O luto coletivo pode auxiliar na elaboração crítica dessas mortes, nos permitindo passar pela transformação causada pelo “adeus”.
A sociedade brasileira está marcada por fatos sinistros, que afetam a coletividade. O crime ambiental de Brumadinho com o rompimento da barragem da mineradora Vale, matou centenas de vidas e poluiu o rio e a natureza da região. E ainda tivemos as mortes dos jovens jogadores do Flamengo em um incêndio, que ocorreu por desídia no alojamento dos atletas.
Sabemos que as tragédias são causadas por catástrofes, como tempestades, tufões e grandes chuvas, que provocam enchentes, destroem casas e pontes, derrubam árvores e matam pessoas. Contudo, essa destruição é um revés produzido pelo desequilíbrio da natureza.
Tudo indica que não foi isso que aconteceu em Brumadinho e no alojamento do Flamengo. Mas foram por atos negligentes, que significam a falta de zelo ou a falta de aplicação ao realizar certas tarefas, acarretando em lesões ou mortes de pessoas, danos a natureza e ao patrimônio.
Essas mortes inesperadas criaram consternação coletiva, impactando a sociedade, com mais melancolia, porque as dores de outrem nos colocam em “estado de alerta”. Aliás, nos levam a pensar que tudo pode se modificar de um momento para outro, uma vez que o mundo pode ser um lugar imprevisível.
Assim, penetramos na recordação do luto normal e deflagramos o luto coletivo. O luto normal é emerso pela morte de uma pessoa próxima, que representa o sentimento de perda de um objeto amado. É um processo fundamental para que possamos nos recuperar diante da ruptura de um vínculo.
Além disso, o luto é um desafio emocional e psíquico no qual todos nós temos que lidar, bem como atribuir um novo significado em relação às perdas de pessoas queridas, que pelo sentimento de tristeza pode-se estender por um ou dois anos. Porém, se diferencia dos quadros depressivos.
O luto coletivo é uma forma de cada um chorar as próprias dores. Por consequência, o sofrimento de outras pessoas são também sentidos por nós, já que lembramos o medo de perder familiares ou amigos em situações parecidas. Em vista disso, despertamos a nossa solidariedade pelas dores de quem perdeu seus entes nesses eventos.
É óbvio, que a morte faz parte da vida, mas não como algo banal ou gerada por comportamentos irresponsáveis, que consistem pela ausência de respeito e cuidado pela vida. É o que estamos assistindo, hoje, no Brasil.
O luto coletivo pode auxiliar na elaboração crítica dessas mortes, nos permitindo passar pela transformação causada pelo “adeus”. Então, podemos nos preparar como uma Nação, que não aceitará a tragédia como resultado da omissão, seja de quem for.
Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista
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