As armadilhas de atribuir a uma mulher solteira o status de incompetente ou fracassada.
Esses dias ouvi de uma mulher de trinta e poucos anos, inteligente, bem sucedida, simpática, bonita e agradável algo muito comum.
“Minha família ainda olha para o fato de eu ser solteira como um grande problema pessoal”
A tia: “filha, quando você vai encontrar um homem bom?”
Os amigos: “Oh fulana, e aquele cara lá? Deu certo?”
A mãe “aí filha, você está solteira ainda? O que está acontecendo com você?”
Pode parecer algo bobo, mas isso mexe com a autoestima de uma pessoa. Por mais que se considere uma pessoa resolvida com as próprias escolhas, com desejos amorosos, mas seletiva com quem quer compartilhar momentos íntimos.
A imagem inconsciente é sempre essa, de uma mulher relativamente triste ou pensativa, como se estivesse esperando por algo.
Nunca essa, de alguém que está bem, caminhando pela vida, com desejos variados, sonhos e até um desejo amoroso (mas não exclusivamente esse).
Esse imaginário coletivo que transforma uma mulher solteira em alguém fracassado, incapaz ou doente é bem problemático em vários sentidos. Uma outra garota me relatou bem chateada que um homem a questionou num aplicativo de paquera se ela era garota de programa. Diante da dúvida ela perguntou o motivo tentando levar a questão no senso de humor, ele respondeu. “Bem, é que você é tão bonita, tem uma conversa boa que fiquei abismado que estaria num aplicativo quando poderia escolher qualquer homem…”. Ela se sentiu péssima, quase como se os atributos que possui depusessem contra ela.
É preciso ressaltar aquele bullying mascarado de brincadeira no meio corporativo onde todos os colegas de trabalho parecem sempre ter um pretendente para apresentar, como se ela estivesse “matando cachorro a grito”, seja para sexo ou encontrar um namoro.
Como uma mulher interessante e interessada pode estar solteira?
Parece que essa pergunta fica retumbando na cabeça de todos que a cercam. São tantos os motivos que poderíamos fazer uma lista enorme. Mas porque parece que sempre queremos casar as mulheres que nos cercam? Por que isso as definiria como valiosas? Por que uma vida de qualidade e satisfatória onde cabe ou não alguém também não é em si suficiente? As mulheres que estão num relacionamento necessariamente estão felizes e satisfeitas?
São perguntas que os cupidos (não solicitados) raramente se fazem antes de um comentário ou sugestão amorosa. Até uma busca amorosa que pode ser legítima e feita no seu ritmo começa a ganhar uma aura de desespero aos olhos de quem a cerca. As pessoas projetam seus próprios questionamentos amorosos [leia mais] sobre a mulher solteira e é preciso entender, talvez o problema seja de quem está querendo resolver e não dela.
É preciso deixar as mulheres com suas próprias questões e anseios, e se solicitados bem, caso contrário o silêncio é bem vindo.