“Não existe fracasso escolar, existe o grande amor das crianças por seus pais.” Dita assim, a frase pode parecer sem sentido. Mas inserida no contexto da pedagogia sistêmica é a resposta para o maior dos desafios da educação.
O assunto foi tema de uma palestra proferida por Angelica Olvero na Universidade de Brasília, nesta segunda-feira (25). Diretora Corporativa Acadêmica e de Investigação Educativa da Universidade Emílio Cárdenas (CEDUC), ela estuda e forma professores nessa especialização há 16 anos.
Ao longo de seus 46 anos de formação em pedagogia, Olvero diz ter encontrado a solução para os principais problemas da educação, na união da base teórica da pedagogia aos ensinamentos do filósofo e professor alemão Bert Hellinger, o criador das constelações familiares. Saiba mais.
O resultado é uma abordagem mais completa e sensível do histórico de cada membro participante do processo de aprendizagem. Em sua apresentação, Olvero pediu que espectadores representassem pai, mãe, criança, escola, professora, ensino da matemática e violência. Com um trabalho semelhante ao feito na constelação familiar, ela mostrou quais são os cinco principais problemas encontrados nas escolas atualmente:
Quando a professora ou o professor percebe na criança a ausência da mãe ou do pai e se sente no dever de assumir esse papel, a aprendizagem é prejudicada. Em vez de atuar como mestre e se concentrar na transmissão do conteúdo, passa a cuidar, consolar, ajudar a criança que está passando por algum problema, colocando o ensinamento e as outras crianças em segundo plano.
Se as crianças não vão bem na escola começa um jogo de empurra. A família culpa a escola. A escola culpa o professor. O professor culpa a criança. A criança se sente culpada e a família se volta contra a escola. Segundo Angelica Olvera, a solução para esse conflito é o respeito. Os dois espaços, tanto o escolar quanto o familiar, precisam ser respeitados para que a criança se desenvolva bem.
Onde está a atenção da criança que não consegue se concentrar na escola? O que a preocupa? De acordo com Olvera, essa é a reflexão que pais e mestres precisam fazer para descobrir a origem da agitação ou tédio que impedem as crianças de aprender.
“Tenho, na minha biblioteca, mais de cem livros sobre o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. Mas a resposta não está lá. Está aqui”, disse ela.
De acordo com a especialista, se a criança não quer ir para a escola é porque existe algo mais importante a preocupando. Ela se sente no dever de cuidar do pai, da mãe, dos irmãos, que podem estar passando por alguma dificuldade. Ela sente, sabe e precisa ajudar.
“Nós compramos livros, fazemos cursos e nada funciona. Viajei muitíssimo. Nenhuma escola do mundo tem a resposta porque é isso. Ninguém tem culpa. Só que a criança precisa estar com a família”, explica.
Para Olvera, o problema começa na família. A violência presente em uma família desestruturada, onde existem ameaças, discussões, agressões, se expande até a escola, onde as crianças reproduzem o que sofrem, prejudicando outras crianças e famílias. A grande incoerência, no entanto, é que para acabar com a violência, a escola gera mais violência, com medidas punitivas e improdutivas. A solução, na opinião de Algelica Olvera é tratar as famílias individualmente por meio da terapia sistêmica de Bert Hellinger.
Os pais tanto das crianças quanto dos professores também precisam estar presentes na escola para que o aprendizado seja efetivo. São as raízes, as origens e não podem ser desprezadas, diz ela. Na palestra, Olvera lembrou o caso de uma professora que costumava colocar quadros dos próprios pais na sala de aula e os apresentava as crianças. Ela pedia para que os alunos também trouxessem, simbolicamente, os pais para a escola.
“Nessas horas, sempre tem alguma criança que diz: ‘Não conheço meu pai’. E ela respondia: ‘Mas eu conheço seu pai. Eu vejo ele bem aqui, na minha frente, porque você é a metade dele. Vamos desenhá-lo’.”
Segundo Olvera, muitos problemas escolares são resolvidos como mágica, quando as crianças fazem esse trabalho de trazer suas origens para a sala de aula.
“A criança que não consegue aprender matemática não consegue somar seu pai e sua mãe. As matemáticas são somas. Esse é o segredo da matemática. Todas as disciplinas têm seus segredos.”
É a consciência desses segredos por parte das professoras e professores, das mães e pais e da escola que faz com que as crianças tenham êxito no aprendizado.
“Essa é a solução dos problemas de todos os países porque o problema de todos os países é a educação”, completou.
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