Que menina boba que tanto tempo perdeu tentando entender as coisas. Viveu grande parte dos sonhos questionando o percurso e esqueceu de caminhar. Mal sabia ela, e mal sabem tantos outros, que as dores não chegam sozinhas, sequer sabem o caminho do peito, mas nós as guiamos sem freio para o lugar mais importante do corpo: lá dentro.

Leva tempo para que as pessoas descubram que podem carregar seus sonhos na cauda de um cometa. Guardá-los em local seguro para que o tempo os proteja. Ah, a poeira do tempo, – e desses frágeis fragmentos do que passou, – onde é que você guardou?

Fez sala para a tristeza ou a transformou? E a saudade, essa que ainda pinica vez ou outra, plantou no jardim de casa para virar flor? Ou deixou pendurada na porta para que nunca deixe de ser dor?

É que transformar dá pé. A gente é que perde a fé sem saber que é possível refazer a obra, simplificar a arquitetura dos pulmões: respira profundo, puxa do fundo – e solta.

De menina boba “a gente” está cheio. Cobertura, estrutura e recheio. E os sonhos vão ficando para lá. Gastamos muitas horas a reclamar de Deus, do mundo, de tudo. Que tempo sobra para sonhar?

A equação é simples: subtrai o medo, multiplica o gosto por agradecer e divide esse último por aí. Caiu a máscara da Bháskara, esquece a velha matemática, vai por mim.

Ficamos combinados assim? Atravessamos e queimamos a ponte, afinal de contas, quando grito sou eu mesmo quem responde. É o eco da vida que ressoa na exata medida em que você acredita.

A regra é clara, diria Arnaldo: segue andando sem medo e se cair aponte o dedo para si, pois o outro não tem força para derrubar o seu barco. Chega desse lance de “se me ofender, ataco” ou, sei lá, daquela mania de “a culpa foi sua”.

Trocamos essas crenças que só geram doenças por frases de afeto: “se me ofender, te abraço” ou, quem sabe, a lei da superação do “faço e se errar, refaço”. Parece difícil, mas é fácil. Tudo começa por dentro.

Uma hora a gente vira a chave da vida, costura a ferida e descobre um baita espaço sobrando para plantar nossos sonhos. Não pense que foi tempo perdido como a menina boba pensou um dia.

É só uma questão de estar pronto para entender que destino existe, mas que depende da gente fazer acontecer. É só uma questão de perder a calma sem abandonar a alma e, enfim, correr atrás do que se quer.

Uma hora você toma uma bela de uma sacudida e entende a vida por completo. Percebe que coincidência é só mais uma justificativa para acomodação. E que nem sempre quem vence a batalha é o campeão.

Aí, meu amigo, você pega gosto por subir ao pódio sem troféu na mão e aceita que a medalha mais importante não é feita de ouro ou algo mais caro, mas do tesouro de um amigo raro e da alegria que é estar junto para sonhar acordado.








Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Não estou muito preocupada com meus créditos, eu quero saber mesmo é do que me arrepia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.