“A alma do Homem é como a água; Dos Céus provém, para os Céus ascende e depois retorna à Terra, para sempre alternando.» Goethe
Todos nós já ouvimos falar de karma, mas será que sabemos o que realmente significa? Quem nunca ouviu a expressão «tudo o que vai, volta» ou «cada um colhe o que semeia»? Pois é, o karma é mesmo isso: o que quer que façamos, voltará para nós, a qualquer momento ou em qualquer lugar. A lei do karma diz-nos que o que nos acontece no presente é o resultado das causas que nós próprios pusemos em movimento no passado – quer tenha sido há cinco minutos, há cinco anos ou há cinco séculos.
O karma anda de mãos dadas com a reencarnação. O karma refere-se ao equilíbrio de ações, ao pagamento das nossas dívidas ou à expiação das nossas faltas, enquanto a reencarnação é uma porta para uma nova oportunidade. Portanto, a reencarnação é uma oportunidade de saldarmos o nosso karma. Ao longo das nossas várias vidas temos encontros com outras pessoas, encontros esses em que criamos karma ou, então, encontros que nos permitem colher as bênçãos das nossas boas ações.
O karma e a reencarnação mostram-nos que a nossa alma, tal como as estações do ano que mudam e regressam sempre ao ponto de partida, faz a sua jornada ao longo de uma senda de nascimento, maturação, morte e, finalmente, a oportunidade renovada de renascer. A nossa alma, através de muitas experiências de vida, tem a oportunidade de evoluir. Tal como a lendária Fénix se ergue das cinzas renascida, a alma renasce das suas vidas anteriores e tudo aquilo que somos hoje é o fruto do que fomos construindo no passado.
A lei do karma e da reencarnação ajuda-nos a perceber por que é que nascemos com um conjunto específico de aptidões e talentos, crises e desafios, encargos e aspirações. Todos os nossos pensamentos, palavras e ações vão criar uma causa e efeito, ou seja, experienciamos os efeitos de cada causa que tivermos posto em movimento. O karma é, portanto, o nosso maior benfeitor, ao fazer com que volte para nós o bem que tivermos feito aos outros. Da mesma maneira que colhemos o bem que fizemos, também colhemos o mal que semeamos. Esta visão não pode ser considerada como uma punição, mas sim como um ato de amor, pois não há maior recompensa do que ter a oportunidade de compreender as consequências dos nossos atos (ou da falta deles) para que a nossa alma possa progredir:
«O que somos hoje resulta dos nossos pensamentos de ontem… Se um homem fala ou age com a mente impura, o sofrimento segue-o, tal como a roda da carroça segue o animal que puxa a carroça… Se um homem fala ou age com a mente pura, a alegria segue-o como a sua própria sombra.», in Dhammapada.
Vida após vida, vamos alternando de papéis até expiarmos as nossas dívidas e colhermos as bênçãos que merecemos, fruto das nossas ações. Tal como nos diz o Dr. Brian Weiss, no seu livro Só o Amor é Real, a vida é uma escola de aprendizagem que nos permite evoluir somo seres espirituais:
«Homem? Mulher? No decurso das nossas vidas, mudamos de sexo, religião e raça de forma a aprendermos de todos os ângulos e pontos de vista. Estamos todos na escola. Nascimento? Se nunca morrermos realmente, então não nascemos realmente. Somos todos imortais, divinos e indestrutíveis. A morte não é mais do que atravessar uma porta para um outro quarto. Continuamos a voltar para assim aprendermos determinadas lições ou características, como amor, perdão, compreensão, paciência, discernimento, não-violência… Temos de desaprender outras características como medo, raiva, ganância, ódio, orgulho, ego… que são resultado de velhos condicionamentos. Só então podemos formar-nos e deixar esta escola. Temos todo o tempo do mundo para aprender e desaprender. Somos imortais; somos infinitos; temos a natureza de Deus.»
Mas por que é que não nos lembramos das nossas vidas passadas? De facto, Deus corre uma cortina, o chamado véu do esquecimento, para não nos recordarmos de vidas anteriores. Este véu é como um ato de misericórdia, pois temos uma missão para esta vida e não podemos concentrar-nos nas vidas passadas. De outra maneira, não conseguiríamos viver plenamente a vida presente. No entanto, por vezes Deus permite-nos aceder a memórias ou a fragmentos de vidas passadas para nos ajudar a compreender algum evento traumático da vida atual. Talvez com o acesso a essas memórias possamos curar o nosso coração e tomarmos o rumo certo para cumprirmos a nossa missão de vida, compreendendo com compaixão e perdão.
Não é essencial conhecer tudo a respeito das nossas vidas anteriores para podermos lidar com o nosso karma e fazer progressos espirituais. De igual modo, não devemos forçar essas memórias ou sentir frustração caso não consigamos desvendar a cortina. Se Deus quiser que saibamos, Ele mostrar-nos-á. O mais importante é continuarmos o nosso caminho fazendo o bem por nós e pelos outros. Mais cedo ou mais tarde seremos recompensados.