Talvez você seja vendedor convencional, viva de pintar quadros, trabalhe educando crianças numa escola primária, lide com a complexidade do comércio exterior, tenha um restaurante gourmet, escreva dissertações acadêmicas, ou simplesmente tenha que lidar diariamente com clientes diversos e mercados comuns.
Em determinado momento da sua vida, você vai ouvir a pergunta: “Você faz isso por dinheiro ou porque gosta?”. Em qualquer canto da sua vida, essa pergunta vai aparecer. E você terá dificuldade de responder com toda certeza que está fazendo a melhor coisa que poderia fazer no mundo.
O ser humano é infinitamente capaz. E isso, nos confunde. Somos lições diárias, habilidades acumuladas e competências diversificadas. Talvez o erro seja esperamos sempre que alguém ou alguma coisa nos diga exatamente o caminho que devemos percorrer. Buscamos que isso tudo nos dê a certeza que podemos seguramente seguir nesta direção de conforto e alívio.
No entanto, essa certeza é inviável. É de uma inexatidão assustadora. O modo de olharmos para aquilo que fazemos — como se isso fosse a nossa única identidade — tornará, no futuro, o nosso maior carrasco.
Todo mundo tem dentro da sua cabeça um discurso que deflagra uma desconfiança da sua própria vocação diária. A verdade é que somos diversos recortes de nós mesmos, do que fazemos, do que pensamos, de como enxergamos a nossa própria construção de realidade.
E quer saber? Ninguém aguenta permanecer muito tempo num posto que seja mais um lugar-comum, que seja a mais precisa falta da dimensão de propósito e de realidade.
Quando nossa identidade torna-se apenas aquilo que fazemos, descobrimos que, momentaneamente, na falta de tarefas, somos empurrados para a mais concreta impressão de inadequação e senso de si. Este é o ponto de muita gente que encontro nessa caminhada vocacional.
Não interessa o que você quer, pode ou deve fazer da sua vida. O mais importante é ter a coragem de perguntar-se, antes de tudo: O que estamos omitindo da nossa própria verdade? O que é importante para que eu possa ter a certeza que estou fazendo algo extremamente relevante?
Perceba: Atingir um patamar profissional invejável, ter uma grande quantidade de seguidores, ser capaz de falar com muita gente ao mesmo tempo, nem sempre significa alcançar a maior dimensão da realidade do que realmente importa para nós.
O sujeito que tem a coragem de omitir essas perguntas acima perde a oportunidade de dedicar-se de todo o coração a alguma coisa real. Sem que faça da necessidade econômica seu maior alvo. No final das contas, ele não tem nem o prazer e nem a riqueza. E o único prejuízo essencial é ter tudo, menos o controle da própria narrativa.
Nesta direção, o sentido para o que fazemos não está em apenas contabilizar vitórias e as esfregar no rosto da sociedade como uma espécie de alto consolação, nem tampouco em deixar de fora da vida o prazer para ir em busca de uma vocação prática e despreocupada com os pequenos confortos.
O mundo não pode ser dividido em pessoas que vivem na esperança de enriquecer como resposta a sua impossibilidade de alcançar uma auto percepção saudável e em sujeitos que estejam integralmente inseridos numa sociedade injusta, mas que encontram na crítica do imediatismo materialista a própria desorientação vocacional.
Ninguém por mais bem-sucedido ou fracassado que seja quer assistir o assassinato brutal do seu próprio sentido da vida.
Desde que entendi que a realização da minha vocação — que é claramente sabida como de um escritor — não deve se prender a mera busca pelo emprego ideal, ou apenas focado numa subsistência e desprovido de qualquer importância própria, passei a respeitar o meu próprio futuro como gente.
Descobri aos 28 anos — o que considero pode parecer tarde demais — que entre o trabalho expressamente inevitável e a obsessão pela diversão, existe um encontro possível.
Talvez seja essa a única explicação de como podemos cruzar com gente de pouco retorno financeiro, mas que são brilhantemente satisfeitas com o que tem, ao passo que encontramos almas cheias de revolta que cegamente acusam o trabalho de ser o ladrão de vida e o algoz da sorte.
Para quem não faz ideia do que está fazendo da sua própria vida, o caminho errado não deveria ser objeto do seu estudo, mas sim a busca incessante pelas maneiras de desenvolver o alívio mais óbvio.
A tragédia vocacional tem o tamanho exato entre a dor inevitavelmente saudável do ofício e o prazer ficcional das nossas próprias expectativas.
O fazemos da nossa vida pode ser uma explosiva acumulação de paixões, mas pode ser também a nossa demagogia predileta. Eu decidi mudar a tônica minha vida. Aprendi que posso viver sendo quem eu preciso ser.
Para quem ainda insiste em ficar nessa corrida incessante da vida moderna, a minha esperança é um dia vê-lo do lado de cá e te ver desfrutando de uma vida com mais sentido.
Todo Comportamento Reflete uma Condição: Saber Distinguir Pode Oferecer Soluções para a Remodelação Pessoal A…
Exposição de Crianças Superdotadas nas redes sociais é excessivamente superior no Brasil do que em…
Halloween: Como o nosso cérebro interpreta o medo? Os sustos e o medo são processos…
Dia do Professor: Profissional que criou método inovador explica o que deve ser transformado na…
Baixa motivação diurna: como metas diárias podem ser a chave para regular o humor e…
A Complexa Relação entre Psicopatia e Inteligência: Reflexões a partir da Neurociência e da Ficção…