Existem fatos passados que desejamos esquecer e outros que nos deixam saudosos e com vontade de viver de novo tudo aquilo; ou seja, os tempos idos podem ser fonte de arrependimento ou de satisfação. E, certamente, o passado é algo que não volta mais, apenas pode ficar guardado em nossas lembranças e em nossos corações. Saber lidar com o equilíbrio entre o nosso ontem e o nosso hoje é, por isso mesmo, uma arte.

Há quem se prenda a um amor da juventude que não deu certo; quem se lamente por aquela amizade não cultivada; quem se incomode pelo que deixou de fazer; quem se afoga em palavras não ditas; quem quer voltar e fazer tudo de outra forma. De nada irá adiantar olharmos o que passou como o lugar de nossos erros, o lugar onde escolhemos tudo errado, porque, mesmo que não possamos consertar o que é ido, ao menos poderemos nos voltar ao que virá com a certeza de que agora será diferente.

Existe, também, quem enxergue o passado como um local melhor e mais feliz, onde tudo era mais simples, fácil, onde a felicidade era muito mais intensa. Nesses casos, o saudosismo exagera os tons rosáceos daquilo que passou, muitas vezes utilizando-se desse expediente como escapismo ao medo de enfrentar as dificuldades de um hoje desagradável. Inútil tentativa de fuga, uma vez que o tempo presente sempre estará ali na nossa frente, clamando por atitudes de nossa parte.

Na verdade, o passado deve ser encarado como aprendizado, como lição para nossas vidas, no sentido de nos fazer repensar nossos comportamentos e nossas atitudes, para que possamos nos tornar seres humanos melhores. Enxergar onde erramos nos ajuda a não voltar ao erro, bem como perceber o que foi bom nos ajuda a manter em nossas vidas tudo aquilo que nos faz bem. É assim que acertamos quanto à ponderação sobre tudo o que precisamos romper ou manter junto de nós.

Não podemos romantizar nem desmerecer o que passou, mas sim conduzir o presente a partir das reflexões que fizermos frente ao que vínhamos escolhendo até então. Perdemos muito com o passar do tempo, porém, tudo o que somos, temos, tudo em que acreditamos faz parte da construção de nossa jornada. Não seríamos tão especiais e únicos sem ter errado, sofrido e sem ter vivenciado tudo de bom que nos aconteceu.

Enfim, ou levamos conosco o passado, já digerido, enquanto caminhamos pra frente, em movimento contínuo, ou paralisamos inutilmente sob o peso de lamentações ou de idealizações inservíveis. Vida que segue, sempre.

 








Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.