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Não sou da geração Pugliesi

Eu admiro para caralho as pessoas que sentem prazer em se exercitarem. Juro. De verdade. Às vezes quando num domingo, estou segurando o meu copo de chopp em um boteco qualquer, e passa alguém correndo, suando os poros para fora, eu tenho vontade de me levantar e bater palmas. Porque o sujeito que levanta do sofá num domingo para ir correr na rua, sem o incentivo de uma arma apontada para a sua cabeça, é digno de ser ovacionado publicamente.

Eu nunca fui fã de exercício físico. Eu dancei a vida toda e isso sempre teve mais sentido pra mim do que o ato puro e simples de “queimar calorias”. Eu não entendo (nem critico) a glória envolvida em ser blogueira fitness, tipo Pugliesi. Além disso, eu sempre odiei academias. Do cheiro, ao contexto social envolvido. “Não eu não quero dividir o aparelho”. E quem diz que não se importa em dividir tá mentindo por vergonha de não pertencer a “vibe” da academia. Ninguém quer trocar suor com estranhos, ainda que raramente eles carreguem suas toalhinhas (igualmente encharcadas) para disfarçar as cachoeiras que desaguam por suas virilhas, axilas, e outros lugares produtores do “doce” néctar dos campeões. Eu odeio academia.

Mais que a academia, eu odeio a atitude promovida nestes locais. Por que, ó mellll dells, por que vocês fortões precisam urrar e jogar os pesos no chão? Eu tomo susto sempre achando que estou sendo atacada por uma matilha de pitbulls. Se vocês conseguem levantar essa merda pra cima, custa acomodar os pesos no chão com suavidade? Ou o estrondo do impacto de 300kg de anilhas somado a um grunhido animalesco são necessários para construir músculos? E por falar em músculos – malhem perna! Esse formato triangular de peitão + bração e canela de graveto promove um medo danado no que diz respeito a gravidade. Base fraca não sustenta topo descomunal – fica a dica, e olha que eu nem sou Pugliesi. E larguem essa porra deste celular, ou desocupem aparelhos. Cês tão acumulando testosterona ou seguidores?

E como se não bastassem os meninos para liquidarem as calorias da minha paciência, vem as meninas. Magras, que diferentemente de mim, poderiam tranquilamente trocar o cardio da academia por uma volta no shopping, sem nenhum problema. Maquiagem, cabelos soltos, roupa combinando. Sério? Que inveja deste talento para plenitude que vocês têm. Eu me assumo recalcada nisso. Na contra-partida estou eu: usando uma camiseta promocional que ganhei de alguma marca sem nenhum senso estético, enquanto o meu cabelo – que inicialmente estava amarrado em um coque – figura o que parece um ninho de ratos impenetrável, e para finalizar, a minha cara tem a vermelhidão de um incêndio, e o tamanho da minha bunda. Não sei por que o meu rosto sempre fica do tamanho da soma das minhas nádegas quando tento diminuir medidas dos dois.

Então veja, eu não sou uma pessoa feita para espaços públicos de malhação. Eu odeio que peguem os aparelhos que estou usando no meu circuito (isso inclui a bola de pilates que uma senhorinha certa vez arrancou de mim ENQUANTO EU ESTAVA DEITADA NELA!). Eu tenho pavor da musica exageradamente animada que toca no ambiente, enquanto tento calibrar meu agachamento no ritmo de Menina Veneno do Zezé de Camargo e Luciano. E se a minha cara de descontente não deixa claro, que o mundo saiba que eu abomino conversar na academia. Sobre qualquer assunto. Porque diferentemente das demais pessoas deste espaço- eu ainda não domino a arte de respirar certo, não perder a contagem da minha série e ser eloquente sobre o novo botox da Anitta, durante um papo que rola enquanto um coleguinha espera para revezar comigo o aparelho (aquele que deixei claro que “SIM, eu me importava em dividir”).

Mas dentre todas as fobias de academia e dramas envolvidos em fazer exercícios, uma crescente me assustou. Os efeitos da ausência de exercícios na minha carcaça balzaquiana. Aumento de peso, mudança de medidas, dor nas costas e falta de resistência física até para o sexo. Agora o lance tinha ficado sério. Tomei uma atitude drástica. Contratei o único homem que já mandou em mim – um personal da academia que frequentei – e acertamos um atendimento na minha casa. De manhã cedo, para eu não dar desculpas. Paguei dois meses adiantados, para eu não dar desculpas. Expliquei para o cara que tinha tendência ao sedentarismo, bohemismo, tabagismo, procrastinação e a mentira, para eu não dar desculpas. E a gente blindou cada uma das minhas estratégias de auto sabotagem.

Fato é que eu dediquei tanto tempo odiando o exercício físico, que acabei esquecendo que esse habito estava associado a tendência de me odiar ao mesmo tempo. Odiar a minha postura. Minhas dores no corpo. Odiar transar de luz acesa. Odiar comprar roupa. Odiar ir à praia. Odiar fazer um monte de coisas que eu costumava amar. E não que eu acredite que eu deva ser magra para ser bonita ou me sentir bem. Mas me dei conta de que cuidar do meu corpo é uma necessidade indiferente do tamanho dele. Nem que seja para eu viver mais. Ou transar melhor. Mesmo que odiando o processo.

“ah, mas a endorfina vai ajudar você a gostar!” – Cadê esta m* então?

Acho que fiquei tanto tempo desdenhado o exercício físico, que minhas glândulas produtoras de endorfina atrofiaram. Então cá estou eu, completando duas semanas de exercícios físicos diários, praguejando cada minuto da experiência. Mas amando o desaparecimento das minhas dores nas costas, e a ideia de que um dia as minhas coxas não vão roçar e ficar assadas. Eu também não tenho pretensão de ter menos raiva do meu personal trainer cada vez que ele aparece todo animado na porta da minha casa – mas prometi pra mim mesma que não vou matá-lo, num esforço pessoal pelo bem estar de nós dois.

Eu entendi que não preciso ser da geração Pugliesi, aficionada pelo próprio corpo. O que não quer dizer que eu não tenha responsabilidades com o meu.

Então se por acaso um dia você estiver num barzinho num domingo, e me ver correndo pelas ruas sem uma arma apontada para a minha cabeça, faça aquilo que eu nunca fiz. Levante-se e bata palmas. Porque se alguém um dia disse que era fácil, era pura mentira. E as palmas não vão ser porque eu tô correndo – afinal, não é mais do que a minha obrigação cuidar de mim. Mas porque desviar de um chopinho e decidir seguir correndo … isso sim é um ato sobre-humano.

Antonia no Divã

Uma questionadora fervorosa das regras da vida. Viajante viciada em processo de recuperação. Entusiasta da escrita. Uma garota no divã figurado e literal. Autora do blog antonianodiva.com.br.

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