Se eu pudesse te dar um só conselho que resumisse tudo o que uma pessoa pode procurar num amor, seria esse: busque alguém que sinta a música. Não precisa ser um exímio violinista, nem conhecer bandas da República Tcheca. Mas sentir a música, se entregar para a música, viver a música.

Alguém que, ao apertar o play no rádio do carro veja, sem a menor dúvida, o volante se transformar numa bateria que Mike Portnoy nenhum botaria defeito. Ou então, que faça surgir no capô um público alucinado pela sua voz. Um amor que treine a presença de palco no banco do carro, e não ligue para o motorista do veículo ao lado a gargalhar.Afinal de contas, o seu amor tem pena de quem não sabe o que é sentir a música.

Um amor que cante. Desafinado ou com voz de barítono. Ney Matogrosso ou Iron Maiden. Até ciranda de roda vale. Mas não abra mão que o seu amor cante. Quem canta espanta seus males, quem canta transborda. Cante com ele a bossa nova do supermercado e, se de repente rolar um som animado por lá, role até uma dancinha no corredor entre as maioneses e as batatas palhas.

Um amor que não tenha vergonha de te tirar pra dançar sem saber passos arrojados, porque entende que dois pra lá e dois pra cá tem o seu valor quando servem para sentir a música dançando com quem a gente ama. Que não tenha medo de ser feminino demais porque sabe que a música transcende gêneros, que não tenha vergonha de dançar de cueca em frente à geladeira quando aquele compasso pede.

Alguém que feche os olhos quando um acorde toca fundo na alma porque quer anular a visão para ouvir melhor. Que deixe o pêlo arrepiar quando o melhor momento da atuação de um ator encontra o ponto alto da trilha sonora. Que transforme controle remoto, cabo de vassoura, garrafa d’água ou tudo o que encontrar pela frente num microfone.

Um amor que faça “shhhh” quando está tocando uma música bonita na trilha sonora da novela – que, tudo bem, vai, ele pode odiar, mas sabe valorizar a música que está tocando. Alguém que não se importe em estar num baile funk, numa festa indie, num samba de escola ou numa apresentação da sinfônica desde que por lá tenha música.

Não importa se ele não sabe o compositor ou confunde Baden Powell com Vinícius de Morais. O que importa é que quando ele escuta Samba da Bênção e ouve “a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser tão triste, não”, ele sinta aquilo de verdade e sorria.

Procure um amor que sinta a música. Porque quem vive como se fosse uma canção, pode até não te fazer feliz pra sempre, mas vai te fazer feliz de verdade.








É jornalista e trabalha com assessoria de imprensa.