O dia 9 de novembro de 1989 marcou a queda do vergonhoso muro de Berlim, sendo um dos fatos mais importantes do século 20, que nos leva a refletir que o desejo de liberdade e democracia é capaz de derrubar as muralhas que separam os países. Sobretudo, desconstrói os muros ideológicos que são erguidos no coração e na mente das pessoas.
Após vencer a segunda Guerra Mundial, Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética acordaram em dividir a Alemanha. Assim no oeste, surgiu a República Federal da Alemanha, enquanto no leste, foi criada a República Democrática Alemã.
A implantação do regime soviético levou 3,5 milhões de pessoas a fugir do leste para o oeste, em busca de uma nova vida. Mas Berlim era o enclave, que se tornou um problema para os soviéticos, e para tanto, eles construíram um muro para dividir a cidade, que foi erguido em 13 de agosto de 1961.
Essa divisória foi projetada para impedir a passagem dos habitantes entre as duas regiões, que por uma imposição ideológica: ergueu-se um paredão que se estendeu por 155 km ao redor de Berlim Ocidental, com 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas e 3,5 metros de altura que foi reforçado com cabos de aço.
A construção dessa muralha resultou na morte de 136 pessoas de 1961 a 1989. E outras 200 ficaram feridas e 300 foram presas, contudo, 5.000 atravessaram de Berlim Oriental para Berlim Ocidental ao longo dos 28 anos em que o muro separou a cidade.
Aliás, o muro causou uma separação traumática, gerando sofrimento físico, psíquico e emocional entre milhares de famílias e amigos, que passaram quase três décadas sem se ver.
Mas há 30 anos a população, após tanta humilhação, decidiu derrubar o muro, que oficialmente foi demolido em 13 de junho de 1990, dando o início a reunificação da Alemanha.
Porém, a importância histórica da queda do muro de Berlim não foi suficiente para impedir, que em diversos países e na Europa fossem erguidos os “muros contemporâneos” de expansão dos discursos xenófobos, homofóbicos, misóginos, racistas e de incitamentos ao ódio.
Os recentes dados da ONU mostram que mais de 2.000 imigrantes e refugiados morreram ao atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa. E quase 105.000 solicitantes de asilo e imigrantes chegaram ao continente europeu, todavia são vítimas de xenofobia.
Também há outros muros da vergonha: entre Marrocos e a Espanha, o que separa a fronteira EUA-México, o que divide a Coreia do Sul e Coreia do Norte, e o da Cisjordânia que isola Israel do território palestino.
No Brasil se erguem os paredões dos discursos de intolerância contra os negros, indígenas, imigrantes, mulheres, LGBTI, moradores de favelas, entre outros.
Segundo o IBGE, o que mais cresce é o muro da desigualdade, que permitiu que a extrema pobreza chegasse a 13,5 milhões de brasileiros sobrevivendo com até 145 reais mensais.
Nesse cenário o desemprego atingiu 12,5 milhões de pessoas, e o percentual de ambulantes nas ruas pulou mais de 500% entre 2015 e 2018.
Os negros são os mais atingidos, onde taxa de desocupação chega a 14,1%, e quase um em cada dez é analfabeto e a metade não tem trabalho formal ou acesso a esgoto.
Hoje, os muros são os mecanismos de controle social, econômico e político da população, que são os símbolos do medo.
Para o sociólogo Zygmunt Bauman, isso é um sofisticado sistema de segurança contra o perigo do estranho e do diferente.
No entanto, a solução para os conflitos entre as pessoas e os países é a construção de mais “pontes” de diálogo e solidariedade do que muros de intolerância e ódio.
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