Ajudar demais alguém pode inibir seu instinto de sobrevivência. Quem muito ajuda, mais acaba atrapalhando, do que verdadeiramente fazendo uma boa ação.
Observando e refletindo sobre a própria vida, o que me parece é que, muitas vezes, quem menos ajuda recebe, mais forte se torna. Enquanto pessoas que se acostumam a receber ajuda constantemente se acomodam no benefício, os que recebem ajuda de menos, acabam por esforçar-se para superar todos os obstáculos, sejam eles quais forem.
Gosto de analisar a relação entre pais e filhos, bem como de marido e mulher e ainda entre amigos. Quando há um que muito faz, é comum que o outro (a) faça cada vez menos. E pior, que natural e inconscientemente, se habitue a isto.
Por que será que por vezes, quando alguém se divorcia, se torna melhor? Muitas pessoas, após o divórcio, tendem a melhorar a aparência, o trabalho e buscam novas atividades, se melhorando drasticamente. Muitos motivos podem existir para isso. Mas creio que um deles, é não haver mais o “outro (a) ” para culpar por todas as suas fraquezas e que ao mesmo tempo em tudo o (a) ajudava. A pessoa retoma seu instinto de sobrevivência.
De forma inconsciente, depositamos em nossos parceiros todas as frustrações de nossas vidas. Jogamos a culpa naquele (a) que está mais perto, tirando de nós mesmos, a possibilidade do autoconhecimento e a possibilidade de autodesenvolvimento. Se há um culpado (a), não há a necessidade de se redimir ou se melhorar em nada.
Alguém que está casado e insatisfeito com a própria vida pode olhar a pia cheia de louça suja e esperar que o companheiro (a) se responsabilize por ela, bem como pelo pagamento das contas da casa. A pessoa mais insatisfeita acaba fazendo o papel do que reclama e critica. O que é mais passivo, por fim, fica no papel do que mais carrega e se desenvolve para suprir a si e ao outro (a). Este segundo, acaba ajudando mais e recebendo menos, mas ao mesmo tempo é o que se desenvolve e se torna mais forte.
Uma pessoa que se habituou a morar sozinha, nunca irá esperar que alguém vá por ela ao supermercado, ao banco ou simplesmente que faça a limpeza da casa. Alguém que vive o dia-a-dia sozinho, sabe que irá resolver todos os problemas sozinho e não espera que alguém o faça. De certa maneira, esta pessoa se torna mais independente e autossuficiente.
Um pai ou uma mãe que desde a infância protege seu filho de tudo, também retira dele a possibilidade de aprender a lidar com as adversidades da vida. Quando adultos, esses filhos terão dificuldade em enfrentar os problemas da vida em sociedade, pois num dia ruim, não haverá o pai ou a mãe para protegê-lo.
Sou de uma geração que fez por tudo por seus filhos e sou a primeira a me auto criticar pelo excesso de cuidados e presentes. Quando fazemos demais, tiramos a possibilidade de nossos filhos de aprenderem a fazer por si mesmos. Na ilusão de que estamos ajudando e cuidando, acabamos por criar dificuldades futuras em suas vidas adultas.
Até mesmo uma relação de amizade pode vir a ser prejudicial, se há alguém que muito ajuda. Quando passamos a mão na cabeça de um amigo por vezes seguidas, quando o mesmo está sendo auto piedoso, acabamos por alimentar uma das piores atitudes que um ser humano pode ter em relação a si mesmo: a auto piedade.
Apesar de perceber que as pessoas que se habituam a viver sozinhas parecem se tornar mais fortes, também acredito que o autoconhecimento e consciência sobre o equilíbrio entre tarefas, da culpabilidade ao próximo por frustrações, além da vitimização, podem trazer benefícios a todo tipo de relacionamento, interrompendo-se o ajudar em excesso. Se sou o que reclama e espera do outro o tempo todo, paro de reclamar e começo a agir. Se sou o que mais faço e ajudo o tempo todo, paro de ajudar e começo a dividir as tarefas.
Ajudar demais atrapalha. Tira o instinto de sobrevivência do próximo e a chance do mesmo de crescer e se desenvolver como ser humano.
Uma mãe que ama tem que saber dizer não ao seu filho. E o mesmo serve para um homem ou uma mulher que espera ter um relacionamento duradouro e feliz.
Ninguém deve carregar o piano enquanto o outro leva o banquinho. Ou ainda pior, senta em cima do piano, reclamando da vida.
Amor próprio e amor ao próximo, seja para com meu filho ou a pessoa que eu amo, deve exigir bom senso e equilíbrio.
Ajudar menos pode significar bem mais.
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