Sempre quis ter um filho, achava que assim minha vida estaria completa de alguma forma, modificando minha frustração de não ter uma família feliz.
Lembro do meu marido dizendo “filho é difícil, depois que você tiver ele, não vai querer saber de mim”.
Não, não. Filho é difícil porque no fim das contas nós mães estamos de certa form, sozinhas.
Quando engravidei trabalhava, era telemarketing, formada em formação de professores. Tinha o sonho de ser professora de história, passar em um concurso qualquer, sabe como é.
Ser mãe me encantou, era o que queria, não sabia porquê, e por algum motivo me permiti ser. Eu quis, ele concordou, e vamos lá. Me vi em uma gravidez de risco, com um marido impaciente, que reclamava de falta de atenção, mesmo antes do bebê nascer. Ele me tratava mal, e às vezes ainda penso, porque continuei com esse homem?
Chorava muito, acabei tendo que sair do emprego, perdendo líquido amniótico, me sentido sozinha, só o que me dava forças era saber que ele estava dentro de mim.
Pra piorar, perdi minha vó que era como uma mãe pra mim, ele sequer foi ao enterro comigo. De novo, estava só, eu e meu filho.
O parto então foi ainda mais difícil, uma cesárea emergencial para que não morresse nem eu, nem ele.
O pai? Bom, esse assistiu ao parto, chorou, e só. Afinal, os homens não podem fazer mais que isso, e se pudessem fazer não fariam.
Naquele dia me vi sozinha, tamanha era a solidão, que minha âncora continuou sendo somente ele. Entrei na operação, louvando ao Senhor, era só o que podia fazer.
Tive complicações depois da cirurgia, tive que continuar internada, e meu marido, ainda impaciente, quando ia me ver, dizia “estou cansado, tenho que vir do trabalho e ficar aqui, quando você vai poder ir pra casa?”.
Em outras palavras, ele não queria sequer me cuidar. É. É duro dizer, é dolorido dizer, que às vezes cometemos cada erro nas nossas vidas, que pensamos ser irreparáveis. Acabei me tornando uma mulher sustentada pelo marido, cuidando o tempo todo de filho e de casa, desenvolvendo síndrome do pânico, sim, morria de medo até de sair de casa.
Quase não durmo durante as noites, passo o dia inteiro limpando casa nos intervalos de sono do meu filho. E de noite, quando o marido chega, procurando janta, indo jogar, o que me resta? Nada, a não ser segurar a vontade de chorar.
E se quero dormir, não, não, ele quer transar. E se digo não, logo fica irritado, tudo vai por água abaixo. “Só sabe dormir, fica o dia inteiro em casa, dorme quando ele dormir”,diz ele.
Ah, se fosse fácil assim.
Não, não me arrependo de tê-lo, fico feliz. É cansativo, é estressante, é difícil sentir que não tenho apoio, mas só por tê-lo na minha vida já é uma felicidade.
Mas queria mesmo saber por que ser mãe é tão mais difícil que ser pai?