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Perdoar a si e aos outros é difícil, mas é a chave que te libertará da prisão do passado

Dentro de um quarto escuro se encontra uma pessoa acorrentada pelo pé direito. Uma grossa corrente de ferro a prende desde o tornozelo até uma bola de ferro bem pesada. Ela mal consegue se mexer. É doloroso cada esforço que ela faz para ir em direção á luz fraca que passa entre as brechas da porta que há naquele quarto. Então uma voz soou de um alto-falante que está escondido em algum dos cantos. E a voz mansa e aveludada fala o seguinte: “No bolso da sua calça jeans há uma chave. A use para abrir a fechadura que tem na corrente que te prende a essa bola”. Porém, essa pessoa presa ouve a voz e se recusa a obedecê-la porque a bola que a prende se chama Passado e a chave em seu bolso tem o nome de Perdão. Por isso, ao ponderar sobre a dor que sente ao andar e a dor que sentirá quando tentar perdoar para ficar livre, ela acha que continuar presa causará menos prejuízos.

E muitas pessoas nesse exato momento também estão presas em quartos escuros de seus corações feridos e se recusam a serem libertadas do passado, pois o ato de pegar a chave do bolso e gira-la na fechadura aparentemente dói mais que continuar vivendo sob o peso de dores antigas. Pois sempre que se imagina livre e vivendo o novo, vem na mente aquele peso da culpa de algo que fez errado há meses ou até mesmo anos atrás. Vem também o medo de receber machucados novamente se voltar acreditar nas pessoas e abomina a ideia de amar outra vez, já que os riscos ainda existem e diz que não suportaria ter ferimentos como antes. E ainda vem a frustração e decepção pelas tentativas que fizera, mas que não deram bons resultados. Assim acha que o passado vai se repetir caso tente seguir em frente agora. Tudo isso são fantasmas que assombram a mente e coração de uma pessoa que tem uma segunda chance, mas se recusa a tomar posse dela.

Essas prisões em quartos escuros se tornam verdadeiros lares para alguns. Se tornam suas zonas de conforto e um lugar conhecido onde se escondem, se refugiam e acham que estão totalmente protegidos contra o mundo que os assusta. Mas isso não é vida, é apenas sobreviver, vegetar, permitir que o coração bata desde que ele não sinta mais nada. Pessoas que tem potencial para avançar, conhecer lugares e pessoas novas, sonhar novamente, planejar e executar projetos que mudariam para melhor suas vidas. E é triste ver tamanho potencial, força, sorriso que poderiam ser dados, se afogarem em um mar de medos, ressentimentos, dúvidas e ferimentos que ainda não cicatrizaram. Onde o mais triste é se olhar no espelho e perceber que é uma dessas pessoas. Por isso, digo que a chave para a libertação do passado assombroso é o perdão porque eu já a peguei no bolso, me abaixei com dificuldade, a coloquei na fechadura e girei. Então eu corri até a porta.

A luz do lado de fora quase me cegou, pois fazia um tempo que eu estava no escuro. Na verdade, faziam anos que eu continuava nadando no medo de ser ferida por uma pessoa que me convenceria com mentiras e um falso amor. Me ressentia com a ideia das pessoas quererem me enganar outra vez e não se importarem com a destruição que provocariam dentro de mim. Eu não suportava nem pensar que todo aquele passado pudesse se repetir caso eu saísse do quarto escuro. Mas a verdadeira Liberdade falou comigo através daquele alto-falante e disse que lá fora existia algo bom para mim. Que eu precisava agarrar essa chance e não deixa-la escapar, pois a vida passa mais rápido quando me recuso a viver sozinha sem amor. Mas havia uma condição para sair: perdoar.

Foi quando aprendi que o perdão não é liberado porque alguém merece, pois na maioria das vezes as pessoas erram intencionalmente e querendo machucar. Por isso é tão difícil tirar a raiva do coração e dar lugar para o perdão, pois a pessoa parece ser a última do mundo que merece ser liberta da culpa daquilo que causou. Mas eu percebi que existe um perdão ainda mais difícil e doloroso para ser liberado: o perdão para si mesmo. Você se culpa, se acha um lixo, um burro, um trouxa, um idiota, e tantas outras coisas mais. Acha que merece continuar com raiva de si mesmo e que por isso não deve ser feliz, pois acabará estragando tudo novamente e pode ferir os outros. Entretanto, perdoar a si mesmo e aos outros é um dos mais belos atos de amor. Tanto amor próprio quanto amor ao próximo. Mesmo que sejamos criaturas inclinadas ao erro e que muitas vezes sentem prazer ao ver a queda dos outros, precisamos nos dar essa nova chance que é concedida através do perdão.

Perdoar é desafogar o coração que nada em um oceano de sentimentos ruins que fazem mal tanto para alma quanto para o corpo. É dizer que como pessoa não perfeita pode cometer erros e até mesmo fazer algo ruim que jurou nunca praticar. E que os outros por também serem humanos imperfeitos podem cair, ferir, enganar, mentir. Mas eles têm a oportunidade de se arrepender, tentar consertar e colar o que quebraram. Eles podem aprender com o que fizeram e nunca mais podem cometer aquilo. Podem se tornar pessoas melhores, mais experientes e que são mais conscientes de seus atos, tomando mais cuidado ao manusearam o coração dos outros. E conosco também pode ser assim. Vamos amadurecer, nos tornarmos pessoas melhores que antes, menos orgulhosas, ser humildes o suficiente para reconhecerem a própria queda e para oferecerem a outra face se necessário for. Isso nos deixa mais próximos dos seres humanos que seriamos antes do erro sujar o mundo.

Além do mais, aprendi também que quanto mais perdoo mais eu amo, tanto me amo mais quando me perdoo e me dou um recomeço, quanto amar os outros e dar a eles oportunidades de serem melhores. Mas não quer dizer que eles precisam continuar nas nossas vidas como antes, porém que eles precisam ser livres da culpa que está sobre eles e do ressentimento que podemos carregar. Isso deixa o coração mais limpo, arejado, livre para receber algo novo que será bom. É viver olhando para á frente e não mais para trás, pois nosso destino está no futuro e não no que nos aconteceu. Portanto, o perdão é a chave que abre antigos cativeiros e prisões, dando a liberdade que recebemos da própria Liberdade, que, pessoalmente, para mim é ninguém menos que Jesus. Mas para os outros ela pode significar outra coisa. Porém, o importante é ser livre para abraçar o recomeço e reconstruir o coração que pode estar em pedaços dentro do quarto escuro.

Tatielle Katluryn

Tatielle Katluryn, florescida em 1996, com sangue Maranhense e coração pertencente ao céu. Sou cristã e estudante, apaixonada por livros do séc. XIX e Astronomia. E Deus me chamou para falar aquilo que Ele quer dizer as pessoas, para levar a paz a corações tão ansiosos quanto o meu. É tão linda a forma que Ele me cuida enquanto me usa para fazer sua vontade e só tenho a agradecer por tamanho amor que me consertou sem eu merecer.

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