papagaios ganhem altura e os aviões de papel deslizem pelo ar. É aprender a simplificar, a não ser tão perfeccionista, a tolerar meias encardidas e camisetas manchadas de terra e ferrugem.

É rir do som de pum, participar de competições de alcance de cuspe, dar bronca pelo arroto na hora das refeições, aprender a tolerar cheiro de suor e chulé e rir escondido da fascinação dele por coisas nojentas.

É ficar com a língua azul ao provar o chiclete irado, caminhar olhando para o chão em busca de insetos asquerosos para a nova coleção e ficar atenta aos gravetos certos para a cerca realista do reino dos dinossauros.

É andar sem ter pressa, prestar atenção ao momento presente, rir de si mesma e chorar um pouquinho só de lembrar do amor que carrega no peito.

É achar graça num cheeseburger repleto de catchup, dar risada de qualquer besteira, orar a Deus pedindo saúde para continuar ao lado dele por muitos anos.

É sonhar com um mundo sem preconceitos e acreditar que a nova geração de meninos pode ser melhor que a nossa.

Ser mãe de menino é aprender a baixar fontes diferentes no celular, dançar como os personagens do Fortnite, aprender a calcular a distância de uma cidade ao epicentro de um terremoto. É ter coragem, enfrentar medos bobos, superar as problematizações da vida e improvisar.

É aprender a ser criativa, a dar um jeito em qualquer coisa difícil, a se concentrar no que é essencial. É amar incondicionalmente, proteger, aceitar as diferenças e singularidades de cada um.

É decorar o nome de todos os amigos do Relâmpago McQuenn, entender de impedimento e escanteio, lidar com o desejo dele de ser arquiteto só por causa do Minecraft, responder a perguntas insistentes sobre o funcionamento de um carro e de como dirigi-lo.

Ser mãe de menino é sair em defesa do gênero masculino e educá-lo para que seja um bom homem. É acreditar que meninos também são sensíveis, capazes de gestos nobres, carregados de empatia. É ajudá-lo a enxergar as mulheres como parceiras, dignas de respeito e igualdade de direitos. É ampará-lo enquanto é um menino, e dar ferramentas para que se torne resiliente e forte.

É aproximá-lo de Deus e prepará-lo para os momentos de dor que o amadurecimento trouxer.

É ser aluna, aprendiz de antropóloga e bióloga, jogadora de futebol, guitarrista e skatista. É entrar numa livraria e só ter olhos para os “Diários de um Banana”, conectar-se ao YouTube para procurar dicas de origamis de papel, aprender a fazer curativos em cotovelos ralados, descobrir o poder de um saquinho de gelo acompanhado de “vai sarar”, ir dormir com saudade da intensidade.

Ser mãe de menino é aventurar-se num território até então desconhecido e descobrir que a vida se tornou muito mais rica com a chegada dele.

É apaixonar-se por alguém com a metade de seu tamanho que a olha com admiração e diz que você é a rainha do reino de seu coração.

É perceber que pouco a pouco ele está crescendo, a voz engrossando, a adolescência se aproximando. E aceitar que logo virão novos tempos, novas referências, aventuras intensas.

Mas ter a certeza de que para sempre você será exemplo e modelo de perfeição, pois para um filho nada se compara a uma mãe que o amou com devoção.

*Texto dedicado ao filho Bernardo por ter completado 13 anos.

Fabíola Simões

Nasceu no sul de Minas, onde cresceu e aprendeu a se conhecer através da escrita. Formada em Odontologia, atualmente vive em Campinas com o marido e o filho. Dentista, mãe e também blogueira, divide seu tempo entre trabalhar num Centro de Saúde, andar de skate com Bernardo, tomar vinho com Luiz, bater papo com sua mãe e, entre um café e outro, escrever no blog. Em 2015 publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos os Afetos" e se prepara para novos desafios. O que vem por aí? Descubra favoritando o blog e seguindo nas outras redes sociais.

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