Os ciúmes envolvem amor? Esta é uma das questões mais comuns no que diz respeito aos relacionamentos amorosos. No entanto, isso não significa que seja verdade. Não há amor por trás dos ciúmes, e o fato de ser ciumenta não significa que uma pessoa se importe mais do que a outra.
Experimentar essa emoção desagradável e, às vezes, complexa, geralmente indica a presença de carências afetivas que levam à insegurança e ao medo. Os ciúmes são uma má companhia, e não trazem nada de bom a ninguém.
O que são os ciúmes?
Sentimos ciúmes quando percebemos a ameaça de que alguém nos levará um ente querido ou quando acreditamos que já o tiraram de nós. Ou seja, temos medo de perder alguém.
Dessa forma, criamos um triângulo interpessoal em que os principais protagonistas são a pessoa que amamos, um rival (que pretende ficar com ela) e nós. Essa situação, real ou fruto da nossa imaginação, implica que o nosso ego se sinta magoado e ferido.
Um estudo de Canto, García e Gómez (2009) aponta que: “é provável que o ciúme ocorra em resposta à ameaça de um rival que é considerado superior pela pessoa ciumenta em aspectos que são importantes para o seu autoconceito”.
O que significa isso? Que sentiremos ciúmes daqueles “rivais” que acreditamos ser superiores a nós.
A princípio, a nossa visão da realidade começa a se obscurecer enquanto os nossos níveis de suspeita e de raiva aumentam. Percebemos que a pessoa amada presta mais atenção ao outro e é mais carinhoso com ele(a), ou pelo menos acreditamos nisso.
Observamos que isso mostra aspectos de seu modo de ser que pensávamos que eram reservados apenas para nós. O que está acontecendo?
Os ciúmes podem ser imaginados, isto é, criados na nossa mente a partir de pequenos detalhes sem ter nenhuma evidência ou prova. Nestes casos, o problema está em nós mesmos.
No entanto, eles também podem acontecer em uma realidade objetiva: o nosso parceiro se apaixonou por outra pessoa. Nem todos os relacionamentos duram por muito tempo, e esse aspecto deve ser levado em consideração.
Ciúmes na família
Essas situações não aparecem apenas na esfera do casal, poisos ciúmes também podem surgir nas famílias. Quando um casal decide ter um segundo filho, o primogênito pode ficar com ciúmes.
Ele começa a acreditar que, com a chegada do irmão, receberá menos atenção e amor de seus pais. Por essa razão, o filho mais velho não aceita o novo irmão e apresenta comportamentos conflitantes com os pais e o ambiente.
Como reagimos quando sentimos ciúmes?
Por que comigo? Por que com essa pessoa? Por que ele está fazendo isso comigo? Essas e outras perguntas semelhantes aparecem automaticamente em nossas mentes nesses tipos de situações.
No entanto, a primeira reação emocional que costuma surgir é a raiva em relação à pessoa que consideramos nossa rival. O objetivo desta reação seria evitar a perda da pessoa amada ou se vingar de quem consideramos culpado pelo que aconteceu.
Por outro lado, podemos sentir raiva em relação à pessoa amada, já que também a consideramos culpada pelo que aconteceu. Em alguns casos, há pessoas que acreditam que o outro faz isso para irritá-las.
“Os ciúmes são uma má companhia, tendemos a confundir amor com apego. O amor é livre, o apego o torna vulnerável e dependente e, em resposta, sentimos que a outra pessoa nos pertence”.
O que muitas pessoas não sabem é que o ciúme é, muitas vezes, acompanhado por uma baixa autoestima e um forte sentimento de insegurança. No final, é como se eles não se considerassem ‘bons o suficiente’ para o outro, mesmo que não percebam dessa maneira.
No entanto, também pode haver uma relação de propriedade em que a mensagem em segundo plano costuma ser “você é meu, então preste atenção em mim”.
A partir dessa perspectiva, além da raiva, a ansiedade também aparece, portanto, não é de surpreender que a pessoa ciumenta comece a tentar exercer o controle da situação para não perder a pessoa amada.
A relação entre insegurança e ciúmes
As nossas inseguranças nos levam a desconfiar de muitos aspectos que nos cercam, mas acima de tudo, das pessoas. Adorno (1950) dizia que uma mente com uma estrutura cognitiva mal elaborada resulta em insegurança, bem como em uma baixa autoestima.
Segundo o autor, as mudanças sociais ocorrem em tal velocidade que é muito difícil construir uma estrutura cognitiva saudável.
Uma das maneiras de tentar aliviar a nossa insegurança e baixa autoestima é através de uma personalidade autoritária. Portanto, precisamos controlar os outros para nos sentirmos melhor em relação a nós mesmos.
Erich Fromm, em seu livro ‘O Medo da Liberdade’, de 1941, assegura que o homem busca a liberdade, mas quando a encontra, sente-se inseguro e se esquiva dela. Fromm garante que uma maneira de evitar essa insegurança é controlando os outros.
Portanto, os ciúmes seriam motivados por uma personalidade insegura e uma baixa autoestima. Por essa razão, em vez de culpar e ficar obcecado com o comportamento da outra pessoa, devemos começar a olhar para dentro de nós mesmos.
Viagem interior
Antes de começar qualquer relacionamento amoroso, seria muito conveniente e até necessário fazer uma grande jornada interior. Quando os ciúmes fazem parte do nosso relacionamento, sem dúvida algo não está bem com nós mesmos.
Então, é hora de mergulhar em tudo que se esconde em nossa mente e começarmos a nos conhecer um pouco mais.
“O verdadeiro amor é desejar que todos os seres sejam felizes e tenham as causas da felicidade. Se amamos parcialmente e nos apegamos, podemos cair em uma relação de dependência que pode nos levar a sofrer grandes crises de ciúmes”.
Alguém que não sabe ficar sozinho, isto é, alguém que precisa de outra pessoa para ser feliz, em vez de criar um laço amoroso saudável, construirá um relacionamento dominado pelo apego. Com isso, alimentará a crença de que a outra pessoa lhe pertence e tem a obrigação de fazê-lo feliz.
Em um relacionamento amoroso saudável, somos nós que buscamos a felicidade de nosso parceiro e deixamos de lado a nossa longa lista de exigências.
Portanto, é necessário refletir sobre se aceitamos a outra pessoa como ela é ou se estamos procurando alguém para moldá-lo às nossas necessidades.
Conclusão
Por fim, gostaria de terminar o artigo com algumas palavras da monja budista Tenzin Palmo: “Imaginamos que o apego que temos em nossos relacionamentos mostra o quanto amamos. Na realidade, o apego causa dor porque quanto mais nos apegamos, mais medo temos de perder. E quando perdemos, sofremos muito. O apego diz ‘eu te amo’, portanto, eu quero que você me faça feliz. Por outro lado, o amor genuíno diz ‘eu te amo’, portanto, eu quero que você seja feliz”.
Por isso, se queremos eliminar os ciúmes das nossas vidas, por que não nos libertamos dos laços emocionais internos e nos concentramos em trabalhar a nossa autoestima?