Não será possível entender o perdão se não conhecermos o que gerou a necessidade de perdoar. Daí estudarmos a ofensa, pois é dela que se origina a mágoa, essa dor moral de decepção que se apodera de quem foi alvo de atitude indelicada ou desrespeitosa. Ou, pior ainda, do nascedouro do ódio.
O ódio advém da paz perdida pela ofensa recebida, pela ingratidão sofrida. Do latim od?um, é um sentimento negativo em que se deseja mal à pessoa ou objeto odiado. O ódio está relacionado com a inimizade, com a repulsão e com a mágoa que é penugem dele. É moléstia que envenena o espírito e desgasta as forças do corpo.
É necessário, para nossa própria paz, a nossa postura positiva ante quaisquer ofensas para que a mágoa, ou o ódio, não se assenhorem de nós e se sedimentem, decompondo-se em rancor, transformando-nos em seres acres, fazendo-nos perder o viver.
Diz o dicionário: “Ofensa é afirmação feita por alguém em detrimento das qualidades ou características de outrem; calúnia; xingamento; ferimento moral”. Contudo, postando-nos em reflexão, assenhora-se de nós a pergunta: o que é a ofensa senão o orgulho ferido? Logo, sob esse pensar, passamos a entender Gandhi quando disse: “Nunca ninguém me ofendeu¹” . Ele tornou-se inofendível.
Se a ofensa é o orgulho ferido, então o que é orgulho?
Questiona-se nesse estudo o orgulho não como o cálice da dignidade pessoal e de sua preservação como a altivez ou brio. Fala-se do orgulho como o destrutivo sentimento pela admiração excessiva de si próprio, soberba. Ferindo-o tem-se o ultraje e, no passado, duelou-se por ele.
Ao ofendido restam três saídas: martirizar-se pelo rancor, vingar-se ou perdoar o ofensor.
Existe outro tipo de perdão necessário de estudo, é o perdão da culpa.
Perdoar a si mesmo é de importância vital. O complexo de culpa, o remorso, oriundos da recusa em se perdoar irá ferir a outros também. Se, havendo culpa, a pessoa não perdoar a si, então ela irá punir-se se negando à evolução, estará aprisionada ao dolo cometido, talvez deprimido. E se o orgulho falar alto, então, não será capaz de pedir que a perdoem se para com outrem houver cometido erro.
Quanto mais a si se negar perdão, menos o indivíduo terá a doar, estará se aguilhoando em um pelourinho invisível da culpabilidade. Quanto menos doar, menos poderá beneficiar a quem quer que seja. Há um benefício coletivo quando a pessoa a si perdoa. O sentimento de culpa é como uma sombra a turvar a visão.
Pedro, aproximando-se do mestre, perguntou: “Até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?”.
Como resposta obteve que não até sete; mas, até setenta vezes sete. Ou seja, infinitamente.
Passemos a matutar sobre alguns ensinamentos:
1. Segundo a filosofia do yoga, o perdão é um dos caminhos do dever. É uma virtude que abre a porta para a luz. É uma bênção tanto para quem recebe como para quem concede.
2. Em Salmos 86:5 tem-se “Pois tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para todos os que te invocam”.
3. A adúltera após ser apresentada, sob a acusação, ao divino instrutor teve dele como resposta final: “Vai-te, e não peques mais”.
4. E, como um grande final, estuda-se a parábola sobre filho mais moço, identificado comumente como filho pródigo, que o pai, em júbilo, aceitou de volta.
Em um, vê-se o dever e a bênção, em dois temos a benignidade pelo perdão, em três deu-se nova oportunidade e em quatro a aceitação do recomeço.
O ensinamento sobre o que é perdão elucidou-se nesses quatro itens. O inofendível é capaz de perdoar indefinidamente, uma vez que perdoar é dar, a quem errou para conosco, a oportunidade de repetir a mesma experiência tantas vezes quantas necessárias até que acerte. Ou seja, setenta vezes sete.
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¹Mahatma Gandhi: Idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do princípio da não agressão (“Mahatma”, do sânscrito, “A Grande Alma“).
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