A raiva passa, o amor acaba, a mágoa se acalma, a dor ameniza, a agonia tranquiliza, a agressividade suaviza, o rancor atenua. O ressentimento amortece, a ira aveludada, a gana amansa, a desilusão amolece. Isso tudo, é claro, com muita maturidade, uma dose de serenidade, uma pitada generosa de resiliência e com o bom e velho passar do tempo.
Misturando, nos desprendemos, sacudimos a poeira e aceitamos os términos que a vida nos encoraja a enfrentar. Todos são assim? Claro que não, só os mais evoluídos.
Maldizer, praguejar, se derreter em prantos, ser sinônimo de desespero, se vitimar e humilhar tem prazo de validade. Deve ser tratado como perecível, posto que nos estraga num piscar de olhos.
Ainda que a cicatriz esteja sensível, o roxão visível, a ferida latente. Desapega. Pare de ficar revirando histórias de páginas que já foram folhadas. E se estiverem coladas, rasgue-as. Para seguir em frente, é preciso dar o primeiro passo, escolher uma direção. Estagnar não leva a lugar algum.
Persista, insista, mas se nem assim for suficiente, em nome da sua própria felicidade, jogue a toalha, bata na lona e volte a lutar quando estiver pronto. Vista-se do seu sorriso mais bonito, esvazie a alma, respire fundo, recomponha seu coração. Acredite, ele seguirá batendo.
Despedir-se faz parte da vida. Deixar partir o que não lhe pertence, o que não é seu, da mesma forma. A areia, quando fina, escorre pelos dedos, por maior que seja nosso sacrifício em retê-la nas mãos. Não sufoque o outro, muito menos a si. Agarrar-se em esperanças falsas, palavras vazias, promessas infundadas é como tentar fazer fogo com água.
Molhar-se com chamas. Dançar com passos desencontrados, remar contra correnteza, é cansativo demais. Se os cacos não puderem ser colados, varre tudo que sobrou para longe. Só quem se desprende sabe o que é viver em paz.
Solte as amarras que te prendem aquilo que não mais te pertence e vá ser feliz.