Eu sou ruim mesmo de me afastar. Fugir do que tenta me incomodar. Afinal, fugir para onde, se tudo vem junto dentro de mim… sem pressa de me deixar?

Queria fugir, ainda que por um breve instante…

Se fosse possível fugir de mim mesmo, nem que fosse por um instante. Sumir dessa angústia no peito aonde nasce esse ímpeto de sair correndo para bem longe de quem eu sou, para ver se a ansiedade diminui e, quem sabe, encontrar um lugar onde eu possa me esconder dos meus arrependimentos, meus erros, das pessoas que feri e de tudo aquilo que faço por livre e espontânea vontade, mas me detesto por isso.

Se fosse possível abandonar quem sou por um instante e deixar para trás tudo aquilo que eu gostaria de ser, mas nunca fui. Simplesmente amontoar o tanto de sonhos que nunca alcancei, todas as pessoas que amei, mas que brincaram com meu coração junto com os todos os meus medos, as frustrações, as despedidas, os caminhos que fui forçado a seguir pelas desventuras da vida. E deixá-los ali ao meu lado enquanto eu sumo de mim mesmo.

Se fosse possível mais do que cavar um buraco para me enfiar, deixar toda a vergonha e humilhação que já passei nessa vida enterrados em algum lugar que eu nunca mais pudesse ter acesso. No mesmo buraco, depositar todas dificuldades, as rasteiras que já levei nesse mundo e as pessoas que deliberadamente me fizeram algum mal. E jogar sobre eles as traições, as mentiras e os golpes antes que a terra os apague da existência para sempre.

Se fosse possível correr mais rápido que as dores por tudo aquilo que me foi roubado. E tivesse mais fôlego que a tristeza, a mesma que insiste em me pegar desprecavido e me derruba em um chão de lágrimas. Se pudesse eu voar para onde as mágoas não possam me alcançar e vencesse essa corrida contra todos os meus traumas nem que fosse por apenas um segundo, mas que fosse suficiente para que os desgostos da vida não me tocassem nunca mais.

Por que, tem vezes que a gente cansa de ser o que é. De se sentir culpado, inadequado. De insistentemente falhar, com a gente, com os outros. Fica exausto por manter as mesmas atitudes, repetir erros ou levar as fortes pancadas da vida. Cansa, sim, se achar estranho enquanto tudo que a gente deseja é se sentir especial. Então, olhamos no espelho a espera de que a nossa imagem fique ali parada, intacta, enquanto saímos em disparada para bem longe de o que significa ser quem se é.

Mas se fosse possível deixar de ser quem se é, deixaríamos para trás também todas as maravilhas que temos dentro da gente. Tudo de belo que já fizemos nesse mundo. Os aprendizados e o crescimento. O sonhos que ainda vamos realizar. As alegrias que ainda viveremos. E todos os corações que tocamos. Os amores que temos e, ainda, os anjos que nos acompanham.

Por isso, quando você se sentir querendo fugir de si, é hora de olhar na cara da infelicidade e dizer: Me solte! Chega! Fim da linha! Agora eu vou comigo e quem fica para trás é você! Então, você agarra ela com as duas mãos e arranca de dentro do peito. Arremessa essa vida vil para bem longe a favor da ventania que a arrasta para o nunca mais enquanto você faz as pazes com o que queria esquecer.

Assim, com o peito leve, você corre livre na praia com um sorriso no rosto, lágrima nos olhos e os braços bem abertos em direção a pessoa mais extraordinária que conhece: a melhor versão de você mesmo! E, nesse abraço consigo mesmo, acontece o encontro mais lindo da sua vida.








"Luciano Cazz é publicitário, ator, roteirista e autor do livro A TEMPESTADE DEPOIS DO ARCO-ÍRIS." Quer adquirir o livro? Clique no link que está aí em cima! E boa leitura!