Uma das maiores provas de que somos seres gregários e não conseguimos viver isolados de tudo e de todos vem a ser a dor que sentimos quando vemos alguém que amamos sofrendo, seja um amigo, um familiar, o parceiro, seja o filho, mesmo que nada tenha a ver conosco aquela tristeza. Passamos o dia nos lembrando da pessoa, mesmo de longe, torcendo para que aquilo termine. Difícil estarmos felizes quando alguém sofre ali ao lado.
Nesses momentos, queremos ajudar, tentar animar, desejamos ter o poder de tirar aquela dor de dentro do coração de quem chora baixinho na nossa frente. É duro ter que esperar o tempo passar e fazer o que ele tão bem faz: ensinar, acalmar, curar, iluminar. Temos pressa, lutamos contra a tristeza, pois é assim que sobrevivemos. No entanto, muitas vezes, basta ficarmos ali ao lado, em silêncio, confortando com nossa presença, que já vale muito.
Inevitavelmente nos sentiremos impotentes, incapazes de ajudar, pois o reerguimento demora, leva muito tempo, o que nos impacienta. As escuridões que adentramos nos momentos de dor são densas, visto que carregadas de remorso, culpa e aniquilamento da autoestima. Dissipar essas nuvens requer, sobretudo, o enfrentamento de si mesmo, no sentido de se conscientizar da própria responsabilidade sobre o que acontece, pois a vida cobra cada atitude que tomamos, tanto as certas quanto as equivocadas. E como dói.
Enquanto nossos queridos colhem o sabor amargo das escolhas erradas, assistimos alquebrados, solidarizando com a sua dor, pois não conseguimos ficar tranquilos nesses casos. Isso muitas vezes nos leva a querer impedir quem amamos de errar, antecipando-nos às lições que a vida traz, o que raramente significa resultado de imediato. As pessoas devem passar pelas consequências de suas atitudes, pois assim é que aprendem, na prática, na dificuldade, na dor.
E embora seja muito difícil, teremos que deixá-los errar, para que possam refletir sobre o que vêm fazendo de suas vidas. Principalmente quando se trata de um filho, queremos a todo custo poupar-lhe os dissabores e as tristezas, mas também os filhos terão que sofrer, que penar, que levar tombos, porque dessa forma é que se tornarão pessoas melhores e mais fortes. Aos pais, será uma árdua tarefa, mas, com exceção de situações em que os filhos estejam entrando em terrenos antiéticos e violentos, como drogas ou crime, por exemplo, terão que deixá-los fazer a escolha menos acertada, para que a colheita lhes esclareça quanto ao que é digno e correto.
Tudo tem seu lado bom e ruim, assim é com a vida de todos nós. Desfrutarmos de todas as benesses que nos são ofertadas diariamente depende apenas de cada um de nós. Os caminhos que se abrem são infinitos e saber escolher fará toda a diferença na qualidade de nosso viver. Errar, assim como a dor que isso traz, será inevitável, mas aprender com tudo isso será necessário e vital.
Porque ninguém foge à colheita do que plantou, do que se fez ou se deixou de fazer. É assim que a vida pune, presenteia, machuca e cura. É assim que construímos uma vida digna. É assim que o bem acaba por prevalecer sobre o mal de cada dia.
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