No estilo de psicologia de botequim surgem os “gurus do amor”, que escrevem livros ou artigos com dicas de como arrumar relacionamentos. Esse é um negócio lucrativo, que migrou para as mídias sociais, prometendo resolver as angústias do coração, com o argumento de que a “fila anda.”
Mas do ponto de vista terapêutico isso não tem efetividade, visto que é um modo infantil de dizer às pessoas que elas não precisam assumir a direção de suas próprias vidas. É mais uma promessa da nossa “era fast food”, que sabe que existem sujeitos que se encantam e se desencantam muito rápido.
Esse mercado abusa do termo “amor”, como um refúgio aos que não conseguem suportar a solidão. Assim, a vida torna-se descartável e glamourizada pela fluidez das aparências e das atividades sexuais sem compromisso emocional, que são as incertezas em relação aos outros.
Porém, o amor volátil tem suas implicações. Uma pesquisa, de 2009, do Ministério da Saúde apontou que as DSTs atingiram mais de 10 milhões de brasileiros, e quem teve mais de 10 parceiros na vida têm 65% mais chance de ser contaminado.
E que a cada mil pessoas no país, quatro a seis estão infectadas pelo HIV, o que é perto de um milhão de portadoras do vírus. O mais grave é que esses números são de ordem crescente.
Um outro fenômeno, o IBGE fez um levantamento que mostrou que mais de 7 milhões de dissoluções de casamentos foram registradas no país entre 1984 e 2016, ou seja, um a cada três casamentos termina em separação, abrindo mais espaço para o agenciamento dos “gurus do amor”.
Não estamos negando a importância do divórcio, porque houve uma mudança cultural que vê o término do casamento não como um mal, já que existem situações que são dificílimas para os casais manterem a relação, sendo que a melhor decisão é de fato a separação.
Entretanto, não é esse mercado descartável que ajudará as pessoas a encontrar a “cara-metade”, “o par perfeito”, “a alma gêmea”, “a princesa ou o príncipe encantado”, que são clichês determinados socialmente pela nossa sociedade líquida.
Por sua vez, os bons exemplos dos nossos avós, pais e de outros casais nos ensinam que para ter uma relação sólida, todas as decisões que afetam a vida a dois precisam ser tomadas em conjunto, e que ambos devem dar o seu máximo para fazer o outro feliz.
Aliás, esses casais descobriram que o amor não é etéreo, e que não se deve renunciá-lo quando aparecem os problemas.
Além disso, o Brasil tem excelentes psicólogos, psicanalistas e psiquiatras que ajudam os indivíduos a cuidar da relação, sem a pretensão de manter os casais juntos a qualquer custo, e que de maneira honesta trabalham as emoções, no sentido de entender que as rupturas nascem a partir de algo que não damos atenção.
Portanto, não desista do amor, mas pare de buscá-lo aonde a vida é descartável, pois amar é um desafio constante, que requer que os casais estejam juntos na harmonia ou no conflito, na tristeza ou na alegria, na pobreza ou na riqueza.
É como disse Simone de Beauvoir:
“O casal feliz que se reconhece no amor desafia o universo e o tempo; basta-se, realiza o absoluto”.