Autores

O que cair do cavalo me ensinou sobre o amor

Era Sexta-Feira Santa lá pelas duas da tarde e minha mãe avisou, antes de sairmos, que não deveríamos montar os cavalos naquele dia. Eu e meu pai balançamos a cabeça, mas quando chegamos ao lado dos animais, esquecemos de pronto o que ela tinha dito.

Era uma tarde mansa, daquelas de sol sereno beijando a grama alta e nós já tínhamos almoçado. Nós sim, mas os animais não, então, não demorou muito para que começassem a pensar não em trotar, mas em comer.

Depois de algumas voltas o meu cavalo viu de longe uma baia aberta e disparou, como sempre fazia quando queria feno. Disparou muito rápido e ignorou tudo que eu tentei fazer para pará-lo. Disparou e passou comigo por um vão que caberia ele, mas não eu. Saí do incidente com um braço quebrado e aliviada por estar viva. Depois daquele dia nunca mais voltei a montar. Minha mãe disse que tinha nos avisado e assim a vida continuou.

Diferente de mim, meu pai seguiu montando e o fazia no campo ou na cidade, passando por ruas e calçadas desenhadas para pessoas, bicicletas e carros, mas não para cavalos.

E o fez bem, até que um dia, depois de uma buzina, o cavalo o atirou com sela e tudo rio abaixo. Mais precisamente a cinco metros de onde ele estava. Acharam seus óculos caídos na margem e ele dentro do rio. Diferente de mim ele precisou não só de gesso, mas de cirurgia e platina.

E foi assim que eu, ao saber do acidente, fui correndo até o hospital e fiquei ao seu lado nos cinco dias de internação. Lá notei o recital de médicos que vinham, davam orientações e lhe ditavam que ele não devia mais montar.

“O senhor não deve mais fazer isso, não tem mais idade. Escapou com muita sorte” – falavam médicos, familiares e visitas e eu ao olhar para meu pai notava que ele apenas arregalava os olhos, sem nada dizer. Ele nunca disse que pararia de montar, nunca disse que trocaria de cavalo, nunca disse que aceitaria aquele susto como um ponto final. Também nunca delegou a culpa pelo acidente a ele, ao animal ou a quem buzinou.

Entendi ali que quem ama não desiste por medo, não desiste por razão ou sensatez alguma. Quem ama alguém ou uma atividade querida o faz porque o amor é maior que tudo, independente do que o mundo diz. O mundo pode condenar aquilo que amamos, mas se o amor é verdadeiro, ele vence todo e qualquer tipo de ponderação. Quando amamos caímos, mas voltamos a levantar, sem qualquer tipo de lástima pelo tombo. Tentamos quantas vezes forem necessárias, pois aquilo que nos move é único, verdadeiro e arrebatador.

Entendi que eu apreciava montar, mas não amava, por isso parei. Parei como paramos de fazer aquilo que parece bom, mas não nos é vital. Meu pai nunca escondeu que andar a cavalo era para ele como respirar.

E assim, ao sair do hospital, logo que a saúde lhe permitiu, ele contornou suas dores e voltou ao mesmo animal, da mesma forma, cavalgando nos mesmos trajetos, sem nunca lamentar-se pelo acidente.

O amor não pede explicações. Ao amor não cabe a culpa ou qualquer tipo de restrição. Quem ama simplesmente ama. E foi isso que o meu tombo e o dele, principalmente, me ensinaram sobre o amor sincero dedicado a uma pessoa ou a uma atividade.

Foi isso que dois acontecimentos bastante similares, contudo distintos, me ensinaram sobre a força teimosa e amorosa que existe em insistir naquilo que faz nosso coração, sinceramente, bater mais forte.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Vanelli Doratioto

“Palavras são mágicas, são como encantamentos sublimes que nos levam para onde quisermos, seja esse onde um lugar, um conceito ou uma pessoa”. (Vanelli Doratioto) Minha Página no Facebook: (www.facebook.com/vanellidoratioto) Meu instagram: (https://www.instagram.com/vanellidoratioto)

Recent Posts

Coisas tóxicas entre casais que estão sendo normalizadas e destruindo relacionamentos

Nos dias atuais, a superficialidade e a busca pela facilidade estão comprometendo a qualidade de…

15 horas ago

Fim de um ciclo: 4 signos se libertam de um karma de 10 anos em 1º de abril

A partir de 1º de abril, um poderoso movimento energético marcará o fim de um…

15 horas ago

Baba Vanga e a previsão assustadora para 2025 que se tornou realidade

A renomada vidente Baba Vanga, conhecida como a "Nostradamus dos Bálcãs", fez previsões que continuam…

15 horas ago

Daniel Alves pode ter indenização de até 68 mil após absolvição; Entenda

Recentemente, o ex-jogador Daniel Alves teve sua condenação anulada pelo Tribunal Superior de Justiça da…

16 horas ago

Os homens destes 4 signos são espetaculares no amor – Estar com eles é sinônimo de felicidade

O amor pode ser um dos sentimentos mais intensos e transformadores da vida. E, quando…

18 horas ago

O que você viu primeiro? Descubra seu maior desafio nos relacionamentos

A maneira como percebemos o mundo pode revelar muito sobre nossa personalidade, inclusive nossos maiores…

18 horas ago