Você me desculpe. Mas eu tenho mais o que fazer. Essas indiretas e carapuças, essa picuinha, essa rama de insinuações, esse veneno escorrendo pelas bordas, tudo isso fere e mata a gente aos poucos. Eu não quero. Eu escolhi viver.
Respeito a sua opção pelo ofício rasteiro de investir seu tempo em tornar pior o tempo dos outros. Cada um escolhe o que fazer de sua vida. Mas a minha não vai se prestar a isso. Não vai mesmo. Pode rastejar à vontade no chão que você encardiu. Eu vou limpar meu pé na grama ali na frente e seguir adiante, para bem longe do espaço imundo que é seu e ninguém toma.
Viver dá trabalho. E a minha vida por ela mesma dá uma trabalheira só. Não tenho um segundo sequer para me defender do que não fiz. Não perco nenhum instante queimando a cuca com respostas a quem não merece ouvi-las. Exceto esta, não escrevo cartas a quem não sabe ler. Não vou pra perto de quem me quer ver longe. Não gasto minha vida com quem não sabe viver a sua.
De resto, faço votos que um amor gigantesco atropele a sua raiva, que um rolo compressor de afeto passe por cima de sua zanga e a transforme numa frágil e carinhosa folha de papel vegetal. Torço com esperança para que a felicidade despenque sobre a sua cabeça e transforme você na pessoa mais afortunada deste mundo, portadora de uma alegria tão insuportável que será obrigada a sair por aí distribuindo alegrias para não explodir em bilhões de faíscas coloridas de ternura. Eu faço fé.
Mas enquanto isso não acontece, fico longe. Quanto mais distante de suas investidas de fúria, quanto mais fora do alcance de seus torpedos de ódio e cuspe, melhor.
Faço silêncio. E quem cala consente nada senão o fato de que não quer brigar. Respiro fundo e sigo em frente. Vou cuidar das minhas coisas, terminar um trabalho, passar a vassoura na casa, tirar a poeira que pousa sobre a cabeça dos livros, ligar para um velho amigo que hoje me visitou num sonho, vou buscar meu filho na escola, abraçá-lo por três minutos inteiros e depois do almoço vou levá-lo para vacinar contra a gripe. Vou fazer o que é preciso para a vida seguir vivendo. Não vou brigar com você. Eu tenho mais o que amar por aí.
Boa noite, gente gentil!
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