Há uma história real que fala sobre um conjunto de pessoas que voltaram para a terra de seus ancestrais, que no passado haviam sido forçados a deixarem seus lares para irem para outro continente fazer trabalhados forçados. E essa nova geração que retornava para aquele lugar que deveria ser seu verdadeiro lar, quando lá chegaram se sentiram totalmente desconectados. Mas havia outro problema maior: Eles também não tinham o sentimento de pertencimento quanto ao local onde nasceram e onde seus pais e avós haviam sido escravizados. Eles não se sentiam pertencentes a lugar nenhum. Se viam sem pátria, sem nacionalidade.
E como resolver um problema desses? Eles fugiram de um lugar de dor para outro que não deu paz aos seus corações. Para onde iriam se não tinham para onde voltar?
E ao ouvir essa história, certa garota sentiu um pesar afundando em seu peito, pois acabara de perceber que assim como essas pessoas ela também não se sentia pertencente a lugar nenhum. Ela havia mudado de estado e apesar de sentir muita falta de seu antigo lar, havia algo em seu coração que dizia que nem em sua cidade natal quanto em sua nova estadia se sentia em casa.
Como explicar tal sentimento de desconexão? É que ao olhar para as pessoas que a rodeavam, para as situações que ela enfrentava, para os momentos que tinha com as raras companhias, e momentos com o excesso de solidão, sentia que havia algo de errado consigo mesma. Pois ao se acomodar em um lugar não conseguia se sentir totalmente confortável, parecia sempre faltar algo ou alguém quando tudo e todos estavam ali em seus devidos lugares e ocupações.
É extremamente desconcertante fazer parte de grupos ao mesmo tempo em que se sente não pertencer a eles. É estar nos meios sociais por estar, mas no fundo sentir que alguma coisa não se encaixa, umas peças que não se completam e que não achará nunca um espaço que irá caber e se sentir segura. Mas tenta fingir que está bem, quando constantemente fica tentando procurar os possíveis erros e defeitos que dão aquela sensação de embaraço, confusão e solidão.
Por que não consegue se abrigar debaixo de um teto qualquer e deixa-lo ser seu lar?
Por que não se refugiar em alguém e fazer dele a sua âncora para assim ficar repousada num chão?
Ela até tenta, mas ao conhecer mais das pessoas e sobre os lugares eles sempre parecem melhores, mais bonitos, mais felizes do que ela. Eles parecem ter mais a oferecer quando ela não se sente o suficiente para nada.
Talvez nisso esteja o real motivo do problema de desconexão, pois ela não consegue compartilhar dos costumes, manias e paixões de quem a rodeia. Ela tem hábitos, vontades e sonhos anormais, atípicos e fora dos padrões. Ela diz a si mesma que não nasceu com algum gene que dita qual faculdade deve cursar. Que não nasceu para prestar vestibular e nem para ganhar dez salários mínimos por mês. O que o mundo oferece é pouco para o infinito que ela carrega no peito.
Enquanto os outros se satisfazem, ou pelo menos aparentam se satisfazer, com o que perseguem e conseguem, ela quer mais, ir além daquilo que o mundo diz que ela precisa para ser feliz até o fim de seus dias. Ela quer ir além do casamento perfeito, dos filhos correndo pela casa. Ela quer mais e não sabe onde encontrará esse mais, só sabe que enquanto não acha-lo sempre irá se sentir fora da orbita terrestre e nadando dentro de buracos negros e voando nas asas de cometas.
Ela que não consegue entrar nas conversas dos outros e compartilhar dos mesmos assuntos, que fica á margem vendo os outros se jogarem na água. Os ver dançar, cantar, se entregarem um aos outros, enquanto ela fica no canto olhando para o relógio e esperar a desatenção deles para poder correr para longe. Eles aparentam ter uma felicidade que ela não tem, um amor por coisas que ela não suporta.
Mas chegou o dia que as coisas mudaram para ela, não que ela tenha se sentido pertencente a algum lugar, pois depois do encontro que teve se sentiu ainda mais fora de tudo mundano, porém esse encontro a levou a entender a si mesma e a suas dores. Ela teve um encontro com Jesus, aquele que morreu numa cruz há dois mil anos e ressuscitou no terceiro dia. Ele viu seu sofrimento e disse a ela que sua alma não pertencia a terra, mas sim ao céu, por isso o tamanho desconforto ao tentar se encaixar na vida daqui.
Que por mais que ela tentasse nunca conseguiria amar o que o mundo oferece. Não poderia se apegar mesmo a esses modos de vida, mas deve nadar contra a correnteza que leva a perdição eterna e não a vida eterna ao lado de Jesus. Ele ainda disse que a ama, que continuará cuidando dela enquanto ela estiver aqui. Que irá levar a paz que ninguém irá tirar, o amor que não poderia receber de ninguém, e ainda lhe dá um propósito para cumprir e levar esse amor aos outros que sofrem como ela, e aos que são apegados ao mundo, mas que precisam se desvincular dele para terem Jesus.
Foi então que ela percebeu que seu lar não era uma casa ou uma cidade, mas Alguém. Que ao pertencer a Jesus Ele também pertenceria a ela e assim conseguiria finalmente se encontrar sem sentir que havia algo de errado.
E que diferente das pessoas com quem ela já convivera, Ele não a deixaria nunca, nem a abandonaria por uns dias ou sequer segundos. Que ela poderia permanecer em sua presença, aprendendo mais Dele e conhecendo mais sua vontade através dos ensinos do Espirito Santo, o seu Consolador.
Assim pôde sorrir e o motivo foi Alguém que ela não poderia enxergar e nem tocar, mas que ela sentia que assim como o vento que entrava por sua janela, Ele era sentido e refrescava o caos que perturbava tanto seu coração inquieto. Que Ele seria o Pai que não estava presente, o Melhor Amigo que ela nunca chegou a ter, e o Amor que a chamava de noiva de Cristo. E que poderia ir para qualquer lugar do mundo e tinha para onde voltar que seriam os braços de seu Amado, e a saudade que sufocava seu peito era causada por uma alma que pertencia ao céu e para lá irá retornar um dia.