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Não forço mais sorrisos para quem não gosta de mim

Não forço mais sorrisos para quem não gosta de mim.

Não trato mal, mas não forço mais sorrisos para quem eu sei que não gosta de mim.

Eu já disse que cresci esperando pela aprovação de todo mundo. Talvez por eu ter sido uma criança fora do dito padrão, isso ainda era mais intenso.

Não foi fácil crescer tendo vergonha do próprio corpo e do próprio jeito, porque eu era rodeado de crianças magras, jogando futebol, mas eu não tinha nada a ver com aquilo. Eu não conseguia comer menos ou me interessar por esportes.

Então eu me refugiava nos gibis da Turma da Mônica e nos desenhos da televisão. Eu lia Monteiro Lobato, Contos de Fadas, brincava com meu Playmobil, inventando roteiros de filmes, naquele quintal imenso de meus pais, e tudo ficava mais fácil.

Os personagens principais dos filmes que eu encenava eram sempre do jeitinho que eu queria ser: magros, bonitos, valentes, queridos por todos. Ali eu era sempre o herói, a criança que eu via nos outros, mas não conseguia enxergar no espelho.

Hoje, quando me lembro do medo que eu tinha de magoar as pessoas, de que alguém ficasse bravo comigo, eu até me irrito, porém entendo.

Eu não tinha instrumentos suficientes para me fortalecer diante de quem tirava sarro de meu peso, eu não conseguia compreender que aquilo que as pessoas têm de especial vem de dentro.

Eu queria ser amigo dos populares, sem perceber o tanto que eu me fragilizava naquele percurso. Meu pai sempre me alertava para que eu parasse de querer agradar todo mundo. Mas eu achava que sim, eu era criança.

Por essa razão, eu possuía um universo inteiro dentro de mim, um mundo onde eu sempre era o que eu desejava ser.

Tímido e quieto, aqui dentro eu não parava de falar e de ser importante para todo mundo. Observava tudo e ia acumulando um monte de reflexões na minha mente. E eu tinha que colocar aquilo tudo para fora de alguma maneira, para não sufocar.

Eu tinha vários cadernos com quadrinhos que eu inventava e, quando ia crescendo, escrevia textos, mas não mostrava para ninguém.

Meu pai também sempre me falava para eu mostrar meus escritos para as pessoas, mas só depois dos meus quarenta anos, após minha amiga Viviane Battistella tanto insistir, mandei textos para sites, que me acolheram, e acabei chegando até aqui.

Então, eu aprendi a lidar com a opinião dos outros, com quem discorda, com quem não gosta, com quem critica.

Aprendi que, muitas vezes, as pessoas nos atacam porque estão mal consigo mesmas.

Tanto que nem ligo a quem desdenha de meus vídeos nas redes sociais. Aliás, aquele garotinho tímido e acuado jamais imaginaria que sua fase adulta seria tão corajosa, a ponto de se expor sem medo, ignorando os haters de plantão.

Eu sou assim, tudo isso sou eu, não importa o que dizem. Eu não consigo mais fingir. Cansa demais ter que ficar atuando, para não magoar pessoas que não estão nem aí para você.

Não trato mal, mas não forço mais sorrisos para quem eu sei que não gosta de mim. É isso.

*DA REDAÇÃO RH. Foto de Alex Blăjan no Unsplash.

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Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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