Eu vejo você, ouço seu choro e sinto a sua dor. Eu sinto.

Parece que nunca vai acabar, não é? Parece que seu corpo inteiro está pregado em uma poça de piche, que seu céu é sempre nublado e que chorar e lamentar são tudo o que sabe fazer. Ah, como é difícil…

Mas, espere, preste atenção, observe bem à sua volta: o mundo parou para ver você chorar?

As pessoas deixaram de viver a própria vida porque você está sofrendo? Não. Tudo continua exatamente igual, só você que, há meses, se encontra do mesmo jeito. Já está na hora de sair desse quarto, viu? Já está na hora de respirar ar puro lá fora e limpar seus pulmões. Já está na hora de deixar essa dor ir…

Eu ainda vejo você. Entendo que, de milhares de formas diferentes, a dor nos visita e conheço algumas delas, não todas. Sei que algumas são fortes demais, e nos dá aquela vontade de desistir. Mas desistir de quê? Da própria vida? Mas, se ela é sua, não deveria fazer o melhor dela, mesmo que as várias causas de dor venham visitá-lo(a)?

Leia agora com atenção. Todo mundo, neste exato momento, vive um tipo de dor, todo mundo, neste exato momento, tem algo guardado no coração que já quase o fez desistir de tudo um dia, todo mundo já passou ou vai passar por algum tipo de dor, você não está sozinho(a). E, se parar para comparar sua dor com a dor de alguém, quão imensa será sua dor mesmo? Imensa que chega a ser maior que você?

Como pode isso? Como pode qualquer coisa ser maior que você?

Aprendi que a dor é como aquelas brasas em que pisamos descalços em noite de São João, no interior. Elas servem para pagarmos promessas, nossos pecados ou para demonstrar a nossa fé em passar pelo fogo sem sairmos queimados. Já ouvi dizer que muitos pés saíram em carne viva, mas se curaram no inverno seguinte, e tudo ficou bem. A experiência lhes serviu como penitência, como alerta para um “oh, você não tem tanta fé assim, por isso se queimou.” Isso prova que nós nos queimamos quando não temos fé. Deixamos doer e vamos deixando por muito tempo, porque não entendemos o poder que essa dor tem de nos provar o quanto somos gigantes!

A dor vem quando perdemos alguém mas, se tivermos fé, entenderemos que as pessoas vão mesmo um dia e, com certeza, para lugares melhores que este planeta, e tudo fica bem. Lá no peito, a saudade, a perversa saudade, mas ela não nos ausenta do mundo, não nos deixa no escuro, ela apenas abraça nosso coração e assim caminha junto de nós a vida inteira…

Quando somos abandonados por um amor, sofremos como se não houvesse outra coisa na vida além da pessoa que nos feriu e só pensamos nela, só focamos nela e nada em nós, por que, se pensássemos em nós, entenderíamos que fomos abandonados porque não fomos suficientes para aquela pessoa, e que ela, infelizmente, não tinha a menor condição de reconhecer o nosso valor. E ia ficar uma dor mais amena, mais leve, que não nos tomaria tanto tempo e tantos lenços.

Se há uma decepção, daquelas de cortar o coração, ficamos tanto tempo presos ao ato contra nós que, mais uma vez, nos esquecemos de quem somos, do que fazemos, do por que estamos vivos. Concentramo-nos demais na dor que mistura orgulho, ego, baixa autoestima e parecemos enlouquecer. Enlouquecer? Veja que ironia, enlouquecemos porque não vimos que aquela pessoa não era o que dizia ser, enlouquecemos porque a realidade se abre à nossa frente e, em vez de agradecer por termos visto a verdade, choramos, queremos punir e nos punimos, pois não abandonamos a dor. Nós nos apegamos a ela.

Deixe a dor ir, deixe-a partir, olhe para você agora, veja como está. Está se desfazendo dia após dia enquanto o mundo segue.

Está perdendo seus melhores dias enquanto pensa que tudo o que merece é sofrer essa dor, mas não é, não! A dor vem para nos ensinar e depois vai embora, não fica, não tem de ficar. Entendeu?

Levante sua cabeça e abra a janela, ainda há flores! Você está perdendo o desabrochar das flores, está perdendo o sorriso do seu filho, a companhia de seus pais, o café com o amigo naquela tarde de domingo… Está perdendo tantos outros livros que poderia ler, tanta coisa que poderia aprender, tantas piadas ruins que poderia ouvir e que lhe mostrariam que você precisa disso, de um pouco de leveza, de cheiro, de sabor, de vida!

Deixe sua dor ir embora enquanto cores maravilhosas circundam seu corpo agora, trazendo-lhe de volta a energia da vida e o conhecimento pleno do porquê você foi visitado(a) por essa dor. Uma atitude errada sua a provocou? Ótimo. Mude de atitude daqui para a frente. Perdeu um ente querido? Eu sinto muito. Ore por ele todo dia e ele entenderá que sua vida precisa seguir. Seu casamento acabou? Talvez eu lamente; talvez, não. Houve um motivo para ele ter acabado, aceite-o. Renove sua vida, faça coisas diferentes daqui para a frente. E, para todas as outras dores, tente pensar por que elas vieram e o que elas quiseram ensinar a você, e aprenda com elas. Em seguida, cure suas feridas, deixe-as cicatrizar e volte a caminhar.

Façamos agora, um minuto de silêncio para que a nossa dor vá embora… está feito.

Que Deus abençoe seu coração e que esse coração reconheça sua força e saiba de sua capacidade de se renovar sempre.








Escritora, blogueira, amante da natureza, animais, boa música, pessoas e boas conversas. Foi morar no interior para vasculhar o seu próprio interior. Gosta de artes, da beleza que há em tudo e de palavras, assim como da forma que são usadas. Escreve por vocação, por amor e por prazer. Publicou de forma independente dois livros: “Do quê é feito o amor?” contos e crônicas e o mais espiritualizado “O Eterno que Há” descrevendo o quão próximos estão a dor e o amor. Atualmente possui um sebo e livraria na cidade onde escolheu viver por não aguentar ficar longe dos livros, assim como é colunista de assuntos comportamentais em prestigiados sites por não controlar sua paixão por escrever e por querer, de alguma forma, estar mais perto das pessoas e de seus dilemas pessoais. Em 2017 lançará seu terceiro livro “Apaixonada aos 40” que promete sacudir a vida das mulheres.