É a tua hora, bravo e velho ano que chega ao fim. Vai em frente, humilde e honesto, tu que já foste amanhã, ocupar teu lugar nos dias de ontem. Nós seguimos daqui, curiosos quanto ao que virá, gratos pelo que passou. Agradecidos por conta ou apesar dos doze meses que nos deste um depois do outro, cumprindo honrosamente o calendário combinado.

Para muitos de nós, foste um tempo severo, duro, violento. Esses te querem longe. Outros terão saudade de teus dias longos, teus escândalos, teus instantes insanos e tuas horas mansas, teus encontros e desencontros, tuas angústias e esperanças – esses te guardarão na lembrança com carinho.

Acontece é que agora, tanto para quem te quer distância quanto aos que te encerram afeto, é tempo de despedida. Adeus, ano velho! Vai-te adiante, reencontrar tuas horas, teus dias, tuas semanas e teus meses numa só lembrança.

Vai com os braços escancarados, em festa. Vai rever tuas trezentas e sessenta e cinco manhãs, arder de saudade boa no solzinho de tuas tardes, sonhar esperanças em tuas noites. Elas te esperam cantando em coro, afinadas como velhas cantoras, as canções que enfeitaram teus dias e amansaram tuas dores. Vai te juntar a tua gente em algum bar recendendo alegria numa confraternização amorosa, celebrando teus momentos como obras-primas.

Vai tranquilo, goza sem medo a sensação saborosa do dever cumprido. Honraste teu prazo, trouxeste-nos à porta de teu irmão mais moço e cá estamos, caminhando juntos até o futuro ali em frente. Agora é conosco. Cabe a nós apertar o passo e enfiar a cara nos dias e tardes e noites que virão, como quem avança para uma multidão de rostos desconhecidos.

Uns sorrirão simpáticos, outros esbravejarão. Mas que importa? Eles virão por nós. Vamos a eles com fé, sem medo. Vamos de passos firmes, coração amoroso e mãos estendidas. As mesmas que agora te acenam em despedida emocionada, agradecida. Adeus, ano velho. Apesar de tudo, obrigado!

Agora é tempo de celebrar o que vem. Bem-vindo, Ano Novo! Que em teus dias a bondade arrebente os muros de crueldade e picuinha e se espalhe a todo canto. Que o trabalho seja franco, a comida seja farta e a saúde, exuberante! Que as águas transparentes da justiça lavem a lama que nos emporcalha. Que o amor nos toque fundo e nos leve mais alto.

Assim, voando sobre as cabeças rasteiras e as intenções daninhas, chegaremos sãos e salvos até o ano seguinte, e o outro, o outro, o outro e tantos outros mais até quando Deus nos permitir. E que seja assim para sempre.
Adeus, ano velho. Feliz Ano Novo!!








http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.